O segundo episódio do podcast vem com mais uma história.
Um conto que tem como pano de fundo a amizade, de como compreender sem julgar.
Espero que gostem, e agradeço desde já pela atenção.
Siga no insta [da aquela força pro artista brasileiro]:
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texto escrito por @pedroszilio
[íntegra do texto abaixo]
Se eu já ouvi o que dizem de ti?
Deixa eu explicar que na rua eu ando distraído, tropeçando na avenida e caindo nos cordões da calçada. É quase hilário aos que observam, não sendo vergonhoso pra mim porque nem vejo. Sigo imerso dentro de meus pensamentos, com minha camisa desalinhada. Meus tênis sujos não me permitem a classe que todos desejam. Em meus bolsos algumas lembranças e dúvidas sobre o mundo, e a chave de casa para não ter que chamar o chaveiro de novo e pagar 100 reais para ele abrir de novo a porta trancada. Falando nisso, tenho que comprar café. Acabou. Vou indo até o supermercado e lembro do meu amigo falando que tu não prestava e já fez milhões de besteiras por aí.
Eu apenas disse que não sabia e iria pensar no assunto, pois de fato pensei. Pensei e logo passou, pois lembrei do café. Das manhãs que tu acordava mais cedo que eu, pois tinha de trabalhar, e mesmo atrasada deixava a xícara de café no meu criado-mudo cheio de poeira e livros empilhados que há muito tempo não tinham uma limpeza. Pensei também no quanto tu não reparava na minha bagunça do quarto, com roupas espalhadas e simplesmente me acompanhava jogando as tuas no chão para se deitar nua comigo.
Eu gostava. Até juntava a toalha do chão depois do banho enquanto eu preparava qualquer janta para nós dois. Eles também falaram que tu poderia me trair. Eu pensei nisso. Por alguns minutos me entristeci e pensei que poderia me magoar. Até tropeçar na próxima calçada e perceber que teus erros a mim não pertencem. Não vou me prender ao teu passado, pois nem tu deve fazer o mesmo. Pensei bastante, e tenho andado distraído justamente por pensar em mim, não pensar nos outros, no pensamento dos outros. Se já tropeço e caio na rua com minhas reflexões, só deus sabe o que seria de mim se tivesse em minha cabeça a ideia dos outros.
Da gente? Posso dizer assim, ou não estamos a este ponto ainda. Te pergunto e tu ri, diz que o que for melhor pra gente e me beija de forma abrupta e me solta, para daqui a pouco me pegar de novo.
Eu pensei.
Será que eles já ouviram o que eu digo de ti?