Poema de Fernando Faro no encarte do álbum O Trem Azul, de Elis Regina.
Agora, o braço não é mais o braço erguido num grito de gol.
Agora, o braço é uma linha, um traço, um rastro espelhado e brilhante.
E todas as figuras são assim: desenhos de luz, agrupamentos de pontos,
de partículas, um quadro de impulsos, um processamento de sinais.
E assim — dizem — recontam a vida.
Agora, retiram de mim a cobertura da carne, escorrem todo o sangue,
afinam os ossos em fios luminosos,
e aí estou, pelo salão, pelas casas, pelas cidades, parecida comigo.
Um rascunho. Uma forma nebulosa, feita de luz e sombra.
Como uma estrela.
Agora, eu sou uma estrela.