Por:William Regal.
A prática da Maçonaria, uma organização fraterna envolta em história e tradição, é anterior até mesmo à Bíblia Sagrada. É uma surpresa para muitos, então, que a Bíblia desempenhe um papel significativo nos rituais e cerimônias maçons.
Isso levanta uma questão intrigante: por que uma instituição como a Maçonaria, que possivelmente existia antes do advento da Bíblia, a incorporaria a seus ritos?
Raízes Históricas da Maçonaria
O primeiro passo para entender isso envolve mergulhar nas raízes históricas da Maçonaria. A mais antiga menção registrada da Maçonaria está no manuscrito Halliwell, também conhecido como Poema Regius. O manuscrito, que se acredita ter sido escrito entre 1390 e 1425, menciona explicitamente a Maçonaria, muito depois da época de Cristo e da escrita da Bíblia.
Outros documentos históricos, como o Manuscrito de Matthew Cooke, sugerem a existência da Maçonaria antes mesmo de a Bíblia ser escrita, ligando a organização a personagens bíblicos. Uma referência notável no Manuscrito Cooke traça as origens da Maçonaria até a sétima geração depois de Adão, um personagem da narrativa da criação do Gênesis. De acordo com este manuscrito, o filho mais velho de Lamech, Jabal, descrito como o primeiro a descobrir a geometria e a alvenaria, é considerado o primeiro maçom.
A jornada histórica da Maçonaria continua com Euclides, o famoso matemático grego que viveu por volta de 350 a 250 antes do nascimento de Cristo e da redação do Novo Testamento. A Maçonaria então chegou à Inglaterra sob o reinado do rei Athelstan de 924 a 939 d.C.
Mas a pergunta permanece: por que a Bíblia foi integrada à Maçonaria?
A Maçonaria é menos sobre religião e mais sobre ensinamentos morais e éticos. A Bíblia, com suas ricas narrativas e lições de moral, fornece uma fonte universalmente reconhecida de tais ensinos. Durante os tempos do rei Athelstan e da escrita do Poema Regius, a religião era parte integrante da vida cotidiana. Todos os aspectos da vida eram influenciados por ensinamentos e cerimônias religiosas, tornando as lições de moral da Bíblia bem conhecidas e amplamente compreendidas.
Essas lições morais da Bíblia foram ensinadas por séculos e alcançaram um status universal. Eles estão enraizados na história humana e são algo com o qual podemos nos conectar, independentemente de nossas crenças individuais. Portanto, o uso da Bíblia Sagrada na Maçonaria não visa promover o cristianismo ou salvar almas, mas transmitir lições de moralidade para promover melhores interações entre si e com toda a humanidade.
Embora a Maçonaria esteja aberta a pessoas de todas as religiões, ela ainda pode usar a Bíblia Sagrada como guia ou modelo para ensinar essas lições morais. Esses ensinamentos, profundamente enraizados em nossa consciência coletiva, fazem parte de nossa história humana compartilhada.
A universalidade dos ensinamentos morais da Bíblia permite que uma organização como a Maçonaria, que pode incorporar muitas religiões diferentes, possa usá-la com eficácia. A ênfase não está nos aspectos religiosos da Bíblia Sagrada, mas em seus ensinamentos morais que são verdadeiramente universais e estão enraizados na história humana há séculos, senão milênios.
Em conclusão, a integração da Bíblia Sagrada na Maçonaria aponta para um foco em valores morais universais ao invés de doutrina religiosa. Essa perspectiva histórica não apenas fornece uma compreensão de por que a Bíblia Sagrada está presente na Maçonaria, mas também ressalta o apelo universal das lições de moral que transcendem as fronteiras religiosas. Apesar das lacunas na narrativa histórica, essa perspectiva oferece uma resposta convincente ao motivo pelo qual uma organização anterior à Bíblia viria a integrá-la tão profundamente em suas cerimônias e rituais.
OBSERVAÇÃO
Observe que este relato, embora baseado em documentos históricos e interpretações pessoais, não é de forma alguma exaustivo ou definitivo. A rica história da Maçonaria é complexa e multifacetada, e uma exploração mais aprofundada de sua relação com textos religiosos como a Bíblia pode produzir várias perspectivas e interpretações.
Na verdade, a confluência da história, religião e moralidade dentro da Maçonaria convida a uma multiplicidade de pontos de vista. Os documentos e manuscritos históricos mencionados anteriormente, como os manuscritos de Halliwell e Cooke, embora inestimáveis, não oferecem um quadro completo das origens da Maçonaria ou de sua intricada relação com a Bíblia. Esses relatos, no entanto, fornecem informações valiosas e nos ajudam a tecer uma narrativa que dá sentido ao intrincado vínculo entre a Maçonaria e a Bíblia.
Também é crucial entender que a presença da Bíblia na Maçonaria não a torna uma instituição religiosa, nem se esforça para propagar quaisquer crenças ou ideologias religiosas específicas. Em vez disso, usa os ensinamentos morais da Bíblia como uma ferramenta para imbuir seus membros com um senso de moralidade e responsabilidade ética. Esses ensinamentos, atemporais e universais, ressoam com indivíduos de diferentes religiões e origens culturais, tornando-os ideais para uma organização inclusiva como a Maçonaria.
Além disso, a inclusão da Bíblia Sagrada na Maçonaria serve para destacar a aceitação de múltiplas fés pela organização. A Maçonaria, ao usar a Bíblia, permite a seus membros a liberdade de interpretar seus ensinamentos à luz de suas próprias inclinações religiosas ou filosóficas. Este aspecto da Maçonaria reflete seu compromisso com a tolerância religiosa e seu reconhecimento dos princípios morais compartilhados que sustentam várias fés.
Incorporar a Bíblia Sagrada na Maçonaria não é afirmar um ponto de vista religioso singular, mas sim aproveitar os temas universais da moralidade presentes na Bíblia. Essa abordagem aumenta a universalidade da Maçonaria, permitindo que ela supere as divisões religiosas e culturais enquanto enfatiza os valores morais e éticos comuns.
De certa forma, a integração da Bíblia Sagrada pode ser vista como o reconhecimento da Maçonaria da experiência humana compartilhada e a busca universal pela compreensão moral. Simboliza o compromisso da organização em promover um ambiente de respeito mútuo, tolerância e responsabilidade moral compartilhada.
A história da relação da Maçonaria com a Bíblia, embora complexa e não totalmente compreendida, lança luz sobre o foco da organização nos princípios morais universais sobre o dogma religioso. É uma prova do apelo duradouro dos ensinamentos morais da Bíblia, seu amplo reconhecimento em diferentes culturas e religiões e sua capacidade de promover a compreensão e o respeito mútuos entre indivíduos de diversas origens.
Pensamentos finais
A presença da Bíblia Sagrada na Maçonaria ressalta o foco da organização na moralidade, sua aceitação da tolerância religiosa e seu compromisso de promover um senso de responsabilidade moral compartilhada entre seus membros. A história dessa relação, embora intrincada e multifacetada, oferece uma visão convincente do apelo universal da Maçonaria e sua relevância duradoura em um mundo diverso e plural.