Ouvir é o mesmo que escutar? Quantas conversas íntimas falham por falta de verdadeira atenção e empatia? Saberemos nós ouvir quem amamos ou estamos apenas à espera da nossa vez de falar?
Nesta conversa, o médico psiquiatra Júlio Machado Vaz – uma das vozes pioneiras em Portugal a falar abertamente sobre relações e sexualidade – ensina-nos a importância de praticar a escuta ativa e a empatia na comunicação íntima. Com décadas de experiência em consultório e programas de rádio, Júlio partilha histórias e reflexões sobre como o silêncio pode valer mais que mil conselhos, como a empatia constrói confiança e por que ouvir o outro sem julgar é fundamental para relacionamentos saudáveis. Um episódio profundo que nos faz repensar a maneira como comunicamos nas esferas mais pessoais. Como praticar a arte da escuta? Júlio Machado Vaz
Como praticar a arte da escuta? Júlio Machado Vaz
Começamos esta série de edições de verão com uma das conversas mais serenas e marcantes que passaram por este podcast.
Uma conversa que merece ser ouvida devagar. Com tempo. E, se possível, com o coração aberto.
Júlio Machado Vaz não precisa de apresentações — mas talvez precise de ser escutado mais vezes.
Porque neste episódio falámos da escuta como quem fala do essencial.
De como ouvir verdadeiramente alguém pode ser um ato de amor.
De como o silêncio, quando bem habitado, pode dizer mais do que mil conselhos.
E de como a presença, a empatia e o não julgamento são ingredientes raros numa sociedade que se habituou a falar muito… e a escutar pouco.
O Júlio tem essa capacidade rara de pensar com calma, de responder com cuidado e de transformar a complexidade em linguagem clara — mas nunca superficial.
Falámos de relações, de comunicação entre pais e filhos, de terapia, de rádio, de silêncio.
E da importância de criar espaço para que o outro se revele — sem medo.
Reeditamos este episódio agora, porque o verão é talvez o momento ideal para o escutar outra vez.
Quando estamos fora do ritmo habitual, quando temos um pouco mais de disponibilidade para parar… e ouvir de verdade.
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Ora, vivam bem vindos à série de verão do pergunta simples, onde revisitamos as conversas gravadas nos últimos 12 meses neste episódio e vamos aprender a praticar a arte da escuta com Júlio Machado Vaz.
Começamos esta série de edições de verão com uma das conversas mais serenas e marcantes que passaram por este podcast, uma conversa que merece ser ouvida devagar, com tempo e, se possível, com o coração aberto.
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Júlio Machado Vaz não precisa de Apresentações, mas talvez precise de ser escutado mais vezes, porque neste episódio falamos da escuta como quem fala do essencial, de como ouvir verdadeiramente alguém pode ser um ato de amor, de como o silêncio, quando bem habitado, pode dizer mais do que 1000 concelhos e de como a presença, a empatia e o não julgamento são ingredientes raros numa sociedade que se habituou a falar muito e a escutar pouco.
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Júlio Machado Vaz tem essa capacidade rara de pensar com calma, de responder com cuidado e de transformar a complexidade em linguagem clara, mas nunca superficial.
Falamos de relações de comunicação entre Pais e filhos, de terapia, de rád
io, de silêncio e da importância de criar espaço para que o outro se revele sem medos.
1:25
Realizamos este episódio agora porque o verão é talvez o momento ideal para escutar outra vez ou pela primeira vez, se for caso disso.
Como estamos fora do ritmo habitual, como temos tempo um pouco mais de tempo e da disponibilidade para parar e ouvir de verdade este e outros episódios, a pergunta simples podem ser ouvidos em qualquer plataforma de podcast também vistos no YouTube.
1:48
Os links diretos estão todos em perguntasimples.com.
Subscreve o canal.
Se ainda não o fizeste, deixa o teu comentário e partilha este episódio com alguém a quem gostavas de saber escutar melhor, porque às vezes, tudo começa por aí.
Parar.
E ouvir, viva professora, olá, é muito fácil apresentá lo, um médico psiquiatra, professor de antropologia médica, humanista.
2:15
Influenciadora tem quartamento.
Não, não, não, não, não sou, não sou.
Eu IA sugerir uma coisa muito mais simples, que é dono da casa.
Dono da casa?
Você está em minha casa?
Obrigado por me receber em primeiro lugar.
Que é com todo o prazer, é?
É uma, é uma honra.
Ainda por cima, estávamos aqui AA conversar.
Há bocadinho que eu estava de de viagem, vindo do do do alto Minho, de Viana do castelo, de de carreço e primeira notícia do dia, escreveu lá um livro.
2:40
Escrevi o primeiro livro, sim, o primeiro livro, o sexo dos Anjos.
Não totalmente, mas o porque, o sexo, os Anjos?
Bem, nós estamos a falar de uma.
Nós estamos a falar de uma coisa que tem 30 anos, não é?
2:58
Portanto, há muita pessoa que está a ouvir que não faz a mínima ideia do que eu estou a falar.
Que Júlio era esse de há 30 anos?
Era o Júlio que fez com o Aurélio Gomes, com o Zé Gabriel, o sexo dos Anjos de 89. 95 se bem me lembro, não é?
Rádio Nova é 11.
3:13
Programa mítico da da rádio portuguesa.
Exato.
Onde se falava da da instentável vez a do ser do Milan kondera.
Foi o primeiro livro que se falou e foi o livro que me marcou na realidade, o início do sexo dos Anjos.
Porque o que o Aurélio me propôs?
3:30
O Aurélio tinha assistido a um dos meus cursos de sexualidade em Biomédicas.
O Aurélio era era finalista de psicologia.
E o que o Aurélio me propôs foi muito respeitável, o programa sobre educação sexual.
Pronto.
Eu gosto sempre de dizer não é que eu chegava lá e tentava o meu melhor para adormecer os ouvintes, porque dizia, hoje vamos falar de determinada disfunção sexual.
3:56
Pronto, o Aurélio punha se em automático, coitado, para maturar, fazia as perguntas certas, como é óbvio, não é?
Eu lá respondia, e um dia.
O Aurélio devia estar já pelos cabelos e eu entrei para fazer o programa e levava a insustentável vezes a torcer debaixo do braço.
4:14
E o Aurélio disse, anda ali com deram, disse anda, está a gostar.
E eu disse, estou.
E aí começou o sexo anjo nunca mais.
Eu entrei com um tema de sexologia pura e dura e a partir daí era sobre os filmes, os livros, associação livre, pronto.
4:32
A partir do sexo dos Anjos, há há um há um psiquiatra antes do sexo dos Anjos e um psiquiatra depois.
Não.
Psiquiatra, seguramente não.
Oo que o sexo dos Anjos contribuiu porque o sexualidade teve uma quota, parte de de responsabilidade muito maior.
4:52
Isso depois é a televisão, é a.
Televisão com o seu poder brutal, isso aí nasceu o monstro do sexólogo.
Naquela altura, uma espécie de sexóloga oficial do regime, digamos assim, o que teve pontos muito agradáveis.
As pessoas trataram me com extraordinária gentileza.
5:10
Teve pontos agradáveis, como, por exemplo, o programa ser censurado, mas o que eu não estava preparado era para aquele tipo de choque mediático, não é?
Não sei se está de acordo comigo, mas a rádio é um clube de fãs.
É uma delícia, é a voz, é o risco, porque.
5:27
É uma família.
Sob muitos aspectos, quando quando já estão a ouvir rádio, ao fim de 10 segundos, se o que houve não lhe interessa, muda.
Vai se embora?
Ou então não tem bom senso nenhum, é masoquista na televisão, as pessoas podem distrair se com o décor.
5:46
Como é que ele está vestido?
Como é que aquela rapariga também está vestida, como é que eles estão em termos da idade, et cetera?
Há uma data de motivos de extração.
Que na rádio não existe.
Importante, mas há uma amplificação maior, porque agora?
Em termos de público?
6:01
A Liberdade de o que se pode dizer Na Na telefonia, na rádio, é diferente daquilo que se pode dizer na televisão.
Comigo foi como?
É que foi, como é que foi?
Como é que foi?
Esse episódio comigo?
Foi.
Quer dizer, estamos na era hoje é que estamos mesmo na era do politicamente correto, onde, onde uma palavra que que seja colocada na, na, na, na casca de banana dá direito ao cancelamento, dá direito quase a uma perseguição digital.
