radioAmor

a rotina boa e a rotina má


Listen Later

Olá, bem-vindos.

Não foi pensado, estrategicamente planeado como tantas vezes o fiz, e acho que, talvez por isso, seja a decisão certa, tantas vezes adiada, protelada, evitada a favor de algo que sei identificar, mas que me recuso a reconhecer por me achar imune a tudo isso. Começou com um objectivo, evoluiu para outro e chegou ao ponto em que tudo se confundia e misturava. Das cinco razões pelas quais as pessoas estão presentes e partilham conteúdos nas redes sociais, só um me preenche verdadeiramente, enquanto sofro, em silêncio, por não corresponder aos outros e, portanto, por ser constantemente prejudicada com isso. Por isso hoje, aqui e agora, para ti que não estás nem aí porque sabes que, mais cedo ou mais tarde, a tua sexta-feira fala de Amor, anuncio que abandono o instagram. Se me conheço, será por fases, diminuindo a presença, usando apenas se e quando me apetecer até chegar ao ponto em que digo, como fiz para o WhatsApp, que apaguei a minha conta e a aplicação.

Se perco mais seguidores do que aqueles que ganho, se travo uma batalha pela atenção de um algoritmo pensado para me fazer investir (tempo e dinheiro) e se me incomoda a oscilação constante do número de seguidores (e não falo de perder meia dúzia para ganhar outra meia, falo de centenas) é porque: ou estou a fazer algo errado ou a plataforma não funciona para mim. Como é uma questão que se arrasta há muito tempo, not gonna work, porque se as contas das marcas com as quais trabalho continuam a crescer, então o problema sou eu. E eu não quero ser um problema. Porque eu sei que não sou um problema.

Haja auto-confiança, cabeça fria e amor próprio para aguentar isto.

Eu sou - fui sempre - aquela pessoa que vive de forma paralela ao conceito de rotina, fugindo dela a sete pés e integrando-a no meu caótico dia a dia para, minimamente, o estruturar. Por essa razão, acredito no poder da(s) rotina(s) para nos ajudar a ter uma estrutura a qual temperamos com um certo caos para não se tornar aborrecida.

Ontem, no instagram, escrevi sobre o sentido da vida sem saber que estava a fazer uma espécie de despedida. Para já, não vou desaparecer, vou apenas abrandar porque:

- conheço cada vez mais pessoas com cada vez menos interesse em usar a app

- há cada vez mais novos utilizadores com uma abordagem característica de outras redes sociais, contrária àquela que definia o “instagram”

- a aplicação está cada vez mais descaracterizada

- tenho cada vez menos tempo (e disponibilidade) para produzir conteúdos relevantes

E escrevi sobre o sentido da vida porque, numa cada vez maior falsidade intelectual, superficialidade conservadora e pseudo elitismo, há muito mofo espalhado na nossa sociedade que se mistura com a expansão da mente e abertura criativa dos que esbarram nas limitações da frivolidade despreocupada.

Estamos todos assim. Uns mais do que outros e há espaço para todos.Escrevi que a pandemia foi um golpe baixo na nossa auto-estima e saúde mental, um knock out para quem já estava mal e um grito de alerta para quem não pensava muito nisso, e trago isto para aqui porque o texto era indirectamente sobre a rotina. Escrevi sem pensar, sem a reflexão prévia que normalmente acompanha os meus textos. Deixei fluir e agora, à distância, sei que escrevi uma espécie de carta de despedida. Falta-nos propósito, ao mesmo tempo que o temos em demasia e acabamos frustrados.O propósito não é apenas aquilo que nos faz vibrar e saltar da cama todos os dias, prontos para trabalhar. É o propósito que nos faz fazer mais do que devíamos ou precisamos, porque vem de dentro e expressa-se em cada pequeno gesto. É sabermos que o que estamos a fazer nos preenche, preenchendo o outro porque, inevitavelmente, fazemos para nós, mas fazemos sobretudo para o outro. Sem comparação, não é disso que falo. Somos seres gregários, gostamos da ideia de comunidade, de contribuir para um bem maior e de dar de nós para melhorar a vida de alguém. E quando à nossa volta tudo começa a desagregar, quando lentamente a estrutura começa a implodir, sabemos que é tempo de agir. E começam as dúvidas, porque não sabemos por onde começar. Como a amiga, com quem conversava antes de partilhar no instagram, dizia, saber que mudámos alguma coisa em alguém tem de ser suficiente. Saber que plantámos uma semente, também. Nem sempre conseguimos ver os resultados dessa semente e, em acumulação, leva a frustração. Daí a rotina, porque precisamos de rotina(s) para estruturar a nossa vida, mas uma vida rotineira pode ser muito cansativa. Obrigada por gostares desta rotina e voltares todas as semanas!

P.



This is a public episode. If you would like to discuss this with other subscribers or get access to bonus episodes, visit paulacordeiro.substack.com
...more
View all episodesView all episodes
Download on the App Store

radioAmorBy Paula Cordeiro