Por Ranier AlvesEM QUE PLANETA ENCONTRA-SE A REVISTA VEJA? Frente à atual crise institucional, moral, financeira e politica enfrentada pelo Brasil nos últimos tempos, agravada pelos recorrentes escândalos de corrupção, a revista Veja, a qual carinhosamente trato de “peleja”, me lança uma matéria que traz como titulo: Marcela Temer: bela, recatada e “do lar”. Um dia após o espetáculo “trágico-cômico” que foi a votação do processo de Impeachment da presidenta Dilma Rousseff, no dia 17 de abril 2014. Dos absurdos noticiados pela revista nos últimos tempos, em nada me ofende sua eterna busca pela desmoralização da corja de políticos brasileiros. Embora faça isso de forma partidária, a mim pouco importa, uma vez que estes pobres inocentes se tornam vitimas de seu próprio veneno: a mentira! Mentira essa, diga-se de passagem, que é grande especialidade de nossos representantes parlamentares. Mas o que de fato enojou-me profundamente foi o discursos misógino, machista, retrógrado e pretensioso ao qual se propôs a revista "peleja" com tal matéria. Misógino, porque evidencia claramente o desprezo e a aversão à capacidade técnica e intelectual das mulheres, bem como o repúdio à ascensão feminina aos cargos de maior nível hierárquicos no mercado de trabalho, na politica e na sociedade como um todo. Retratando a figura feminina como um mero objeto, como é exposto neste trecho da reportagem: “Bacharel em direito sem nunca ter exercido a profissão, Marcela comporta em seu curriculum vitae um curto período de trabalho como recepcionista e dois concursos de miss no interior de São Paulo (representando Campinas e Paulínia, esta sua cidade natal). Em ambos, ficou em segundo lugar. Marcela é uma vice-primeira-dama do lar. Seus dias consistem em levar e trazer Michelzinho da escola, cuidar da casa, em São Paulo, e um pouco dela mesma também (nas últimas três semanas, foi duas vezes à dermatologista tratar da pele)”.
Machista, porque retrata a figura feminina como um ser incapaz e completamente dependente dos homens, submissa a toda e qualquer figura masculina, chegando ao cúmulo de reduzir as mulheres a um mero espectro de seus parceiros, uma espécie de parasita das "magnânimas e soberanas criaturas de cromossomo X". O que se observa neste patético trecho da reportagem. “Marcela Temer é uma mulher de sorte. Michel Temer, seu marido há treze anos, continua a lhe dar provas de que a paixão não arrefeceu com o tempo nem com a convulsão política que vive o país - e em cujo epicentro ele mesmo se encontra. Há cerca de oito meses, por exemplo, o vice-presidente, de 75 anos, levou Marcela, de 32, para jantar na sala especial do sofisticado, caro e badalado restaurante Antiquarius, em São Paulo. Blindada nas paredes, no teto e no chão para ser à prova de som e garantir os segredos dos muitos políticos que costumam reunir-se no local, a sala tem capacidade para acomodar trinta pessoas, mas foi esvaziada para receber apenas "Mar" e "Mi", como são chamados em família. Lá, protegido por quatro seguranças (um na cozinha, um no toalete, um na entrada da sala e outro no salão principal do restaurante), o casal desfrutou algumas horas de jantar romântico sob um céu estrelado, graças ao teto retrátil do ambiente”. Retrógrado, porque a revista Veja parece estar em outro planeta, no planeta dos anencefálicos, incultos e por hora cegos, surdos e mudos, pois no mundo em que vivemos as mulheres são criaturas brilhantes e revolucionárias, que colaboram diretamente para o avanço da civilização humana. Utilizar-se de práticas corriqueiras, como ir ao salão de beleza e comprar sapatos e roupas, não são dados relevantes sobre a capacidade de administração da vida cotidiana de uma mulher, e se quer deveriam ser traçados. Como exemplo, em todas as imagens que vi de Marie Curie, ela sempre me pareceu bela, recatada e do lar. Entretanto, isso não a impediu de encontrar dois novos elementos químicos, o rádio e o polônio,