6:26
Bom, naquela altura, a perseguição digital seria uma expressão de ficção científica.
Havia tecnologia, mas não aquilo que existe hoje.
Mas deixe me dar um exemplo, que eu me lembre, nunca houve um programa do sexo dos Anjos censurado.
6:45
Aliás, houve muitos programas do sexo dos Anjos que foram feitos em direto.
Como diria o senhor la palice, é difícil censurar o direito.
Está feito, está feito.
Está feito, está feito, porque o que acontecia era que eu vivia por cima da Rádio Nova.
7:02
Isso é que é um luxo.
É um desassossego.
Depende.
Satisfezer muito.
Não podia ser muito vizinho isso.
Para mim era um luxo e de vez em quando é.
Houve 2 fases.
Primeiro, sexo, anos era só à noite, eram.
E nós sempre achámos que era um programa de outubro no digamos assim.
7:20
Mas já lhe vou explicar como isso foi uma cura de humildade para nós.
E numa determinada altura e muito bem, a Rádio Nova disse, atenção, o programa vai passar também domingo, à hora do almoço.
E nós ficámos por morrer, dissemos, mas os discos que nós passamos, aquilo que falamos etcétera, aquilo é mesmo para os que estão pela noite de fora, uns a estudar, outros no fim do dia de trabalho.
7:45
Ainda por cima, se me permite mais nessa altura uma demonstração, eu gosto de acreditar que inconsciente misoginia.
Porque o programa à hora do almoço disparou em audiência feminina?
Portanto, os homens ouviam mais à noite, lá está e havia.
8:00
Muitas mulheres, mas à hora do almoço, meu caro amigo.
Democratizou se.
Quem é que normalmente está na cozinha?
Não é a pedalar naquela altura e hoje em dia, enfim, felizmente mitigado, mas não desapareceu.
Não havia podcasts, portanto, ouvia ou se ouvia em direto ou ou ou não, se.
8:17
Havia, havia pessoas que faziam o seguinte, gravavam, por exemplo, cassetes.
E mandavam para filhos, filhas, namorados, et cetera.
Estavam a estudar em Inglaterra.
Eu tenho cassetes.
Dessas pessoas me entregaram achando que eu IA ter prazer nisso.
Tu queres ver que Júlio Machado de Vaz é o homem que inventou o podcast?
8:36
Nem de perto, nem de longe.
Pronto.
EE.
Portanto, nunca houve, que eu me lembre censura No No sexo dos Anjos.
Em contrapartida, na televisão houve pelo menos 11 situação.
Em que, misteriosamente, uma parte de um programa desapareceu com uma extraordinária coincidência.
9:00
Era a parte em que o meu velho amigo doutor Afonso Albuquerque, estava a falar de homossexualidade e resolveu tirar da Manga das percentagens estimadas de homossexuais.
Pronto e disse qualquer coisa como 6%, 7% e tal.
9:16
E então, como estava em associação livre?
O que nós fazíamos todos foi.
Por ali fora.
Foi por ali fora e disse, suponhamos nós temos x deputados.
Se isto fosse automático, tantos seriam homossexuais.
Pronto, seguiu o programa Ponto Final.
Parágrafo.
9:31
E o editor do programa começou a fazer contas à vida.
Não sei quem foi, porque oficialmente foi um acidente.
Um acidente?
Muito circunscritos, porque na semana seguinte o Afonso telefonou, me furibundo e disse, eu não admito que me censure, eu não sabia do que é que ele estava a falar.
9:47
E fui perguntar, não é?
E então apareceu me uma vítima designada, que disse que tinha cometido um erro e que logo aquela parte é que tinha saído pronto.
Isso foi a primeira questão.
Depois o Carlos Cruz teve a delicadeza de me dizer, olhe, há pessoas que acham que o Júlio fala demasiado da influência de determinadas instituições.
10:17
Na área da sexualidade e menos de sexo por e duro.
Falo à vontade de sexo por e duro, mas as instituições deixam as em paz.
Eu não não me pesava na consciência ter dito fosse o que fosse, na minha opinião, ofensivo.
O que é facto é que depois eu fui buscar 11 episódio da bíblia para ilustrar uma questão erótica e na semana seguinte, tinha passado de um horário que eu nunca tinha pedido.
10:47
Eu sempre pensei que sexualidades fosse no segundo canal, mas não estava no primeiro canal e passei das 11 da noite no primeiro canal para a 1:30 da manhã no segundo canal, no horário de filme pornográfico ou qualquer coisa assim.
Portanto, foi escondido.
Foi completamente escondido.
Há muitas maneiras de censurar e isso foi pena.
11:04
Foi pena porque nós, porque o programa não era feito só por mim e era feito com muito gozo, nós recebíamos abaixo assinados de.
De dos liceus dos conselhos diretivos, et cetera, dizendo nós gravávamos o programa e discutíamo lo aqui, mas agora nunca se sabe a que horas é, é no canal, a horas terríveis, et cetera.
11:29
EE, nós já tínhamos que explicar, nós somos como nós que mandamos nisto, não é?
E, portanto, isso foi isso.
Foi um segundo episódio, mas há um episódio.
Olha, vou lhe dar, vou lhe dar um algo que penso que nunca disse em público. 11.
11:47
Jornal que eu sempre li, que continuo a ler, de quem sou, de qual sou subscritor, que é o expresso.
Um dia pediu para falar comigo e, com uma enorme gentileza, perguntou me se eu não queria coordenar 10 ou 12 fascículos sobre sexualidade.
12:04
Eu fiquei um bocado atrapalhado que aquilo iria dar uma trabalheira desgraçada.
Eu tinha que ir pedir aos especialistas, não é porque eu não.
Eu não gosto da de assumir aquele, aquele comportamento um bocado português que é, eu sei, um bocadinho de tudo.
12:24
E, portanto, fez de curador, fez de editora e fui.
À procura foi a sociedade portuguesa de sexologia clínica e disse, ó gente, propuseram nos isto, isto é algo que nos honra.
O expresso é o expresso.
Vamos à procura de temas, vamos à procura de ocupar este espaço na agenda.
12:41
E fizemos isso.
Deu muito trabalho.
Fizemos 12 fascículos que foram entregues ao expresso.
O expresso pagou religiosamente os 12 fascículos e cada um dos autores e os fascículos nunca foram publicados.
12:59
Ficaram.
Algures algures numa gaveta e é difícil de acreditar.
Que um jornal encomende e pague qualquer coisa para depois não publicar.
Portanto, alguém considerou que aquilo eventualmente poderia atentar contra a moralidade dos portugueses.
13:15
Como é que reage um psiquiatra?
Perguntaria, como é que se sentiu quando acontecem coisas dessas?
Como é que o Júlio Machado Vaz Hum, gera as suas próprias neuras?
Mal.
Muitas vezes é um ser humano, mas outro sou, sou eu.
13:33
Espero bem que sim, mas não sei.
Há uma, há uma velha história Na Na psiquiatria que os psiquiatras encontram se e dizem tu estás bem e eu, portanto, eu posso fazer esse jogo consigo também, não é?
O Jorge está com bom aspeto, está bem e eu não é.
Mas aí eu devo lhe dizer, eu não sou.
13:53
Há um amigo meu que diz, pois se não fosse a morte de estar mais perto, eu só via vantagens.
Eu não sou um pessimista quanto ao envelhecimento, e o envelhecimento nisso ajudou muito.
Tranquiliza.
Sim, pacifica muito.
Há coisas que que me poriam e que me puseram a trepar pelas paredes há 20 ou 30 anos atrás e que hoje em dia me fariam sorrir e seguir em frente.
14:18
Relativizar e deixar em.
Sim, porque nós reorganizamos as nossas prioridades.
Mesmo quando a desfeita isso?
Foi mais complicado porque eu andei a pedir desculpa a cada um dos autores, porque quem os tinha desencaminhado para trabalhar e trabalhar forte tinha sido eu, portanto, eu sentia me responsável.
14:39
EEE quando e quando quando se sente responsável, Júlio, por por por alguma coisa.
Essa esse ato de quase de contrição, de pedir desculpa, é uma coisa que que acontece normalmente ou há coisas que precisa de passar tempo para para perceber?
Cuidado, porque nós somos muito capazes de nos manipularmos a nós mesmos de uma forma gestral somos, somos.
15:02
Cegos ou ou fazemo lo mesmo de uma.
