A palavra porta, que deriva do latim e significa passagem estreita, evoca uma noção antiga e sagrada, já presente entre os egípcios que construíam pilares com passagem estreita na entrada dos templos, que com seu frontão sugeriam uma ponte entre dois mundos. A porta do templo é tradicionalmente um dos elementos mais ricos do ponto de vista artístico. As portas dos templos costumam ser adornadas com pinturas e esculturas que funcionam como um livro ilustrado.
Exemplo desta característica podem ser encontrados nos portais das catedrais góticas ou românicas de Chartres, Reims ou outras, onde se podem admirar representações de cenas bíblicas, virgens com criança, figuras de santos e apóstolos esculpidas em pedra e destinadas a transmitir aos à população analfabeta uma mensagem cristã de valor educativo.
A intenção das decorações era também estimular os fiéis a se aproximarem de Deus, a entrarem na igreja, a cruzarem o limiar do despertar.
Este convite para entrar na igreja pode parecer contrastar com o simbolismo usado pelos antigos egípcios e pelas próprias tradições maçónicas e hindus, que concebem a porta do templo como um lugar a ser guardado (defendido por guardas ou feras, leões, dragões ou grifos colocados nas laterais de templos como o babilônico) ou por esfinges em frente às pirâmides egípcias.
A porta do templo pode, portanto, assumir dois significados diferentes: num primeiro sentido, pode aparecer como um convite e uma abertura, enquanto num segundo sentido, pode parecer hostil e só pode ser aberta se alguém for digno. Neste caso torna-se hermeticamente aberto, ou seja, acessível apenas aos iniciados.
Na milenar civilização egípcia, a majestade e a severidade dos animais selvagens refletiam-se na iconografia de divindades como Anúbis, o deus com cabeça de chacal, que guiava as almas dos falecidos para o reino do outro mundo, vigiava os portões do o submundo e presidiu o julgamento das almas na balança de Maat.
No que diz respeito ao templo maçónico, não se trata de uma realidade arquitectónica, mas sim de um “templo em espírito”, que se inspira na construção do templo de Jerusalém do rei Salomão, narrada na Bíblia, mas de origem mais antiga, ou seja, egípcio. A entrada do templo, segundo esta tradição, era fixada no Hekal (parte coberta reservada aos sacerdotes) por duas colunas de bronze erguidas por Hiram e denominadas Jakin e Boaz; Jachin significa “aquele que estabelece” em hebraico e Boaz significa “força nele”.
O acesso ao templo estava indissociavelmente ligado às suas duas colunas que, no entanto, não sustentavam nada e esta passagem, reservada apenas ao iniciado, ativou uma dinâmica de construção e consolidação, ajudando a fortalecer o templo, atraindo a força divina. A soleira do edifício sagrado, símbolo da dimensão cósmica da Arte Real, abre-se para Poente, onde o sol desce e vira-se para Nascente, no centro do arco solar entre o ponto mais baixo e o ponto mais alto. Ladeiam-no duas colunas solsticiais, representando o deus Janus, senhor das portas, detentor das chaves e com duas faces. O seu olhar tem um duplo sentido: um espacial, que zela pelo acesso ao templo, impedindo a entrada ao profano, e um interno, que garante a harmonia que ali reina. O outro significado é temporal: em harmonia com o ciclo solar, Janus representa o segundo São João, guardião não só dos portões celestes, mas também do início do ciclo anual no solstício de inverno, quando a luz solar está no seu melhor mínimo e inicia sua subida. Janus era a divindade latina das portas e é também o mais antigo dos deuses latinos, sempre invocado antes de Júpiter. Ele presidiu os portões do céu e o domínio dos deuses. Deus romano dos começos, entradas e passagens, teve o papel de iniciador.
Janus, o guardião dos umbrais, sempre apareceu com duas caras: com um olhar examinava o passado e com o outro o futuro; ou com um dirigiu-se à terra e o outro ao céu, em virtude da sua "dupla ciência" que lhe foi concedida pelo deus Saturno em troca da sua fidelidade. Os seus santuários ficavam às portas das cidades; em Roma seu templo tinha a particularidade de ter as portas escancaradas em tempos de guerra, para indicar que o Deus havia partido para a batalha, e fechadas em tempos de paz porque voltava ao seu local de culto para proteger a cidade. A porta do templo, além de ter um valor estético e arquitetónico, era sobretudo uma “passagem” que implicava uma dualidade: havia o fora e o dentro, o antes e o depois, o ruído e o silêncio. Em todas as tradições, rituais com forte significado simbólico foram associados a este acesso.
Em quase todas as culturas encontramos nesta passagem um rito antigo, o da purificação, que permitiu aos fiéis de todas as religiões, e ao iniciado maçónico, serem dignos de entrar no santuário.
Com as mãos protegidas por luvas brancas, símbolo de pureza, o maçom coloca seus metais na entrada do templo. Assim como os cristãos se borrifam com água benta para entrar na igreja, ou os muçulmanos tiram os sapatos para entrar na mesquita.
Além disso, a porta do templo marca solenemente as fases da vida de quem por ela passa. Na religião cristã, por exemplo, a noiva vai à igreja ao lado do pai e sai acompanhada do marido, selando uma nova e importante etapa em sua existência. Mesmo no adro, em frente à porta, realizam-se gestos sagrados e solenes.
Na Bíblia, a soleira do templo às vezes é cenário de maravilhas. Nos Atos dos Apóstolos, capítulo 3, é narrado um aleijado de nascença que pedia esmola na porta do templo e Pedro e João lhe intimaram, em nome de Jesus: “Levanta-te e anda” e o milagre acontece. . Lá fora, em frente à porta, o rei administra a justiça.
A porta do templo é o símbolo da transformação que o leigo deve fazer para ter acesso à sabedoria maçônica. Não é uma simples abertura, mas um limiar que exige mérito, sacrifício e vontade. O leigo vendado deve se curvar para passar pela porta estreita, como se fosse renascer para uma nova vida, deixando para trás as trevas da ignorância e aproximando-se da luz do conhecimento. Ele também deve enfrentar as provações dos três elementos, guiado pelas duas colunas que representam a dualidade do ser humano e a porta do templo é o símbolo da transformação que o leigo deve fazer para ter acesso à sabedoria maçônica. Não é uma simples abertura, mas um limiar que exige mérito, sacrifício e vontade. O leigo vendado deve se curvar para passar pela porta estreita, como se fosse renascer para uma nova vida, deixando para trás as trevas da ignorância e aproximando-se da luz do conhecimento. Ele também terá que enfrentar as provações dos três elementos, guiado pelas duas colunas que representam a dualidade do ser humano e seu equilíbrio. Entre as colunas é gerada uma força ternária, uma energia vital, uma alma nova, capaz de praticar V.I.T.R.I.O.L., ou a busca pela essência interior. Assim o profano despoja-se do velho e da sua vida profana, e dedica-se a trabalhar a pedra bruta para transformá-la em pedra cúbica, construindo o seu templo interior.
A porta do templo é também o símbolo do desejo de ir mais longe, de se encontrar consigo mesmo e com os outros, de se aproximar do sagrado e da transcendência. Entrar no templo significa mudar de dimensão, assumir uma solenidade, sair da condição humana e entrar em comunhão com o divino. Por fim, a porta do templo é o símbolo do sentido da vida, de uma nova ética, da compreensão das portas que atravessamos e que voltaremos a cruzar. O tempo não para, mas o passado e o futuro se encontram no presente, e olhar para as nossas ações é sempre uma oportunidade de crescimento.
C.L.