Os mundanos, em sua estupidez, julgam que os servos de Deus morrem tristes e descontentes como eles, mas se enganam. Deus sabe consolar seus filhos na última hora e faz com que eles experimentem certa delícia no meio das angústias da morte, um antegozo do paraíso.
Como aqueles que morrem em pecado, já em seu leito de morte sofrem penas infernais, remorsos, temor, desespero, assim os santos, já antes da morte, começam a gozar daquela paz, que será sua herança na eternidade, por meio de repetidos atos de amor e pelo desejo e esperança da breve posse de Deus. Para os santos, a morte é antes uma recompensa do que um castigo.
O Padre Suárez experimentou uma tal paz e sossego na sua última hora que exclamou ao morrer: "Nunca pensei que morrer fosse tão doce". Quando o Cardeal Fisher caminhava para a decaptação, revestiu-se com suas melhores vestes, dizendo que ia para o casamento. Ao avistar o instrumento de sua morte, atirou fora seu bastão, exclamando: "Andai ligeiro, pés meus, andai ligeiro, pois já não estamos muito longe do céu". Depois, cantou em agradecimento do martírio e, cheio de alegria, entregou sua cabeça à espada do carrasco.
O que mais consola uma pessoa que ama a Deus, ao ser anunciada sua morte, é o pensamento de que em breve estará livre de tantos perigos de ofender a Deus, de tantas inquietações de consciência, de tantas tentações do demônio. A vida presente é uma guerra contínua com o inferno, na qual toda hora corremos o perigo de perder a Deus e a nossa alma. Santo Ambrósio diz que na terra só caminhamos em cima de armadilhas, em que nossos inimigos tentam nos roubar a graça divina. Santa Teresa se sentia consolada todas as vezes que ouvia o relógio dar horas, visto ter passado mais uma hora de combate. Por esse mesmo motivo, alegravam-se os santos diante da notícia de sua morte próxima: nisso viam o fim de suas provações e perigos e o momento feliz da certeza de nunca mais perderem a Deus. "Alegrai-vos comigo, dizia ao morrer Santa Catarina de Sena, alegrai-vos comigo por deixar esta terra de tribulações e me dirigir à pátria da paz".
Com que ansiedade uma pessoa deseja sair de uma casa cujas paredes ameaçam desabar. Pois bem, aqui neste mundo uma desgraça horrível nos ameaça a toda hora: o mundo, o inferno, as paixões, nossos sentidos revoltosos, tudo nos quer induzir ao pecado e nos lançar na morte eterna. "Quem me livrará desse corpo de morte?", pergunta o Apóstolo Paulo.
Para uma alma, é um grande favor quando Deus a chama em estado de graça, tirando-a deste mundo, onde poderia mudar de atitude e perder a amizade divina. Todo aquele que aqui vive em união com Deus é feliz. Mas como um navio, na expressão de Santo Ambrósio, só está realmente seguro quando entrou no porto e escapou da tempestade, assim também uma alma só se poderá julgar feliz quando deixar esta vida em estado de graça. Se o navegante se julga feliz ao chegar ao destino de sua viagem, depois de superar grandes perigos, quanto mais feliz se julgará aquele que em poucos minutos se verá seguro, na posse de sua eterna felicidade.
Por Santo Afonso Maria de Ligório.