Forma deliberada, me muitas vezes inconsciente ou de uma forma deliberada e, portanto, eu não posso garantir que não haja situações em que eu não me engano, a mim mesmo para me desculpabilizar.
A única coisa que eu posso dizer é assim, se eu chego à conclusão que porque repara.
15:20
Há uma diferença entre palavras, por exemplo, uma coisa é responsabilidade, outra coisa é culpa.
Eu não, eu não tinha culpa nenhuma naquilo, mas eu tinha pedido às pessoas para colaborarem e elas tinham dado muro e, portanto, eu senti me na obrigação lhes pedir desculpa, é verdade.
15:36
Vamos viajar até ao consultório ainda, ainda continuam a haver pessoas.
Continuo 4 dias por semana.
Isso não é ritmo para alguém que podia estar agora se calhar a pensar em escrever mais livros, fazer mais isto.
Isto é uma escravidão.
15:52
Isto parece uma cabala, não é?
Porque, como sabe, e para mim é o grande prazer, porque eu apresentei aqui no Porto o Luís Osório escreveu o livro sobre o manuelzinho, o terrível professor Manuel sobrinho Simões.
EE houve alguns movimentos no sentido de, a seguir, avançar, eu.
16:14
E eu esquivei me não me não me estava a apetecer aquele tipo de formato.
Não é impossível que eu volte a escrever, mas têm razão.
Eu tenho pouco tempo, se calhar também não tenho tanta motivação como isso.
Mas eu tenho 74, vou para 75, faço 4 dias de consultório por semana e um dia de rádio, porque gravo 2 programas, o amor é e o wolfrens.
16:37
E mesmo para falar em se bem me lembro, doutor Almeida Santos gostava de citar essa frase.
Que é um bom improviso, dá muito trabalho a preparar.
Portanto, há que pensar, há que escrever umas notas, sei.
Lá o Tiago, o Miguel, manda um mail e dizem, me a mim é o Manuel.
16:57
Vocês gostariam de falar disto ou daquilo?
O Manuel diz, lá isto, nem pensar, ou eu digo disto, não sei nada, que é uma ótima razão para não falar.
Portanto, depois é preciso chegar a um acordo e nessa altura é preciso ir para os artigos, para os jornais, et cetera.
Não é o amor, é o amor.
É muito mais descontraído.
17:13
Primeiro lugar, é bom não esquecer que o Moret tem 20 anos.
Entre o António, entre a Ana Mesquita e entre Madre monzelle Inês.
Estamos em 20 anos.
E, portanto, aí a coisa é muito mais simples, quer dizer, e é, é imprevisível.
17:29
Imprevisível.
Porque um de nós lê qualquer coisa que lhe interessa, manda um mail ou outro e diz, se falássemos disto.
E a maior parte das vezes o atinge sem problemas.
Outras vezes o que acontece é, e se convidássemos a alguém?
17:45
A maior parte das vezes não há nenhum problema.
Quanto ao tipo de convidado, portanto, o amor é nesse sentido também.
Somos 2 que se conhecem há uma data de tempo.
É verdade que eu conheço o Manuel há há vai para 50 anos, mas somos 4 porque para nós, para mim e para o Manuel, o Tiago e o Miguel fazem parte.
18:06
Do do old frente e.
Portanto, é mais difícil de.
Portanto, 4 há sempre mais uma ideia mais e depois há uma coisa terrível no old frente que é compatibilizar as agendas de 4, enquanto eu e a Inês é religioso.
18:21
Porque aquilo já tenho 1 hora, já tenho um dia.
Quarta-feira àquela hora, tal, se houver, de vez em quando há uma impossibilidade e o outro avisa com uma semana de antecedência e adianta, se 1 hora ou bom, o old Friends é o caos absoluto, nós já gravámos à noite, porque não havia outra hipótese.
18:37
Pronto.
Então, mas as agendas estão assim tão complicadas?
Ouça se tiver preguiça de ir para a selva amazônica.
E, portanto, lhe apetecer.
Qualquer coisa de mais prosaico, próximo e fácil eu levo numa visita guiada à agenda do professor sobrinho Simões.
18:57
É caótica, é o causa.
Se eu sei que se até que mandasse lhe um e-mail depois ele responde, está a planear a sua vida lá para para junho do próximo ano ou para setembro do próximo ano.
Tudo não é pronto.
A minha é um bocado melhor, mas também não é propriamente famosa.
E depois nós temos 2 profissionais da água, que é o Tiago e o Miguel.
19:15
Veja por exemplo, basta o Miguel.
Passar dos noticiários da manhã para a tarde.
E já lá foi um bloco.
E é isto é uma reorganização total, porque o desgraçado levantou se às 5 e tal da manhã ou às 6.
E, portanto, chega a uma altura que até até um certo momento está a trabalhar.
19:34
A partir daí, coitado, passo o exagero, está quase em coma.
Portanto, é preciso levar essas coisas também em conta.
O que é que diria um psicanalista de 2 pessoas?
Eu não sou.
Psicanalista.
Eu sei, eu sei, mas um Freud desta vida que olhando para a agenda de 2 pessoas ou de uma pessoa que está aqui à minha frente, estabelecida, que já fez, que já fez muito na vida, que ainda precisa de ter uma agenda tão.
19:57
Tão complicado, em vez de fugir lá para para para camtelãs lá para para o sítio onde estão.
Sexta-feira já, lá estarei.
Isso é curioso, sabe porque, por exemplo, este ano Oo meu curso fez 50 anos e, portanto, houve as adequadas e inevitáveis festividades.
20:20
Aqui no Porto.
Aqui no Porto, sim.
EE, houve vários colegas meus que me disseram, tu ainda trabalhas?
EE, eu fiquei varado com a pergunta, porque para mim é muito complicado.
E aí o Manuel é é igual a mim ou pior para mim?
É muito complicado imaginar, mas não trabalhar significa isto, que a minha música e os meus livros não me ocupariam horas de puro de leite, seguramente.
20:44
É uma é uma necessidade ou é 11 pré programação quase?
EE é outra coisa, é que eu ainda tenho prazer em trabalhar.
Porque aquilo que eu faço, sobretudo psicoterapia, eu não consigo imaginar a ser feita como uma obrigação.
Como é que é um dia típico de não sei.
21:02
Aí varia a.
A hora dos a hora dos psis ainda tem 50 minutos.
A hora dos psis têm de 45 e 1 hora pronto.
Mas, por exemplo, a que horas?
Isso varia?
Eu gosto de funcionar de manhã, de maneira a meio da tarde estar livre.
21:19
Tenho colegas meus que é exatamente o oposto.
Isso também tem a ver com a organização dos dias, não é?
Mas há uma coisa que sempre me aconteceu, mas agora me acontece uma forma mais premente, diria eu, que é a minha profissão.
21:38
Antes de tudo, o resto é ouvir.
Como é que se ouvem pessoas?
Ainda estou a aprender.
Acho que sem mais do que sabia há 40 anos.
Mas deve haver aí umas estáticazinhas ou não.
OOO livro secreto de Júlio Machado Vaz como é a arte?
21:54
A arte da pergunta ou ou até a arte?
Disse arte da pergunta?
Não, eu estou a falar da escuta.
Arte da escuta.
Pois é, pois é.
É curioso, no sexo dos Anjos, eu escrevi que que a vida e a psiquiatria, que são a arte da distância.
EE continuo a acreditar nisso porque é que eu lhe disse que aqui há uma variação, porque eu sempre fui assim.
22:19
Mas hoje, como seria lógico, isso tornou se mais evidente.
Eu não consigo fazer mais que 6 consultas seguidas.
Depois há aqui há um cansaço.
Há um cansaço e eu eu posso estar lá.
Mas não estou.
22:36
Não está disponível.
Não estou disponível para a escuta, como acho que tenho a obrigação de estar.
Aquelas pessoas foram em busca de de ajuda, porque é que eu estou a dizer, no fundo, cada um é como é.
Eu tenho colegas meus que são capazes de fazer 10 ou 12 consultas, mas cada um de nós é diferente, pronto.
22:54
E essa essas consultas normalmente são consultas regulares, as pessoas voltam ao fim de algum tempo e faz um trabalho ao longo desse tempo.
Sim, sim, o que varia muito.
Há pessoas que vão uma vez por mês, há pessoas que vão de 15.
Em 15 dias se queixam.
Olhe, primeiro um ponto de ordem que é, eu não faço psiquiatria pesada, leio essas psicoses, et cetera.
