Memória Capixaba de Fábio Pirajá

Aspectos da Imigração Europeia e Chinesa no Brasil - Basílio Daemon e Pinto Pacca - Parte II (1890)


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Aspectos da Imigração Europeia e Chinesa no Brasil - Basílio Daemon e Pinto Pacca - Parte II (1890)
### O ESTADO DO ESPÍRITO SANTO - Imigração Chinesa
A nós, como sem dúvida a todo o público da capital, causou ontem surpresa o aparecimento, em colunas de outra folha local, da continuação dos artigos que os senhores doutores Antônio Aguirre e Nogueira Brandão haviam iniciado neste jornal, apregoando as vantagens da colonização chinesa para o nosso país.
Cumpre-nos, portanto, o dever de declarar que, de nossa parte, nenhuma quebra de delicadeza ocorreu que pudesse motivar essa descortesia dos autores dos referidos artigos.
Embora adversários da ideia que defendem, mantivemo-nos sempre na linha do dever de jornalistas democratas, não maculando a hospitalidade que haviam solicitado em nossas colunas editoriais, nem impondo quaisquer restrições à enunciação de suas ideias e conceitos.
Esta explicação reputamos necessária para orientar o juízo da opinião pública e, particularmente, dos nossos assinantes.
Para excluir e obliterar qualquer noção de má-fé e parcialidade, afirmamos: na preconizada civilização chinesa, nunca nos vimos inclinados a reconhecer os elementos precisos para a regeneração de nosso meio. Em suma, a substituição do clima tropical por outro subtemperado, ou temperado, em que vivem os chineses, ao sabor das vicissitudes, não nos parece oportuna.
Não nos admiramos de nossa fé inquebrantável quando observamos as reações de nosso tempo e civilização. É civilizado, nos parece, o povo que, por mais livre que seja, é preso por ambições menores. Civilizado é o povo que, mesmo moldando seus governos e mostrando-se erudito, torna-se escravo da superstição.
Nós, que temos por regra analisar sempre as coisas pelo prisma dos resultados finais, não podemos ignorar que, embora hospitaleiros fossem os festejos da colônia, também há uma massa de ignorantes que compõe este exército de trabalhadores, e suas crenças e práticas frequentemente destoam da nossa civilização.
Reconhecemos, no entanto, que o chinês é a criatura mais submissa, pacífica e afável, especialmente com crianças. Tal constatação poderia ser vista como modelo inspirador, digno de ser transplantado.
Para que não nos acusem de exagero, oferecemos uma reflexão que, se não é inteiramente verdadeira, muito se assemelha: é notável o abismo imenso entre a China e o Japão, a diferença no tratamento do operário e no respeito ao indivíduo enquanto ser humano. Na China, há prevalência de exploração do mais fraco e a perpetuação de sistemas de desigualdade social.
No Brasil, como na China, as massas seguem o instinto do interesse imediato. O trabalhador chinês é visto como ignorante e de condição inferior, sendo explorado em virtude de sua submissão. Tal exploração, ainda que produtiva, não promove a dignidade humana.
Devemos também destacar que a China é um país onde humilhações históricas se tornaram tradições, e a impunidade prevalece como regra. É um local onde as instituições não estimulam o progresso e onde a religião frequentemente se alia a interesses próprios.
Evidentemente, é necessário cuidado ao tratar do tema da imigração. O relatório do doutor Nicolau Moreira já apontava a relevância de estudar a imigração e colonização na América do Sul, incluindo a imigração asiática. Países como a Guiana Inglesa, Jamaica e Austrália também têm experimentado vastas populações de imigrantes chineses, frequentemente empregados como carregadores e trabalhadores braçais.
O trabalhador chinês (coolie) é, em sua maioria, desprovido de qualquer educação formal, vivendo em condições precárias, sem acesso a livros ou informações. Sua migração reflete as necessidades de sobrevivência de sua terra natal. No entanto, importar tais trabalhadores para o Brasil seria admitir a continuidade de uma lógica de exploração e desigualdade.
Não podemos ignorar que a imigração europeia trouxe ao Brasil indivíduos mais instruídos, provenientes de raças que se integraram ao nosso tecido social, promovendo progresso e civilização. Ao contrário, a imigração chinesa, por suas características, dificilmente contribuirá de forma positiva para nosso desenvolvimento.
É crucial que organizemos o trabalho de forma a privilegiar a imigração de europeus, indivíduos que, por sua formação e cultura, possam contribuir para o avanço intelectual e material de nossa sociedade.
Enfim, ao refletirmos sobre o custo da imigração europeia e sua contribuição, torna-se evidente que, apesar dos custos, sua influência foi essencial para nosso progresso. Promover a imigração chinesa, por outro lado, seria uma decisão precipitada, cujas consequências poderiam se revelar desastrosas para o futuro do país.

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Memória Capixaba de Fábio PirajáBy Memória Capixaba