Sozinha de si

#31 - Orgulhosa de mim


Listen Later

Nunca quis ter filhos, mas a minha visão aos 30 anos mudou, decidi que seria mãe. 

Nesse meio tempo conheci uma pessoa que me prometeu acima de tudo amizade. Sempre tive problemas com minha mãe e ele apareceu como porto seguro. 

Foi praticamente o meu primeiro homem, antes dele tive apenas 4 relações sexuais. Os sinais de que viveria uma relação abusiva foram se mostrando logo de cara: a nossa primeira vez foi sem o meu consentimento, pois estava com medo. Depois do prazer dele, ele me abraçou e disse que me amava. Fiquei tão confusa que comecei a acreditar que era amor. Vim me dar conta que foi abuso aos 35 anos, quando estava numa sessão de terapia.

Sempre fui independente, tenho meu apartamento e ele ia pra minha casa todo final de semana. Brincávamos de casinha, onde eu era a Amelia, como na música. 

Ele era bem popular e ainda no primeiro ano de relacionamento via conversas dele com outras mulheres e me sentia mal. Começaram então as crises de ciúmes. Noivamos com todos os indícios de que não era bom pra mim. Aos poucos fui me anulando da minha família e das poucas amigas que tinha. Ele dizia que elas tinham inveja de mim, sabia me controlar, pois eu já estava nas mãos dele emocionalmente.

O relacionamento durou 3 anos 8 meses, quando tive a certeza de que me traía. Tinha um caso há dois anos e um dia antes de eu descobrir, ele queria porque queria que fizéssemos um vídeo no Instagram do dia dos namorados.

Eu planejava casar e ter um filho, ele sempre me enrolava e eu não enxergava.

Nesse tempo, conseguiu mudar minhas roupas, calçados, gostos musicais, livros. Vivia falando mal do brega/sofrência que gostava de ouvir e dos meus livros de romance.

Entrei na academia por influência dele, quando comecei a perder peso ele atribuía essa conquista minha a ele, dizendo: "olha pra tu, a mulher que você é hoje é por minha causa" e isso martelava na minha cabeça como um mantra que ficou sendo verdade. 

Ao descobrir a traição pelo whatsapp dele, confesso que contei pra 4 pessoas, pois já estava infeliz e sabia que seria minha forma de não voltar atrás, pois teria vergonha caso voltasse. 

Nesse tempo minha mãe já tinha falecido, e tive o apoio desses 4 anjos na minha vida que não me deixavam sozinha aos finais de semana e me ajudaram bastante. 

A dor foi grande. Não conseguia me olhar no espelho pois pensava "quem vai me querer aos 34 anos!? Já estou velha".

Desde então faço terapia, e não imaginava que chegaria aos 36 anos da forma como estou. Pensava que estaria casada, com um filho, um cachorro e carro na garagem. Minha vida está totalmente diferente do que planejei, mas quando olho pro meu passado, vejo o quão forte me tornei e desejo o mesmo a todas aquelas que passam por qualquer tipo de abuso. 

O título que me dou hoje é: ORGULHOSA DE MIM. 

Mesmo depois de tudo que passei, vejo o quanto amadureci ficando mais observadora e mais analítica, consigo identificar mais fácil sinais que não condizem com o meu propósito de vida, verbalizo e estipulo limites, dizendo "não" sempre que necessário. 

O sonho de construir uma família tradicional ainda existe, e é o que mais dói, tenho esperança que um dia aconteça, e enquanto isso sigo em frente.

Voltei a estudar, estou fazendo outra formação, voltei a correr, tenho meu apto e meu carro, precisei provar pra mim mesma que seria possível conquistar o mundo sem uma presença masculina, simplesmente porque eu sou forte, porque nós somos fortes. 

Não estou exatamente no lugar que eu desenhei na minha infância e adolescência, mas sou muito grata pela mulher que me tornei, quebrando padrões estéticos da sociedade e pelos bens que conquistei.

...[por conta do limite de 4000 caracteres o restante da história está apenas no áudio]

Lembrando que o Podcast Sozinha de si é um projeto de acolhimento através de histórias anônimas, para cuidar de todas de uma vez! Manda a sua história pra mim: ⁠⁠[email protected]⁠⁠





...more
View all episodesView all episodes
Download on the App Store

Sozinha de siBy Mayra Abbondanza - Ghostwriter