23:18
Portanto, grande parte das vezes eu estou a falar com pessoas que se vão queixar, entre aspas, de maleitas psicológicas, muitas das quais já eu já passei por elas, por exemplo.
Isso é importante para se ter sentido Na Na pele.
Eu preferia não ter passado.
23:34
Mas já lá está mas.
Já que passei, tenho que admitir que às vezes não poucas.
Foi uma vantagem, nomeadamente o facto de eu ter passado por uma depressão.
Oo meu bom amigo Carlos Amaral dias dizia, eu aprendi muito com o meu AVC, mas dispensava o bem.
23:53
Eu eu cito isso para a minha depressão.
Eu aprendi muito.
Tendo estado deprimido, mas tinha dispensado a minha depressão.
Durou, durou quanto tempo esse?
Estive bastante em baixo, cerca de 3 anos. 3 anos?
24:09
Sim à volta dos 30.
Que é uma que é um tempo.
Isto foi a altura em que fui para o divã por necessidade, não é?
Porque às vezes, naquela altura, hoje em dia, creio que já não.
Mas naquela altura havia alguns de nós.
Todos nós temos o nosso narcisismo e alguns de nós iam para o divã, mas não diziam que precisavam, diziam que iam para aprender.
24:30
Era um charme, ficava bem.
Ficava bem.
Aliás, a psicanálise nessa altura estou disponível para que discordem de mim?
Eu acho que a psicanálise nessa altura tinha muito mais poder em Portugal do que tem hoje e, portanto, ser psicanalisado.
24:46
Podia contar até no futuro profissional das pessoas.
Eu não.
Eu disse sempre a toda a gente.
Eu fui para lá porque precisava.
A mim dói me e, portanto, estou.
Feito num 8, não é?
Aliás, com o meu patrão na altura, o Eurico Figueiredo, disse, sempre fizeste muito bem, foste para lá a 4 e saíste lá.
25:05
Pelo menos a 3 já foi melhor e, portanto, eu nunca deixo de expressar a minha gratidão pelo doutor Jaime milheiro, que é um bom amigo hoje em dia.
Faz parte da nossa, da nossa tertúlia na ordem dos médicos com o professor sobrinho Simões.
25:21
Com o doutor António lochara, et cetera, e que foi o meu psicanalista.
O que é que há tanto para dizer durante durante semanas ou meses de de conversa?
Há.
Sessões em que há um silêncio absoluto e eu garanto lhe que os psicanalistas não são muito os eiros e vezeiros de interromper o silêncio.
25:41
Deixam estar.
Deixam.
Mas isso estão atrás de nós.
É uma.
É uma profunda.
O divã é uma profunda solidão.
Portanto, estamos deitados.
Estamos sim é é curativo de Freud.
Ele está aqui na ele está aqui na França.
Nas costas ele está atrás, pronto.
Então, e o silêncio não dói às?
25:56
Pessoas que dói.
O silêncio, se quiserem, é das coisas mais fascinantes na minha profissão e na vida em geral, porque há todo o tipo de silêncio.
Há silêncios que são angustiantes, muito mais angustiantes que qualquer palavra.
26:15
E, por outro lado, há silêncios que se têm o conforto que nenhuma palavra pode dar.
Pode ser um silêncio com os com os nossos amigos mais próximos.
Esse é um silêncio bom, não é?
Em.
Que têm a sensação que tudo está certo.
Não, não são precisas palavras sequer.
E o outro silêncio é o silêncio de.
26:32
Eu não sei o que é que hei de dizer mais a esta pessoa que aqui está, eu até podia dizer qualquer coisa, mas estou aqui.
Está a falar do terapeuta?
Sim, sim, não, não estou.
Não estou a falar do do do do desgraçado que está no divã.
O desgraçado que está no divã muitas vezes tem dificuldade até em expressar aquilo que sente, basta dizer lhe isto.
26:55
Quando eu fui para psicanálise, ao fim de 3 meses, eu lembro me de comentar.
Com amigos, com a minha ex mulher, et cetera.
De comentário e dizer assim, mas isto é o masoquismo, isto é caro.
27:13
Eu estou lá há 3 meses e estou pior do que quando entrei, o que era verdade e estava pior.
Porquê?
Estava a mexer Na Na dor.
Estava a mexer em coisas.
Que para mim, estavam arrumadas da forma como convinha.
27:29
O que o Jorge há bocado estava a chamar a atenção.
Ou seja, eu fui para o divã e eu reconhecia que precisava fazer qualquer coisa.
Podia não ter feito aquilo, podia ter recorrido só a antidepressivos e não ter feito psicoterapia nenhuma.
Pronto, eu decidi que IA para psicanálico.
27:46
Pelo caminho mais difícil?
Não estou a dizer sequer isso, mas eu, eu, eu precisava de entender.
E pensava, não tenho nada contra as pastilhas.
Se melhorarem, ótimo, mas isso não basta.
Eu tenho que entender o que se está a passar comigo.
Pronto, e fui, mas fui e não sou o único com uma perspetiva do que estava a acontecer na minha vida, que era assim.
28:13
Os astros estão alinhados contra mim.
Há muitas pessoas que cujo o divertimento é fazer a minha vida no inferno.
Eu sou um tipo azarado, percebe uma vítima.
Estão me a lixar a minha vida.
Exato.
E eu e eu sou a vítima inocente que aqui está que não tenho nenhuma quota parte, nenhuma responsabilidade nesta conversa.
28:34
Ao fim de 3 meses, eu tinha percebido que não estou a dizer que à minha volta fossem Todos os Santos.
Não estou a dizer que não tivesse havido aqui, acolá, um passo em falso.
Sem responsabilidade nenhuma, mas que basicamente eu tinha metido num poço pelo meu pé e dentro do poço ainda tinha mergulhado na água e ainda estava mais fundo.
28:59
O que é irritante, que é você está a tentar sentir se melhor, pelo contrário, está se a sentir pior.
Aquilo é caro.
Você pelo menos tenta rir se quando diz à sua mulher nessa altura.
Não, nós ao fim de semana agora só podemos ir a tasquinhos que não há dinheiro para restaurantes bons, et cetera.
29:19
Uma pessoa diz, mas o que é isto?
Então, e porque é que alguém se submete a esse?
Há quem vem embora.
Sobrevivente inútil, aparentemente, não é.
Não foi inútil.
Não foi?
Não foi porque depois eu comecei a ir ao osso e a começar a falar verdadeiramente de coisas, algumas das quais eu nem sequer pressentia.
29:39
E a pouco e pouco eu fui.
Voltando à superfície.
Mas isso parece me uma espécie de arqueologia de de de do da nossa mente, da maneira como.
Não quer ser injusto, porque aplicar a palavra arqueologia pode reenviar nos para uma visão da psicanálise de tudo isto tem a ver com a infância e ficamos completamente marcados.
30:03
E depois?
Tudo que acontece não tem.
Importância nenhuma e não é assim.
Portanto, nós nós estamos sempre a reconstruir nos.
EEA, ver o que é que, como é que estamos, como é que nos sentimos, como é que.
Sei lá, vou lhe dar um exemplo.
A vida, inevitavelmente, é um trajeto cheio de lutos, de lutos, de gente que morre e de lutos que gente que não morre.
30:23
O que não quer dizer que sejam muito mais fáceis, às vezes são até mais difíceis.
Pessoas que nós perdemos emocionalmente.
Gente que perdemos, que nos desiludiu ou quem nos desiludimos, amizades que se fazem, et cetera, e tudo isso são lutos.
Pois as dificuldades normais da nossa vida, que não é propriamente simples e isso significa que muitas vezes nós descobrimos que temos padrões de comportamento para lidar com a frustração.
30:55
Para lidar com o desejo, et cetera, que.
Aprendemos isso aonde?
Onde é que?
Aprendemos isso com com os outros, com a maneira como crescemos, como vimos os outros funcionar.
Aprendemos isso com os nossos próprios comportamentos, que às vezes, quando éramos putos, permitam me a expressão eram maneiras adequadas de reagir.
31:16
Mas não aos 20 e tal, aos 100 e tal anos.
Portanto, voltamos à infância, lá está.
Às às não é voltar sequer, às vezes é manter padrões de comportamento.
Que na criança são mecanismos de defesa quase inevitáveis.
AA criança vive numa floresta, de joelhos, não é?
31:34
Nós somos assim e a criança está aqui e a criança tem as suas teorias quanto ao que acontece, porque é que acontece?
A criança tem uma intuição brutal.
