Se a liberdade está relacionada com a apropriação de um território – como já os gregos antigos expressavam através do conceito de autoctonia -, a música constrói esteticamente um povo ao fornecer a forma sensível do espaço comum no interior do qual esse povo pode emergir. No século 19, por exemplo, compositores como Antonín Dvořák, Jean Sibelius e Alexandr Borodin criaram materiais folclóricos para contribuir com a consolidação de uma identidade nacional entre tchecos, finlandeses e russos, respectivamente.

Essa é uma das ideias expostas pelo professor Vladimir Safatle nesta edição de Construção Musical da Liberdade. Ele cita também como exemplo a música de Frédéric Chopin (1810-1849). Numa época em que os poloneses estão quase em vias de desaparecer, Chopin promove ampla reformulação de um gênero tipicamente nacional e carregado de referências ideológicas – a polonaise -, até então considerado menor, e lhe dá uma forma extensa, com desenvolvimento sinfônico e força dramática. Em Chopin, as polonaises são peças “organicamente animadas por esse sentimento de procura de um povo em vias de desaparição”, diz Safatle.

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