Robinson do Futuro

Ep. 06 - Come-chão (3ª temporada)


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Este episódio é um oferecimento da BELÍSSIMA E INSUPERÁVEL @promobitoficial.

A produção do episódio foi feita por Igor Jesus e Morgana Moraes.

A capa é de Morgana Moraes.

As letras do Robinson você encontra aqui.

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Um abraço e até o próximo episódio.


Letra:

Eu preciso parar de coçar

Os bafos quentes nos bueiros já escapavam na noite

Quando o exército maléfico emergia pro açoite

Das piscinas, banheiros, poças, pneus e mangues

Se alastrando em sua ávida procura por sangue


E pelos poros da cidade, suas janelas e frestas

Infestaram os lares portando as suas moléstias

E seus bicos agulhentos, sanguinários e potentes

Sorveram nossos plasmas indiscriminadamente


Mesmo à noite, ainda assim o calor me devora

Por isso ao me cobrir deixo minhas pernas pra fora

Pra que o sono seja plácido e os suores amenos

O mosquito maldito não esperava por menos


Ergueu seu voo bizarro na escuridão fervilhante

Pra seus mil olhos terríveis, pouca luz era abundante

Orientou seu voo caótico a meu pé descoberto

Enquanto eu dormia profundamente boquiaberto


Na manhã seguinte não me demorei a notar

Quando a chanha pestilenta começou a coçar

E eu cocei, cocei demais até não poder mais

Mas em nada aplacou aquela coceira voraz


Eu preciso parar de coçar a minha picadura

Então fui me apercebendo, e me causou estranheza

Que no lugar da picadura havia certa aspereza

E a derme, antes macia, agora estava endurecida


Protuperturbadamente quente doente e escurecida

E enquanto aquele tom de cinza escuro aumentava

A coceira insuportável na minha pele piorava

E animada por irreprimível força interna


A minha mão ia coçando pé, dedos, calcanhar e perna

Pensamentos, sentimentos, tudo o que há em mim se entrega

Pra essa tentação horrenda de manter o esfrega-esfrega

E seu prazer doentio inundou minhas veias


Enquanto a ferida aberta ficava cada vez mais feia

Distraído na sanha hedônica de minha coceira

Não me dei conta do avanço da pústula carniceira

Quando olhei minhas pernas tinham aspecto esquisito


Eu percebi que estava me transformando em um mosquito

Eu preciso parar de coçar a minha picadura

E um medo desvairado me emergiu das entranhas

Ao me deparar com aquelas pernas pra lá de  estranhas


Corri desesperadamente pra me olhar no espelho

E enxerguei duas longas pernas cada com três joelhos

A coceira mais intensa do que nunca se alçava

A meu torso e meu corpo já inteiro coçava


Minhas mãos frenéticas iam para trás e para frente

roçando no meu couro cada vez mais rígido e quente

Entumecido e enlouquecido de uma paixão delirante

Eu fui sendo tomado por um calor sufocante


E minha boca seca, cada vez mais sedenta

Foi cedendo a uma vontade contumaz e virulenta

Enquanto isso uma figura monstruosa me olhava

Do outro lado do quarto apavorada e com raiva

E outras mil surgiram, todas iguais a ela

Eu aflito e agônico me joguei da janela

Eu preciso sair pra caçar

Pelas ruas pelas ruas

Para me alimentar

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