A criança não sabe muitas vezes o que está a acontecer, mas sabe muitas vezes antes de nós que as coisas não estão bem.
31:53
E tem que se adaptar e manipula.
Meu querido amigo Octávio Cunha dizia aos pais quando eles apareciam com com os bebés, agora apareceu lá em vossa casa o maior manipulador da história.
E é verdade que as crianças têm as suas armas também.
32:09
E de vez em quando, isto de uma forma simplista, quero deixá lo bem claro, de vez em quando nós descobrimos já adultos que temos formas de funcionar, que são formas infantis.
E que não e que não ultrapassamos.
E que não funcionam depois.
E já não.
Funcionam, já não funcionam.
32:25
E que nós ficamos muito frustrados com aquilo.
E a maneira mais simples é, consciente ou inconscientemente, culpar os outros, culpar Oo boletim meteorológico, culpar o que quiser.
Não é, portanto, em mim, o facto de, numa determinada altura, de uma forma simbólica, naquele.
32:43
Naquele divã, com aquele quadro que eu nunca esquecerei à frente, que estava lá à frente.
Exato.
Mas fazer daquele quadro um espelho e dizer, mas espera aí, Júlia, há aqui coisas que foste tu, que escolheste e, portanto, tens que assumir a responsabilidade e tens que mudar comportamentos.
33:03
Porque se continuares com o mesmo tipo de comportamentos, os resultados vão ser os mesmos.
Nós já temos essa nostalgia, não é eu?
Faço as mesmas coisas, mas o resultado vai ser diferente, mas não vai.
Mas as pessoas mudam intrinsecamente, as pessoas mudam.
33:20
Foi fácil.
Agora há mudanças e mudanças, sei lá, há bocado.
Eu disse lhe e isso foi, penso eu, qualquer coisa de que foi acontecendo.
Hum, eu estava lhe a dizer há 20 ou 30 anos.
Havia coisas que para mim podiam ter muita importância e que hoje.
33:39
Pronto, eu não me lembraria no dia seguinte.
Isso é um tipo de mudança.
Tem a ver com o com o decorrer da vida, com nós desejavelmente.
Isto pode ser, como é que se diz, wishful think, não é?
Mas nós adquirimos alguma sageza, et cetera.
Pronto.
33:55
A experiência a.
Experiência, outras vezes o mudamos de outras formas.
Suponham uma relação, uma relação.
A palavra não é muito agradável de empregar, mas uma relação que se projeta no futuro.
E eu não gosto nada de de certas vozes que diz, Ah, não, hoje em dia isto é tudo terrivelmente superficial.
34:18
É hoje uma pessoa amanhã ou outra e tal.
Não, não é isso que eu encontro no consultor.
Portanto, há pessoas que as pessoas.
Continuam com a nostalgia que as relações dêem certo.
E investem nisso e.
Investem nisso, pronto, mas muitas vezes nós temos que assumir que uma relação que ainda por cima se projeta no futuro é uma negociação permanente.
34:39
E que há visões diferentes daquilo do caminho.
Pronto.
Se há visões diferentes, é preciso ser negociado um caminho.
Se quisermos voltar à matemática, que seja uma biceatriz, ou então aquela relação rigidifica.
E há alguém que domina a relação e alguém que a dominar.
34:58
Isto não é uma não é uma boa ideia, normalmente porque relações rígidas.
Quando quebram, quebram mesmo.
Até e as outras do outro lado que são tão competitivas que que que que podem estar, não?
Estou a falar das outras que são adaptáveis.
As adaptáveis.
35:14
Em que, por exemplo, veja, nós estamos.
Isto é muito importante para a medicina.
A medicina viveu e bem um paradigma, que era o paradigma das doenças infecciosas, ou seja, aparecia uma doença.
35:32
Nós identificávamos, nós, um psiquiatra, a dizer isto.
Como compreendo bom, nós identificávamos o bichinho, escolhíamos a droga que matava o bichinho.
A droga matava o bichinho.
Os sintomas desapareciam.
Ou então o bicho era demasiado forte e o e o bichinho matava OE?
Íamos nós pronto.
35:47
E isso acontece ainda, mas pronto.
Os antibióticos são um exemplo típico disso.
Hoje, com o aumento de longevidade, nós estamos num paradigma que não substitui este.
Tivemos uma cura de humildade com COVID.
36:04
A pandemia, um pequeno vírus que nos deu cabo da vida durante 2 anos.
Pelo menos, mas é uma sociedade que, acima de tudo, tem vindo a deparar se com as doenças crónicas, aquilo que o povo, quando eu fazia consulta em matosinhos e em Gaia, recém formado, me dizia, ó senhor, doutor, estas só com banhos de Terra fria ou.
36:28
Não matam umas moem.
E é exatamente isso, são doenças crónicas.
As dores nas cruzes essas.
Coisas todas, não é que são ainda por cima.
As maletas da idade.
As maletas de idade que são, ainda por cima, muito ameaçadoras para o narcisismo do do técnico de saúde.
Porque ele tapa um buraco ali e no mês seguinte a pessoa vem a queixar se de outra coisa e a pessoa de repente diz, mas eu não consigo verdadeiramente curar, pois não, e isto?
36:56
É o paradigma do cuidar.
Mas isso é uma ilusão dos médicos acharem que que conseguem curar tudo, não é?
E salvar toda a gente a todo o momento, ou não?
Até certo ponto, sim, EE digo lhe isso com pena.
E sabe porquê isto não é um alijado?
37:12
Responsabilidades, porque eu próprio fui professor.
Dentropologia médica não é tentar perceber como é que os médicos funcionam ao longo da história e do é.
Que a formação dos médicos foi sempre muito feita no paradigma do.
Curar.
Eu vou lá, eu intervenho eu.
37:28
Rezato o que às vezes transformava Oo corpo e a mente também, mas sobretudo o corpo do doente, num campo de Batalha entre os médicos e a morte ou AA deformidade, ou fosse o que fosse, e aqui esquece se quais a pessoa.
37:51
Fazendo tudo o que há para fazer.
É nós, o os médicos.
E a medicina não luta contra a doença.
A medicina debruça se sobre uma pessoa que está doente.
Isto pode parecer sinónimo, mas não é verdade porque, por exemplo, Nenhum de Nós está doente da mesma maneira, com a mesma doença.
38:10
Portanto, não é a doença, é a pessoa que está pessoa.
Que está doente, ou seja, a doença x se nós pensarmos nela como a aprendemos nos velhos calhamaços.
Corremos o risco de nos metermos num beco Sem Saída, que é, se a doença é aquela, isto é, uma chamada visão essencialista, se é sempre aquela.
38:34
O tratamento é sempre o mesmo.
Então não é preciso um médico também, quase não é o.
Problema é que os doentes são todos diferentes.
Têm sensações diferentes, têm vida diferentes, têm corpos diferentes, tudo.
Não é.
E nós tratamos é pessoas, não é doença.
Então, EEE, como é que e como é que os médicos lidam então com essa coisa que é tentar fazer tudo a todo momento, a toda a hora, com todas as armas, incluindo as nucleares, para tentar salvar aquela pessoa?
38:59
Desde logo, e isso é importante.
Para nós, médicos, na formação dos médicos, porque no passado essa noção não era inculcada nos jovens médicos.
Desde logo estamos a falar de profissionais de saúde e não apenas médicos, estamos a falar de trabalho, de.
39:17
Equipa, há uma equipa.
Pronto, mas isso não é linear muitas vezes.
Os médicos foram formados, por exemplo, para trabalhar em equipa com uma condição que é, está bem.
39:33
Trabalhamos em equipa, mas o chefe de equipa sou eu.
Bom, mas é que há muitas situações em que aquilo que se nos depara é melhor que quem lidera a equipa não seja um médico.
E seja um enfermeiro, até que isso há um assistente social, o que for.
Veja a prescrição social, que é um exemplo típico, Jorge trabalha numa área em que aparecem não sei.
39:56
Quando os idosos com doenças pulmonares e Jorge conhece o sítio onde eles moram e a humidade escorre pelas paredes e Jorge pensa assim, eu receito o antibiótico, mas isso não resolve nada a.
Questão está na casa, a questão está nas questões.
40:13
Sociais, claro, ou seja, aqui a saúde, que, aliás, como organização mundial de saúde, está sempre a repetir, a saúde não é demasiado importante.
E a organização união saúde pede nos falem mais da saúde e menos da doença.
