Deus nos faz conhecer a sua vontade de dois modos. O primeiro, é chamado de vontade de Deus significada, e podemos conhecê-la pelos mandamentos que Deus nos deu. O segundo modo é chamado de vontade de beneplácito, e podemos conhecê-la em todos os acontecimentos que Deus nos envia.
A vontade significada nos indica, de maneira clara e com antecedência, todas as verdades que Deus quer que nós creiamos, todos os bens que ele quer que nós esperemos, as penas que temamos, as coisas que amemos, os mandamentos que observemos e os conselhos que sigamos. Nós a chamamos de vontade significada porque nos indica explicitamente tudo o que Deus quer que nós creiamos, esperemos, temamos, amemos e pratiquemos. A adequação de nosso coração à vontade significada consiste em que queiramos tudo quanto a divina bondade nos manifesta ser de sua intenção; crendo segundo sua doutrina, esperando segundo suas promessas, temendo segundo suas ameaças, amando e vivendo segundo seus mandamentos e recomendações.
Essa vontade significada abraça quatro partes, que são as seguintes: os mandamentos da lei de Deus e da Igreja, os conselhos, as inspirações, e as Regras e Constituições da vida consagrada. Vamos tratar de cada um deles.
Os mandamentos da lei de Deus e da Igreja. É necessário que cada um obedeça os mandamentos de Deus e da Igreja, porque é vontade de Deus absoluta, que quer que os obedeçamos, se desejamos nos salvar.
Os conselhos. É vontade de Deus que guardemos os seus conselhos, que existem para favorecer a caridade. Mas não é imperativa e absoluta como os mandamentos. Assim, quando deixamos de cumprir os conselhos, sem menosprezá-los, mas porque acreditamos que não temos força suficiente para obedecer a tais conselhos, nós não perdemos a caridade nem nos separamos de Deus. Além disso, nem é possível que sigamos todos, mas só aqueles mais conformes à nossa vocação.
As inspirações. Nas inspirações, Deus nos indica suas vontades sobre cada um de nós de maneira mais pessoal. Santa Maria Egípcia se sentiu inspirada ao contemplar uma imagem de Nossa Senhora; Santo Antônio, ao ouvir o Evangelho da Missa; São Pacômio, vendo um exemplo de caridade; Santo Inácio de Loyola, lendo a vida dos santos. Ou seja, recebemos as inspirações pelos mais diversos meios. Algumas inspirações, que chamamos ordinárias, apenas nos conduzem a praticar algo que já praticamos de costume, mas com um novo fervor. Outras inspirações, chamadas de extraordinárias, nos levam a praticar ações que não seriam esperadas.
Regras e Constituições da vida consagrada. Para os que se consagraram na vida religiosa, elas explicitam a vivência dos conselhos, e da vida em comunidade.
Essas são as quatro partes da vontade de Deus significada. Além dela, também temos a vontade de beneplácito de Deus. Ela se manifesta em todos os acontecimentos, em tudo aquilo que acontece. Na enfermidade e na morte, na aflição e na consolação, na adversidade e na prosperidade. Em uma palavra, tm todas as coisas que não são previstas. Essa vontade de beneplácito pode ser vista facilmente em tudo o que vem diretamente de Deus e das criaturas que não são livres, como chuvas, terremotos, doenças, a beleza da natureza. O mais importante é ver a vontade de Deus principalmente nas tribulações, que por mais que Ele não as ame em si mesmas, as quer empregar, como excelente recurso para satisfazer a ordem, reparar nossas faltas, curar e santificar as almas.
Mais ainda, deve-se ver a vontade de beneplácito inclusive em nossos pecados e nos pecados do próximo, e aqui falamos mais especificamente da chamada vontade permissiva. Deus não concorre na forma do pecado, que é o que constitui sua malícia: ele detesta infinitamente o pecado e faz de tudo para nos afastar dele. Ele o reprova e o castigará. Mas, para não nos privar da liberdade que nos concedeu, como nós nada podemos fazer sem o concurso de Deus, que é o primeiro motor de tudo,...