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I
Há dez anos andava obstinado pela novidade. Era o tempo de passar tempo extasiado pelos diplays do quiosque à procura da mais fresca publicação de arquitectura, interiores ou lifestyle. Os filmes (sempre da europa central) passavam-me do prazo de validade se tivessem estriado em sala há mais de três anos. As galerias de arte contemporâneas eram o meu espaço primaz de desejo. A autoria teria de ser minha contemporânea ou eu não seria um homem do meu tempo. Na sequência, co-fundei uma loja de design português de autor, onde na sua idiossincrasia, podia tocar a novidade em pré-produção, antes de partir para o forno. Como se estes escritos não servissem outro propósito senão a confissão, confesso: hoje, já pouco disto me interessa particularmente
II
Nos anos sessenta, década de tudo, o Concílio Vaticano II iluminou-nos com a ideia do aggiornamento: era necessária uma actualização do cânone. Motivo: sobrevivência do processo de decadência. O Ocidente, em declínio há dois mil anos, precisava de decair mais lentamente. Eis uma definição de aggiornamento: a demora na decadência - algo que estou particularmente a precisar. Ano e meio de peste desactualizou-me. “Tens de te reinventar”, ouve-se como mantra pós-moderno da volatilidade e da volúpia dos mercados. “Go online or go home”. Prefiro hoje sempre regressar resignado ao tugúrio do filósofo do que embarcar, à vista, pelos caminhos deslumbrados da desumanização do ocidente...
I
Há dez anos andava obstinado pela novidade. Era o tempo de passar tempo extasiado pelos diplays do quiosque à procura da mais fresca publicação de arquitectura, interiores ou lifestyle. Os filmes (sempre da europa central) passavam-me do prazo de validade se tivessem estriado em sala há mais de três anos. As galerias de arte contemporâneas eram o meu espaço primaz de desejo. A autoria teria de ser minha contemporânea ou eu não seria um homem do meu tempo. Na sequência, co-fundei uma loja de design português de autor, onde na sua idiossincrasia, podia tocar a novidade em pré-produção, antes de partir para o forno. Como se estes escritos não servissem outro propósito senão a confissão, confesso: hoje, já pouco disto me interessa particularmente
II
Nos anos sessenta, década de tudo, o Concílio Vaticano II iluminou-nos com a ideia do aggiornamento: era necessária uma actualização do cânone. Motivo: sobrevivência do processo de decadência. O Ocidente, em declínio há dois mil anos, precisava de decair mais lentamente. Eis uma definição de aggiornamento: a demora na decadência - algo que estou particularmente a precisar. Ano e meio de peste desactualizou-me. “Tens de te reinventar”, ouve-se como mantra pós-moderno da volatilidade e da volúpia dos mercados. “Go online or go home”. Prefiro hoje sempre regressar resignado ao tugúrio do filósofo do que embarcar, à vista, pelos caminhos deslumbrados da desumanização do ocidente...