A saúde é demasiado importante e demasiado complexa para ser deixada nas mãos do Ministério da saúde.
40:34
Tem que ser muito mais gente a tratar das coisas, não é?
Isso é importante.
Mas voltando lá atrás, depois queixa se de mim estava eu a falar da relação, o cuidar na relação, numa relação maleável.
Suponhamos que alguém tem um período mais em baixo, o outro assume um estatuto.
40:53
De mais cuidador e na semana seguinte ou no mês seguinte, invertem se as posições.
Este tipo de relação é muitíssimo mais resistente a todos os traumatismos da vida quotidiana do que uma que é perfeitamente rígida e.
41:09
Porque é que não é sempre assim, com essa flexibilidade, com essa maleabilidade?
Porque nós humanos somos animais, digamos assim.
OOO Manuel diria imediatamente que nós somos rascas, ou seja, por exemplo, com muita frequência, mesmo de uma forma inconsciente, se numa relação uma pessoa tem 11 ascendente sobre o outro, tem no fundo poder sobre o outro, não abre mão desse poder com com facilidade?
41:45
Ora, esta este equilíbrio pressupõe.
Vou empregar o termo, sem nenhuma conotação psiquiátrica, como os meus netos o empregariam.
Não pode haver paranoias de dum ser dominado ou dominar na relação.
42:02
Em princípio devemos estar ombro a ombro 2 liberdades e olhar no mesmo sentido.
Curiosamente, depois quer dizer, eu não quero colocar isto no binário homem e mulher, porque sabemos que o mundo agora tem múltiplas configurações.
É verdade?
Há, há há fórmulas diferentes.
42:17
Lá está de exercer esse essa tal flexibilidade ou inflexibilidade conforme desde de uma forma mais classicamente masculina, de tomar decisões, de ir para a frente e uma fórmula mais feminina.
De uma maneira que é, eu vou levar a minha água ao meu moinho e vou arranjar maneira de que isto chegue lá da mesma maneira.
42:37
Permita me que pegue.
Exatamente na sua imagem.
Não só por preguiça minha, que é lendária, mas porque a imagem é magnífica.
Repare nisto.
Isso é o estereótipo em que não estou a dizer que o Jorge é da minha idade.
Vou ser crucificado?
42:52
Não, não, mas a minha geração foi tudo adequada nesse estereótipo, então vou.
Olhar para o clássico?
Os homens são mais ativos, mais racionais, mais isso, mais aquilo e estão sobretudo na esfera pública.
As mulheres são mais sensíveis.
Mais amorosas, melhores cuidadoras, não é isto estão Na Na esfera privada, quer se queira, quer não, isto é meter as pessoas, neste caso, os 2 sexos, se quiser.
43:19
Depois vamos à questão do luminário ou no binário.
Estamos a meter os sexos em gavetas, ou seja, a.
Limitá Los.
Tem toda a razão.
Vou lhe dar um exemplo.
Vejam que mudaram os homens mesmo assim.
Alguém poderá dizer não tanto como seria desejável, mas mudaram Hum na sua relação.
43:40
Agora até vamos tirar a questão de do casal heterossexual e falar nos filhos.
A relação hoje em dia do pai do homem é infinitamente mais próxima.
Em geral, com todas as exceções que ambos conhecemos do que há 30 4050 anos atrás.
44:00
E nós podemos dizer assim, ainda bem para os miúdos e temos razão, mas também ainda bem para os pais, porque estes homens descobriram em si dimensões de afetividade que antes lhes eram praticamente proibidas.
Quer dizer, nós éramos educados para ser cópias rascas do John Wayne Fortes e brutos, não é?
44:21
O John Wayne não, dizia uma a uma das heroínas que a amava.
Ela adivinhava.
Que ele a amava e, portanto, no fim, ela punha 11 prato na mesa e ele, sem dizer nada, ficava, aparecia, viend e a Malta percebia que eles iam casar e ele, mas ele não tinha aberto o bico.
44:41
Então.
Apesar dos homens eram assim.
Apesar de tudo, então, coitado, coitado da nossa espécie, dos homens que têm que fazer aqui um aqui, um caminho e que esse caminho.
Também não é?
Sim, sim, mas os homens mudaram, mas mudaram com vantagens para eles.
Agora, vantagens emocionais também.
44:57
Mas emocionar agora não sejamos não sejamos líricos na questão do poder, muito do mundo masculino só mudou pela pressão que veio agora.
Cuidado de parte do mundo feminino, porque os feminismos não esgotavam o universo feminino.
45:18
Havia mulheres que muitas vezes tinham.
Ataques, estou a falar de coisas verbais e escritas, et cetera.
Pronto.
Muito mais furibundos às feministas que os próprios homens, que eram mulheres, a quem o patriarcado, por e duro convinha.
45:37
Lá estava o padrão.
Pronto, estava o padrão.
Agora, o que é que você verifica hoje em dia?
Verifica, por exemplo, nas nas tarefas mais ele fica sempre zangado comigo para eu dizer isto.
Mas pronto, é assim.
Tenho muita pena, mas só o meu filho mais velho é que é casado.
45:55
Por isso o meu filho mais velho é casado.
E eu vi o sempre.
Agora repare no verbo que eu vou utilizar e eu vi o sempre partilhar todas as tarefas de casa com a minha nora.
Nem Ela admitiria outra coisa.
E eu nunca fiz isso.
E eu digo partilhar.
46:14
E isto diverte me sempre muito, porque nós, homens em geral, sobretudo da minha geração, ficamos maravilhados com outro verbo, que é ajudar.
Quando nós dizemos, eu ajudo.
Só falta darmos uma volta ao estádio e receber os aplausos.
46:30
E algumas mulheres, eu compreendo, ajudam nos nisso porque dizem, Ah, ele ajuda muito lá em casa.
Eu compreendo e não tem mal nenhum.
É semântica, mas traduz outra coisa.
Nós, em teoria, não devíamos ajudar.
Não é equitativo, não é.
A casa não é dos 2, os filhos não são dos 2.
46:48
Então devia se partilhar tarefas, não era?
Posso fazer 11 declaração machista à vontade, quando nasce a criancinha, a mamã agarra a criancinha e diz, calma, que isto aqui.
Agora sou que pelo menos nos primeiros dias, nos primeiros tempos, a minha criancinha.
Sim, mas quer dizer não?
47:04
Anda anda a ajudar a dar o banho, mas.
Claro, mas aí está, mas.
Mas.
Mudar o banho, mudar.
Fraude, em princípio, de vez incompetente para fazer isto.
Eu não lhe estou a dizer que os homens têm que aprender a dar de mamar, porque eles podem aprender, mas não funciona, há.
Biologia não é, há biologia.
47:21
Pronto, há biologia.
Não é agora tudo o resto que repara.
Há estudos magníficos.
Eu acho uma perfeita delícia, porque os estereótipos desagregam se.
Vão, digamos assim, vão se matizando, mas sobrevivem às vezes em pequenas coisas que, quando lubrigadas, são até divertidas, que é de vez em quando pega se em casais e eles concordam que partilham as tarefas, portanto, isso é um dado adquirido.
47:58
E depois nós perguntamos, vai fazer uma lista?
Façam uma lista.
E sabe como é que aparece uma sobrevivência de estereótipo?
É assim, ele paga os seguros, ele faz a revisão do carro, tal, tal, tal, tal.
Quase tudo o que tem a ver com os miúdos É Ela.
48:15
Ele está a partilhar tarefas.
Mas quais tarefas?
Tarefas que subconscientemente são consideradas mais masculinas, enquanto as mais femininas, que têm sempre relação com o cuidar, ó Jorge alturas, ouvem que a filha mais nova de um casamento sabia que não IA casar.
48:34
Porque IA tomar conta dos pais quando os fossem velhos?
Esse mundo mudou, agora é que as mulheres vão tomar conta disto.
Uma queria pegar naquela exemplo que disse, porque é muito bonito.
48:51
Se disse, EE, as mulheres dão a volta à coisa no estereótipo clássico, seria uma ingenuidade dizer que as mulheres não tinham poder nenhum.
O poder de influência é um poder haver.
É, sem dúvida nenhuma.
E muitas vezes, seja em termos gerais, seja os próprios homens, quando se sentem pressionados, diziam assim, Ah, mas no fundo, elas acabam sempre por fazer o que querem.
49:22
Sempre pode ser um exagero.
Muitas vezes estou aqui para dizer, sim, senhor, era verdade e é verdade.
