A língua que falamos no Brasil é diferente do português falado em Portugal. Uma das particularidades históricas do Brasil, que contribuiu para modificar e enriquecer sua cultura, é a fusão de povos tão distintos que se materializou em seu solo. Entre os séculos XVI e XIX houve um intenso tráfico negreiro, a fim de transportar para o país mão de obra escrava. Devido às condições sociais criadas diante da relação de exploração entre brancos e negros, tudo que era próprio de culturas africanas era visto com preconceito.
A língua não está imune ao fenômeno do racismo. Por isso, durante muitos anos, a palavra moleque foi vista como uma ofensa, carregando em si várias acepções negativas e não relacionadas à sua acepção original.
Do quimbundo mu’leke, moleque significa “menino, rapaz jovem”. Por ter sido um modo comum de os negros chamarem seus próprios filhos, a palavra começou a apresentar um significado pejorativo, pois indicaria crianças de má índole, marginais caçadoras de encrenca.
O significado vinculado à ideia de imaturidade, comum aos jovens rapazes, e, portanto, com um caráter mais negativo, é bastante comum. O cantor sertanejo Pacheco e a falecida cantora Marília Mendonça cantaram a canção “Moleque”, cuja letra diz:
“Foi moleque
Tem trinta mas parece uma criança de sete
Foi moleque
Perdeu quem mais te amava
E vai morrer de saudade
Me esquece
Agora pode procurar um bar
Pro cê chorar a minha falta
Quem sabe se eu largar você cresce
Seu moleque”
Mas mais recentemente, tem ocorrido uma reapropriação do sentido de caráter carinhoso e afetivo que a palavra tem na sua origem. Na expressão “Ah, moleque!”, usada para incentivar o feito de alguém, o “moleque” traz a ideia de que ali existe uma pessoa querida, amiga, que fez algo que merece ser enaltecido.
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Link para a música “Moleque” interpretada por Pacheco e Marília Mendonça: https://www.youtube.com/watch?v=Z0etbAuiRF4&t=139s