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Atrás do Retorno com Julio Vasconcellos e Victor Ramos


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Julio Vasconcellos e Victor Ramos são investidores no Atlantico, um dos principais fundos de Venture Capital da LatAm. A dupla criou o meu podcast preferido dos últimos 6 meses: o "Atrás do Retorno", no qual entrevistaram 12 dos maiores investidores brasileiros, desde lendas do Private Equity como Martin Escobari até figuras emblemáticas como o cofundador do Instagram, Mike Krieger.

Fui para o Rio de Janeiro explorar as lições fundamentais extraídas das 12 entrevistas, e como esses aprendizados influenciam suas próprias decisões de investimento no Atlântico.

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Insights

1. A Visão 360° é mais importante que a análise isolada

Para Júlio, o maior aprendizado foi sobre a importância da visão holística: "Os melhores investidores têm uma capacidade muito boa de dar dez passos para trás e ver aquela situação, aquele empresário, aquela empresa, dentro de um contexto setorial e histórico". Isso contradiz a percepção comum de que investir é principalmente um exercício de modelagem e análise de setor específico. É mais arte, do que ciência.

A visão ampla permite identificar padrões além dos dados imediatos, com vários entrevistados do podcast demonstrando interessante correlação entre excelência em investimentos e apreço por arte, música e literatura

2. Lidando com a complexidade: síntese supera análise

A pergunta que eu estava mais interessado era entender como grandes investidores lidam com a complexidade do mundo.

A resposta veio na prática interna do Atlântico. Há dois rituais:

* Resumir a tese de investimento em uma página.

* Construção do memo no qual a narrativa está em torno do “What we have to believe”, no qual poucas hipóteses são as mais importantes para o sucesso ou fracasso do investimento.

3. Macro versus Micro: Decisões no Longo Prazo

Praticamente todos os investidores entrevistados compartilharam a visão unânime de que o cenário macroeconômico tem impacto limitado no sucesso de seus investimentos de longo prazo. Florian Bartunek, Fersen Lambranho e outros grandes investidores convergiram neste ponto: embora o macro influencie prazos mais curtos, é o micro que determina o sucesso duradouro.

"O micro sempre ganha do macro", resume Júlio, observando que mesmo em tempos de instabilidade econômica, empresas excepcionais continuam prosperando.

Isso contrapõe a preocupação obsessiva com fatores macroeconômicos que permeia muitas discussões sobre investimentos no Brasil. "A gente no dia a dia, na discussão do dia a dia, na leitura do dia a dia, a gente coloca muito peso no macro, na política. Mas quando você tem um horizonte de longo prazo, essas mudanças de seis meses, ou até de poucos anos, acabam desaparecendo."

Até por isso que grandes empresas (e startups) são formadas em períodos turbulentos. O macro pode até afetar seu valuation e a liquidez do mercado, mas o seu produto, time e mercado é o que dita o seu destino. Macro é um bug, mas pode ser uma feature, afinal, volatilidade traz oportunidades e melhores preços para investir em empresas ou mercados de altíssima qualidade.

4. Intuição informada: um ativo subestimado

Martín Escobari, da General Atlantic, trouxe uma perspectiva que me fez pensar muito sobre a tomada de decisões baseada em "intuição informada", no qual a sua experiência passada com a pessoa, empresa, mercado, modelo de negócio te oferece informações “irracionais” de altíssimo valor para tomada de decisão. Por exemplo, é muito mais fácil ter intuição sobre pessoas que você conhece há anos versus aquelas que acabou de conhecer.

No mesmo assunto de intuição, Andy Rachleff, citado por Júlio, afirmava que "nunca fiz um investimento que deu muito certo que eu não sabia nos primeiros 30 segundos."

Essa intuição, contudo, não é mística, mas resultado de experiência acumulada. Júlio distingue: "A intuição sobre um tema ou situação que você não tem muita experiência, você deveria pesar menos. Se é sobre algo que você já viu muitas vezes, eu acho que deveria pesar mais, porque a intuição nada menos é do que um resumo do seu cérebro de um volume de informação infinito."

5. Documentando erros: a cultura do aprendizado

No episódio com Paulo Passoni, ele menciona uma prática particularmente impressionante: sempre que cometia um erro, documentava e enviava por e-mail para toda sua firma de investimento. Essa cultura de transparência sobre falhas emergiu como tema recorrente entre os grandes investidores.

"Todo mundo falou da naturalidade do erro, de que é comum você errar", observa Júlio. "Quase todos os entrevistados tinham aquela perspectiva de crescimento pessoal, aquele growth mindset... você sempre vê em toda oportunidade, inclusive nos grandes erros e fracassos, uma oportunidade de aprender e crescer."

6. O perigo do viés: o caso da Natura

Em um dos episódios mais impactantes, Luiz Orenstein da Dynamo compartilhou como o investimento de décadas na Natura criou um "apego" que dificultou enxergar sinais de alerta quando a empresa começou a enfrentar problemas. Esse viés congnitivo é particularmente crítico em venture capital, onde se tende a "torcer" muito pelo fundador ou pela tese.