Isso não resolve o problema.
Porque muitas vezes, o que é que acontecia?
Aquela mulher, naquela relação heterossexual, conseguia obter o que queria.
49:42
Porquê?
Porque dava a volta àquele homem.
Ou você pode me dizer assim, mas o resultado final era o que ela queria.
Mas o trajeto para lá não é um trajeto democrático e equitativo.
49:57
Era sinoso.
Porque ela não podia olhar nos olhos e dizer assim.
Eu acho que era melhor fazermos assim, não?
Ela IA eventualmente deixando uma semente aqui, outra acolá e tal, e até acontecia.
O que devo lhe dizer que, visto de fora, é divertidíssimo que passado algum tempo, aquele homem dizia, vamos fazer isto assim, assim convencido que ele tinha decidido quando ela é que tinha semeado tudo.
50:19
Mas isso não é uma relação equitativa.
Nós nós estamos praticamente a terminar esta confesta é saborosa, EE iria por por aí fora que quer voltar à medicina e à e à Fronteira com a técnica que é.
Estão aí as inteligências artificiais auditas, inteligências artificiais com máquinas com capacidade de aprender que tecnicamente podem começar a fazer coisas, já estão a fazer algumas coisas melhores que que os seres humanos.
50:44
Então, e agora, como é que como é que é a medicina?
Como é que é o novo médico que aí vem?
Se quiser, suponhamos que estávamos a fazer isto mesmo ao fim da tarde, e eu e o Jorge já estávamos, mas era ansiosos por ir para matosinhos comer um peixe.
51:00
Eu dizia lhe assim, olhe, estou me nas tintas, porque isso na psiquiatria não é assim tão fácil, não é?
Mas não, eu sou professor de antropologia médica.
O tema é fascinante.
Primeiro, a inteligência artificial pode ser e é de uma utilidade brutal.
51:20
Não só nas questões, digamos assim, mais tecnológicas, nós hoje daquilo que eu leio não é a minha especialidade, mas, por exemplo, em radiologia, em anatomopatologia, et cetera.
A máquina já vê melhor, a máquina vê melhor.
51:35
Sobretudo com a capacidade que tem de utilizar os dados de um de uma forma que nós.
Não somos capazes, portanto.
Vem à procura dos micro padrões e vai conseguir dizer aqui há uma possibilidade que possa acontecer uma coisa de ver muito mais cedo do que nós.
51:53
Mas para lhe falar com toda a franqueza.
Mas aqui é de formação profissional do professor de nepologia médica.
Aquilo que me alegra e que me enche de Esperança na inteligência artificial é algo de muito mais primitivo a montante na nos profissionais de saúde.
52:13
A relação profissional de saúde pessoa que vem pedir ajuda pode ser extraordinariamente facilitada pela inteligência artificial.
Vou lhe dizer rapidamente porquê.
Hoje as pessoas chegam ao meu consultório e inevitavelmente falam do seu estado físico, também da sua saúde física.
52:36
Nós temos, por exemplo, ainda essa.
Essa maleta da análise que é separar muito o psicológico e o físico, sendo o físico mais mais mais honesto e respeitável, por exemplo, 11 discriminação que não terminou é dentro da própria medicina, a psiquiatria continua a ser olhada de lado.
52:55
Se me doer, a perna é uma perna, se me doer, a alma.
Uma perna, partida, ninguém discute.
Está aqui uma perna partida.
Pronto, uma neurose grave.
Alguém diz que há exagero ali, não sei quê, e tal, e tal, e tal.
E tal.
E isto inclusivamente levaram nos IA longe, porque neste momento preocupa me na psiquiatria um certo movimento de alguns colegas se refugiarem na prescrição e depois dizerem às pessoas uma coisa que é bem intencionada, mas que deixa, na minha opinião, mal colocada à psiquiatria.
53:33
Quer dizer, e agora vou lhe dar um nome de um psicólogo, porque faz lhe bem falar com alguém.
Se o psiquiatra não fala com as pessoas, então isto não é psiquiatria, é simplesmente estar a receitar me.
O que é que eu IA dizer?
As pessoas chegam lá e dizem assim, ó, ó, senhor, doutor, olha, quero ver as minhas análises, por exemplo, eu só tenho consulta de e não sei quê, deixa me que tal está isto, pá.
53:54
E falam, e cada vez mais eu oiço isto.
Eu gosto muito do meu médico de família ou da minha médica, os que têm há 1000000 e não sei quantos não têm, enfim.
Coisas tristes.
Mas sabe uma coisa?
54:13
Eu agora quase que não o vejo.
Eu só o vejo a parte de trás do computador.
Está lá no consultório, mas está atrás do computador, e eu?
Tenho que lhe dizer assim, olhe, se calhar vai achar que eu estou a defender o meu sindicato, sabe?
54:29
Mas eu vou lhe dizer uma coisa, o meu colega, se não preencher aqueles Campos todos, está metido numa enrascada.
Porque tem que fazer o.
Registo tem que fazer aquelas coisas bem.
A inteligência artificial pode libertar brutalmente o diálogo com o doente ou a pessoa que não está doente, mas já é uma consulta.
54:49
Até até colocando logo as análises dentro do relatório clínico e aquilo que já está feito não é preciso.
Caravando a conversa catalogando.
Vendo a atenção arterial e aquilo automaticamente registar, claro.
A vida.
Hoje em dia com coisas destas, não é?
Você anda calmamente à beira Rio e isto está lhe a mandar tudo para o seu médico, et cetera, que.
55:07
Depois pode fazer uma interpretação e usar lá está a sua inteligência apenas para para ter um contexto.
Para perceber e, portanto, isto, digamos assim, só isto estou a falar sequer do resto, só isto é uma ajuda verdadeiramente brutal.
Mas atenção.
Porque quando nós falamos de inteligência artificial de vez em quando.
55:28
Falamos da inteligência artificial como se por trás da inteligência artificial não existissem seres humanos, os algoritmos foram fabricados?
Podem ser bons ou maus.
Podem ser bons ou maus.
Porquê?
Porque quem os programa ou constrói, enfim, os termos técnicos também está sujeito, por exemplo, a preconceitos.
55:48
E havia.
Esses e havia esse exatamente.
Agora veja se o algoritmo honestamente lhe responde.
Que a população negra nos Estados Unidos está em melhor estado de saúde do que a branca?
56:03
Sabe o que é uma mentira?
Olha para aquilo e diz, enlouqueceu?
Em geral não enlouqueceu.
Sabe porque é que ele disse aquilo?
Porque foi programado para fazer a análise assim, quem é que vai aos hospitais?
É internado nos Estados Unidos sem seguro de saúde?
56:23
Está no Mato.
Os negros que têm muito menos que os brancos, o algoritmo diz há muito, estão ótimos.
Há muito menos internamentos de negros do branco estão ótimos.
Ou seja, como você diz, o algoritmo quando está enviesado, não é culpa dele, é que foi programado dessa maneira.
56:40
O que implica que pensemos o algoritmo não só com uma questão técnica, mas também com uma questão, enfim, política de pensamento, de da maneira como o algoritmo pode ser feito.
Não deixemos, não deixamos isto só para os engenheiros.
Oo algoritmo pode ser utilizado para nos manipular?
56:58
Mas ó Jorge sabe isso melhor que eu.
Saia do campo da saúde, vá para o Instagram, Hum?
Lá está o algoritmo a mostrar aquilo que nós.
Queremos ver o Jorge 3 dias seguidos aparece lhe música clássica e o Jorge põe o like no quinto ou no sexto dia.
57:15
Passa.
O exagero está.
À rasca para encontrar alguma coisa que não seja música clássica.
Lá se vai a diversidade, não é?
Porque você, acima de tudo, é um consumidor e aquilo está programado para o consumidor.
Então vou te vender aqui uns discos que tens aqui.
57:30
Sabes que gostas de música clássica cá, cá.
Está, percebe?
Eu sei lá.
Eu não lhes conto, por exemplo, que o algoritmo a mim topou me logo.
E eu levo com tudo o que acontece aos netos dos Beatles, aos filhos dos Beatles, aos Beatles ou antes que deles serem Beatles.
57:46
Pronto, tudo isso.
O recorrido nesse aspeto é cego.
Agora há outras questões que depois se levantam, que é em termos profissionais, como é evidente, a inteligência artificial pode e vai mandar para o desemprego milhões de pessoas que têm que ser recicladas, digamos assim, para outro tipo de profissões.
