Esta semana mais uma criança foi atingida por bala perdida e morreu. No ano passado foram várias as crianças vítimas deste tipo de bala! Pelos índices de eficácia que apresenta, estas balas cumprem o que prometem: se não ferem gravemente, matam! Afinal, estes são os objetivos de qualquer tipo de bala disparada por revolver, metralhadora, espingarda ou fuzil. Não entendendo por que deram este codinome às balas que ferem e matam inocentes. Por isso, minha indignação inquieta obriga-me a refletir sobre o tema.

Em minha opinião, de leigo completo em armas e munições, bala perdida é aquela que o dono não sabe onde ela se encontra: se caiu do cinturão, se foi esquecida em algum canto ou se foi levada sem aviso. Se no breve tempo não for recuperada, então se dá como perdida. Já a bala saída de qualquer tipo de arma não, pois carrega em seu bojo, além da pólvora, a intenção objetiva de ferir ou matar. Não importa quem apertou o gatilho, se policial ou bandido. Se ela mata ou fere, inocente ou não, a bala cumpriu com êxito o seu papel. Entendo, por esta razão, que não pode ser reconhecida como perdida. Afinal, atrás de toda bala disparada por arma de fogo tem sempre um atirador, que tem que ser reconhecido e responsabilizado. Por esta razão, a meu ver, não existe bala perdida, mas sim atirador desconhecido.

O termo “bala perdida” normaliza um crime grave e serve como anestésico para a dor que promove na Opinião Pública, pois o crédito deste absurdo, não raro impune, é atribuído ao acaso ou a falta de sorte da vítima, quando não à própria vítima, que imprudentemente se encontrava no caminho em que a bala trafegava. As balas denominadas perdidas são percebidas por muitos como filhas da impunidade, que serve de guarida para a irresponsabilidade.

Reitero, não sou especialista em guerra, que é o que se trava no Brasil, porém entendo que ninguém pode entrar uma favela disparando balas a esmo sem lembrar que pode ferir ou matar inocentes, ainda que estes espaços, aglomerado de moradias de milhares de famílias, sirvam por vezes de refúgio para alguns foras da lei. Urge que se elaborem estratégias eficazes e menos letais para combater os criminosos que se instalam nestes lugares, até mesmo para a proteção dos policiais - nem sempre bem-preparados - enviados para estes campos de batalha.

Recuso-me a aceitar o conformismo oferecido pelo termo bala perdida, quero seguir me indignando e esbravejando com o termo atirador desconhecido, pois até prova em contrário, este é um assassino que as autoridades competentes precisam reconhecer e punir conforme dos ditames da lei.