Por milênios, tradições sempre foram objeto da observância das sociedades mais evoluídas. Para alguns, o excesso de apego as tradições pode levar ao nanismo social e ao subdesenvolvimento. Porém, essa é uma visão equivocada, visto que, tudo, em excesso, mesmo à inovação, pode ser prejudicial.
Porém, numa sociedade onde os ritos e a dinâmica da própria vida é ditada sob a égide do consumismo e do materialismo extremado, nada mais comum do que combater tradições, pois são elas que fincam os pés do homem na rocha serena da sabedoria e, dá ao mesmo um grau de consciência e elevação espiritual, que não é interessante para aqueles que se alimentam da ignorância e a utilizam para lucrar, para sobrepor valores e para manter a hegemonia do seu Status Quo.
Nós, Maçons, somos tradição. É nos Ritos Antigos e consolidados por nossos antepassados que buscamos o renovo de nossas almas imortais e da elevação de nossas consciências. Sobrepujar as tradições seria o mesmo que voltar ao estado fundamental, primitivo e incauto de onde cada um de nós um dia saímos. Os tijolos que construímos nossa nova identidade são forjados no fogo sublime das tradições e dos Ritos memoráveis de nossos antepassados e daqueles que vieram antes de nós para nos exortar e ensinar a ser homens melhores, extinguindo-nos do fogo efêmero das vaidades e das superficialidades que, um dia, tomou conta de nosso espírito e nos fez como aqueles que correm atrás do vento e nada constroem.
Infelizmente, existem pedras brutas que são difíceis de serem lapidadas e insistem em existir no estado de monolito, ao invés de torna-se diamantes nas mãos do Eterno Ourives. Muitos desses, estão entre nós e, por não entenderem o grande mistério que é ser um Maçom, levam uma vida conformada e incipiente nos átrios laterais, à revelia do oceano de sabedoria a ser navegado preferem ficar apenas nas margens insulares do conhecimento, o que, para eles já é mais que o bastante. Muitos desses, são movidos por ventos de doutrina ou por ideologias efêmeras e transitórias, que existem hoje, mas que daqui a alguns meses ou anos, serão apenas história.
Devemos observar que o homem que abraça essas “pantomimas” temporais é semelhante a nuvem que não traz chuva ou a semente que ocupa a terra, mas não cresce e não traz frutos. O grande perigo de abraçarmos ideologias progressistas ou que refutem as tradições é o fato de nos tornarmos qualquer outra coisa que não seja mais nossa Amada Maçonaria. Como Maçons, devemos nos precaver dos efemerismos atemporais que surgem e desaparecem de tempos em tempos e focarmos em nossa maior e mais sublime coluna: as tradições.
Abraçar ideologias que são passageiras deturpa o estado de nosso espírito e nos leva as contendas apaixonadas pela hegemonia da razão, um campo vasto e perigoso, no qual todos querem sobrepor seus pontos de vista e visão de mundo, esquecendo-se do ato fundamental da escuta. Numa terra em que todos querem ter razão e na qual ninguém sede é extremamente difícil manter a razão e o espirito elevado. Esse, porém não é um convite ou uma ordenança a humildade irracional, subliminar e compulsória, mas um alerta sobre a importância de manter o foco na razão e nas colunas que construíram e mantiveram nossa ordem a atravessar os séculos que nos trouxeram até aqui.
No passado, não muito distante, diversas ideologias surgiram e desapareceram sem deixar rastros no panteão da história moral da humanidade e, as poucas que ficaram, só nos servem hoje como motivo de contenda e de dissolução. Qual o objetivo então se lutarmos tanto, uns contra os outros para manter acesa a chama de ideologias, que ao invés de nos unir, nos espalha como grãos levados pelo vento, que ao invés de caírem numa terra fértil, nos espalham pelos desertos da ignorância?
Essas ideologias hoje, contaminam a nossa Instituição com contendas e com a falta de razoabilidade, fazendo com que voltemos a nos assemelhar aos profanos, que pelejam por qualquer coisa, sem se utilizar da dialética da razão para resolver seus conflitos. Nós Maçons, devemos nos opor a essa linha de conduta e voltar nossos olhos para a coluna central de nosso templo interior: a sabedoria.