58:09
Os médicos também.
Há especialidades que estão muito mais em risco que outras.
Mas agora repare, isso também não começou agora.
Sei lá, a.
Robótica na cirurgia, por exemplo, era o.
Que eu lhe IA dizer, não é?
Eu sou, digamos assim, não o orgulhoso, mas o paciente portador de uma próstatite para aí há 15 anos, quando ela me foi diagnosticada, ninguém me disse, se um dia isso te é para torto e degenerar, vamos oprar te com um braço robótico.
58:44
Mas quem é que falava de braço robótico naquela altura?
Talheres e mão de cirurgião.
Mão de cirurgião a ora o braço ou o bótico tem uma precisão aparentemente muito maior, abençoada.
Portanto, faz menos estragos e consegue ter uma maior precisão.
Agora estando lá o médico para para carregar no botão espero eu.
59:01
Exato.
Mas agora, depois há outras questões.
É que AA inteligência artificial também se engana, o que é uma coisa estranha, porque nós estamos muito programados para confiar mais nas máquinas que nas pessoas.
Porque achamos que as máquinas.
Como ali funcionam?
59:19
Ponto Final parágrafo.
Então é quando a máquina se enganar e nós não soubermos a asneira onde raia que ela se enganou e pior, não não soubermos em que parafuso.
É que a asneira até até pode acontecer em aspetos éticos para sairmos da saúde.
59:35
Numa determinada altura, um senhor inglês escreveu Paul Guardian dizendo que estava a escrever um artigo científico sobre um determinado tema, já não sei qual era.
E que estava a ter dificuldades em encontrar 2 artigos de 2 jornalistas do Garden especializados naquela área.
59:54
Se o Garden podia ajudar e o Garden pediu aos jornalistas que fornecessem, os jornalistas disseram nunca escrevendo estes artigos.
Ou.
Confusão então, o que é que tinha acontecido?
Ele tinha feito uma busca.
1:00:11
E o algoritmo.
Tinha sido tão prestável, tão gentil, que lhe tinha dado tudo o que tinha encontrado.
E além disso que escrito ao estilo daqueles 2 jornalistas, passava por serem textos deles perfeitamente era o estilo deles. 2 artigos que não tinham eles, só que não existiam.
1:00:32
A falsidade com imagem de de verdade.
Ou seja, o que eles chamam, se bem me lembro, o algoritmo alucina também.
Bem, essas coisas são complicadas agora.
O que nunca podemos esquecer é o fator humano, porque aqui há uns meses, penso eu que já são uns meses, saiu um artigo que pôs toda a gente a discutir porquê, porque foram perguntar a doentes que respostas é que eram mais adequadas para eles.
1:01:04
EX, respostas eram dadas pelo algoritmo.
EX, por médicos humanos.
Porque agora já há, já há gente escreve nos artigos médicos humanos que médicos não humanos, pronto.
E os algoritmos ganharam.
1:01:21
E a primeira interpretação foi, é pá.
Isto demonstra que eles são melhores do que nós.
E depois pensam assim, espera aí.
E se pensarmos ao contrário, terão sido estes médicos sentemente empáticos, como é que uma máquina?
1:01:39
É mais empática do que uma pessoa?
Se calhar, estes médicos estavam no fim do turno, ou chateados, ou isto ou aquilo, e podiam ter feito o melhor porque disse que estávamos no fim.
Se calhar, é uma boa maneira de de acabarmos.
A empatia a empatia é sempre uma boa forma.
1:01:57
De a empatia.
Vamos ver, aliás, ainda outro dia eu e o meu filho mais novo nos divertíamos.
Porque o ChatGPT ensinavam nos boas maneiras, ele ele pôs uma determinada questão, não é EE perguntou o ChatGPT tal não é, acho esta maneira de perguntar um bocado seca e rude, como é que eu poderia perguntar?
1:02:24
E o ChatGPT respondeu, me olhe, pergunta esta maneira, assim, assim, assim, assim.
E como era uma coisa médica, no fim, ainda lhe dizia, mas.
Embora lhe tenha dado a minha opinião etcétera etcétera, aconselho a visitar um mérito, pronto, isto está perfeitamente certo.
1:02:46
Agora, há uma coisa que, pelo menos por enquanto, ninguém me convence que se pode pedir um algoritmo.
O algoritmo não viveu.
O algoritmo pode, por exemplo, perante o Jorge estando numa situação de luto.
1:03:05
Que está a ser difícil ultrapassar, etcetera.
O algoritmo pode ter milhares de frases de apoio.
Mas não sofre com muita frase, mas.
Nunca passou por isso.
E aí depende da pessoa.
Por exemplo, uma coisa que vai ser interessante verificar, nós temos alguns estudos que dizem que nas camadas mais jovens, as camadas mais jovens querem respostas mais rápidas.
1:03:31
EE, que eventualmente não valorizam tanto isso, pronto.
Mas há uma coisa que lhe digo, aquilo que você sente, porque eu passei por lá, como todos nós já passámos, aquilo que você sente com um ser humano que o apoia, às vezes até com um silêncio, mas que você, com razão ou sem ela pressente este tipo está a entender.
1:03:55
Está aqui para mim, et cetera.
Ao vínculo, é isso?
Isso não é possível com a inteligência artificial.
Isso agora, cuidado, porque pode dizer ainda hoje eu respondi isso a um convite gentil que me que me endereçaram para uma conferência para comparar.
1:04:14
E então diziam o confronto entre inteligência artificial e uma pessoa da geração.
Eu disse, eu não vou fazer confronto nenhum.
Porque para mim, não há confronto.
Somos complementares.
Agora, você também tem hoje em dia artigos médicos que dizem, no futuro, os médicos serão substituídos por algoritmos, por por máquinas, porque elas têm inclusivamente, uma vantagem é que são isentas.
1:04:40
Não há desconfianças em relação a elas, são melhores em termos de segredo médico, tudo o que quiser.
Não tem é sentimentos.
Eu na minha idade.
E ainda por cima, sendo um tipo preguiçoso, eu hoje em dia nunca vou procurar novos exemplos.
1:04:59
Nunca, nunca é uma palavra que nunca se deve ser, mas é muito raro.
Eu reenvio.
Há filmes e livros também, mas há filmes que envelhecem, estão datados e há outros que resistem.
Se você for rever o 2001, o 2001, eu disse, no espaço, você vê quão genial aquilo é.
1:05:26
Podia não ter mais nada, mas o que é que tem?
Tem um computador que não está disponível para ser desligado.
Computador.
Esse cometeu um erro, mas tem instinto de sobrevivência.
Quer dizer, a mim não me desligam e se nem se lembra, eu lepo nos lábios e começa a acertar lhes o passa todos um safa, se e quem é que faz vai desligá lo.
1:05:50
E esta cena é genial.
Claro que para um psiquiatra é, é fascinante, ainda mais, não é porque o cúbrico ou o argumentista, confesso que não sei se o argumento é do cúbrico.
Ele dá uma visão antropomórfica da máquina.
1:06:10
A máquina primeiro pede, não me desligues, faz promessas, eu nunca mais faço mal a ninguém, eu nunca mais engano é, argumenta.
E argumenta, num tom de afeto, mas o mais genial de tudo é que, à medida que ele vai desligando, a máquina vai regredindo à infância, lembra se.
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E acaba a dizer, eu fui construído pelo engenheiro, não sei quê, no sítio e tal, tal.
Isto é espantoso, mas nunca acontecerá, porque a máquina não se pode sentir a morrer.
E a ter a nostalgia da infância, et cetera, porque não a viveu?
1:06:50
Dir me ão em 90% dos casos.
Isso não tem importância nenhuma.
Dou de barato, mas chamar empatia a qualquer coisa que se passa entre quem viveu ou nódoas negras e com grandes alegrias.
E quem ouve as nódoas negras aprendeu as respostas adequadas, mas não as sentiu.
1:07:13
Não é a mesma coisa.
A empatia, a par das nódoas negras e das grandes alegrias, são provavelmente a única receita para a partilha entre seres humanos.
Compreender os outros implica nos a todo o momento.
E as máquinas capazes de calcular rapidamente, muito rapidamente e guardar acervos de informação gigantescos não têm alma.
1:07:33
Podem saber, podem fingir, mas nunca sentiram a palpitação dos grandes amores, nem o sabor das lágrimas amargas.
Nem sequer lágrimas de óleo ou taquicárdias elétricas.