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I
“A pandemia trouxe uma reacção que me espantou: a facilidade com que se obedeceu”. José Gil - a mesma perplexidade que tenho sentido - e um espanto com (finalmente) direito a prime-time televisivo. Mais do que a facilidade em obedecer, é a facilidade com que se pede para obedecer. 2020: o ano da súplica. Face ao medo, o ser humano precipitou-se, irreflectidamente, para fora-de-si (em uníssono). O Eu entra no carril de uma multidão assutada, impulsiva, sem rosto, que apenas quer continuar, biologicamente, viva. “Que força é essa? Que só te serve para obedecer? Que só te manda obedecer?” 2020, o ano em que percebeste como era tão fácil deixares-te seduzir pelas delícias da paranóia e embarcaste, sem destino, com essa turba alucinada.
II
Quanta da tua liberdade és capaz de prescindir em troca de segurança? Dúvida antiga, repisada. Em 2020, toda a liberdade em troca de segurança – movimento, toque, rosto, escolha – nenhuma liberdade é melhor que a morte: concluiu-se (há mais hipóteses). 2020, o ano onde o que mais importou foi o coração bater. O grau zero é um coração a bater: de um escravo ou de um entretido em streaming – o batimento continuo, ritmado e copiado, da vida. 2020, o ano em que se contou mortos e feridos como se estivéssemos a jogar. (ler mais)
I
“A pandemia trouxe uma reacção que me espantou: a facilidade com que se obedeceu”. José Gil - a mesma perplexidade que tenho sentido - e um espanto com (finalmente) direito a prime-time televisivo. Mais do que a facilidade em obedecer, é a facilidade com que se pede para obedecer. 2020: o ano da súplica. Face ao medo, o ser humano precipitou-se, irreflectidamente, para fora-de-si (em uníssono). O Eu entra no carril de uma multidão assutada, impulsiva, sem rosto, que apenas quer continuar, biologicamente, viva. “Que força é essa? Que só te serve para obedecer? Que só te manda obedecer?” 2020, o ano em que percebeste como era tão fácil deixares-te seduzir pelas delícias da paranóia e embarcaste, sem destino, com essa turba alucinada.
II
Quanta da tua liberdade és capaz de prescindir em troca de segurança? Dúvida antiga, repisada. Em 2020, toda a liberdade em troca de segurança – movimento, toque, rosto, escolha – nenhuma liberdade é melhor que a morte: concluiu-se (há mais hipóteses). 2020, o ano onde o que mais importou foi o coração bater. O grau zero é um coração a bater: de um escravo ou de um entretido em streaming – o batimento continuo, ritmado e copiado, da vida. 2020, o ano em que se contou mortos e feridos como se estivéssemos a jogar. (ler mais)