No Atlântico, eles combatem esse risco com processos estruturados: "A gente tem uma reunião periódica para revisitar as nossas decisões de investimento... e ali a gente tem uma estrutura comum para discussão e um dos temas que a gente tem é exatamente uma lista de viéses pessoais do time, positivos e negativos", explica Victor. Tornar explícitos os viéses diminui sua influência inconsciente.

7. Falseabilidade: testando a robustez das teses

Uma das técnicas mais poderosas importadas pelo Atlântico é o processo de "falseabilidade" da Dynamo Investimentos: "A ideia é que o analista que está defendendo e liberando aquela análise é responsável por construir o case. E o papel de todos os outros é tentar falsificar as premissas daquilo", explica Victor.

Em vez de buscar confirmação, o time deliberadamente testa por que uma tese não funcionaria, garantindo que todos sejam incentivados a questionar e contestar as premissas. "Nesse processo, naturalmente, ou você identifica falhas ou você torna o teu racional muito mais robusto."

8. O risco do "poder imperial"

Luiz César Fernandes compartilhou uma lição valiosa sobre o chamado "poder imperial" - a tendência de líderes com grande concentração de poder pararem de escutar seus sócios ou equipe. Ele citou tanto sua própria experiência no Pactual quanto o caso recente da Americanas com Jorge Paulo Lemann, onde a concentração excessiva de decisões levou a falhas graves.

"Quando você tem um líder que talvez acredita demais na sua própria decisão, você tem um elemento ali quase que de arrogância e através disso você pára de escutar os seus sócios", observa Victor. Este risco é particularmente relevante para fundos e startups em crescimento, onde a dinâmica de poder precisa evoluir com a organização.

9. Multidisciplinaridade: a chave para sociedades de sucesso

A diversidade de perfis e habilidades emergiu como ingrediente crítico para sociedades bem-sucedidas. Victor cita o trio fundador do Pactual (Luiz César Fernandes, Paulo Guedes e André Jakurski): "Cada um deles tem uma personalidade muito diferente e agregando uma coisa essencial àquela sociedade inicial... O César como empreendedor e otimista, o Jakurski como gestor de risco, e o Paulo Guedes com a visão de longo prazo."

Esse modelo de complementaridade, onde cada sócio traz um "superpoder" diferente, cria uma equipe cuja soma é maior que as partes individuais.

10. Educando filhos: o poder do exemplo

Embora o foco do podcast seja investimentos, Júlio frequentemente perguntava aos entrevistados sobre educação de filhos - um tema que revela muito sobre valores e princípios. A lição mais consistente que emergiu foi sobre a força do exemplo.

"A importância do exemplo é muito mais do que você faz, como você faz, os seus filhos verem você fazer aquilo. Isso sendo 1000 vezes mais importante do que o que você fala", reflete Júlio. "Se você quer criar filhos com ética, seus filhos vendo você tomar decisões difíceis que talvez não são as óbvias, que demonstram essa ética, é importante."

O Equilíbrio entre Arte e Ciência

A expressão "a arte e a ciência de investir" serve como slogan do podcast, e essa dualidade permeia toda a conversa. É curioso a ênfase que os grandes investidores dão à arte ao invés da ciência.

Essa observação reflete um padrão entre os entrevistados: os grandes investidores valorizam elementos aparentemente subjetivos - intuição, criatividade, pensamento multidisciplinar - tanto quanto, ou até mais que, análises quantitativas rigorosas.

No mundo do venture capital, onde a assimetria de informação é inevitável e os métodos tradicionais de avaliação frequentemente falham, essa abordagem faz sentido. Como Júlio coloca: "Se você consegue encontrar de fato um produto ou serviço que encaixa com uma necessidade grande do mercado de uma forma muito única, o resto meio que se resolve."

Obrigado Júlio e Victor pelo espaço. Recomendo ouvir o Atrás do Retorno.

Capítulos:

(0:00) Introdução e propósito do podcast

(4:04) O maior aprendizado após 12 episódios

(6:27) Dualidade entre complexidade e síntese

(7:31) Como viés pode afetar decisões de investimento

(11:14) Erros de omissão e a importância de revisitar decisões

(15:05) Resumir uma tese de investimento em 1 página

(17:07) Como identificar o fator-chave de sucesso

(18:19) Macro versus micro na hora de investir

(22:33) Filtrar o ruído no excesso de informação

(26:01) Intuição como ferramenta decisiva

(32:10) O que define um analista ou sócio excepcional

(36:34) Os riscos da arrogância e do “poder imperial”

(49:01) O que o podcast mudou no processo do Atlântico

(51:08) Produzir conteúdo com profundidade e intenção

(54:25) Como escolher o que não fazer

(56:07) A decisão de criar o podcast e o impacto disso

(59:11) O futuro do “Atrás do Retorno”



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sunday dropsBy Lucas Abreu