Existe algum modo de sabedoria entre Irmãos que contendem pela hegemonia da razão? Existe alguma razoabilidade em manter esticado o cabo de guerra que atiça os humores entre irmãos? Existe alguma paz onde diferentes correntes ideológicas buscam puxar para si o controle de mentes e corações? Não Irmãos, não existe.
O verdadeiro Maçom é comparável a nuvem que traz chuva, a semente que é plantada em boa terra e a voz que traz a razão. Nenhum Maçom deve se ater a discussões que gerem contendas com seus Irmãos e, se assim o for, esse ainda não entendeu o grande mistério da Maçonaria, qual seja: transformar a pedra bruta em diamante lapidado pela moral, pela ética e pela elevação espiritual.
Por isso Irmãos, esse pequeno aparte, não tem o objetivo de constranger os Irmãos ou mesmo servir de “pito”, àqueles que abraçam posturas progressistas ou qualquer outra, mas tão somente servir como ponto de reflexão para que, a todo instante, nos lembremos de onde viemos e para onde estamos caminhando. Viemos do deserto da ignorância dos incautos, no qual vivemos em algum lugar de nossa história e, a partir do momento que abraçamos o sublime caminho, que leva aos Portais Sagrados da sabedoria, adentramos em um mundo novo, no qual a sabedoria e a razão se tornaram nosso estandarte e nossa estrada, ou, como diz o texto sagrado dos cristãos, “A lâmpada para nossos pés”, portanto, convoco os Irmãos a prestarem mais a atenção nas tradições milenares que são formatadoras de nossa Ordem, que nos induz a lutar pela elevação do homem, pela harmonia e a fraternidade entre os Irmãos e pela paz com todos, pois é assim que construímos seres mais elevados e mais adequados a levar sobre seus ombros a responsabilidade de ser um verdadeiro Maçom.
Acreditamos que não é quebrando Ritos e derrubando os marcos antigos que iremos evoluir enquanto pessoas e enquanto civilização. Abraçar ideologias vazias e efêmeras, que não resistem ao escrutínio do tempo, não nos torna mais Irmãos ou mesmo melhores Maçons, pelo contrário, quebra a lança que nos conduz a sabedoria e ao entendimento dos macrocosmos que vivemos e nos deixa vulneráveis a comparação inevitável com os profanos, que ainda não alcançaram o saber maior que é viver em harmonia entre Irmãos. O verdadeiro Maçom não vive sozinho, não anda por caminhos tortos, não rompe acordos ou trai seu Ritos. O verdadeiro Maçom deve sua lealdade e sua existência apenas à construção de um ser humano melhor, mais evoluído, sob o escudo da sabedoria suprema do Grande Arquiteto Do Universo, que é aquele que detém todos os Mistérios.
Se sob a pedra angular da sabedoria erguemos nossa comunhão e nossa Ordem, então qual o objetivo de abraçarmos ideologias progressistas que atentam contra essa harmonia? Desse modo, a alma de um verdadeiro Maçom deve estar cativa ao entendimento de que ele é, para esse mundo torpe e vazio, um farol de luz, que ilumina com sua sabedoria as sombras da ignorância, jamais se junta a ela em sua transitoriedade, mas serve sim, de Coluna para que aqueles que necessitam de um referencial o vejam como tal.
Que o Grande Arquiteto Do Universo nos ilumine a todos e nos conceda vida para que possamos entender os Mistérios que virão e aqueles que ainda não conseguimos entender, que nos dê sabedoria para buscar sua compreensão. Nos faça uno e não como as folhas que são levadas pelos ventos do outono cinzento da vida, mas que nos fortaleça como os rochedos que se atracam em luta violenta com o mar, mas que não são atingidos por tais mares e lá estão sob a dura clava do tempo, incorruptíveis e inexpugnáveis, para todo o sempre, independentemente das doutrinas ou das ideologias que vem e que vão à revelia da sabedoria milenar.
Narciso Bastos PORTELA - Membro da Loja União e Resistência n. 30 e Fênix de Brasília n. 40, Oriente de Brasília-DF
Leonardo MARCHEZI dos Reis – Membro Loja Irmão Oswaldo Albernaz n. 3258 do Oriente Vitória-ES