A palavra “dialética”, em si, traz dificuldades nada desprezíveis. Primeiro, por estar historicamente carregada. Querendo ou não, a filosofia é afetada pela própria história e a reelaboração constante dos conceitos é inerente ao ato de filosofar. É uma consequência inerente ao gesto inaugural e inexpugnável da filosofia de se validar como problematização incessante de cada uma de suas novas respostas. Se a dialética foi uma das respostas para uma das dificuldades postas na Grécia Antiga, justamente aquela de lidar com as possiblidades e limites do pensamento discursivo, o seu conceito se modificou expressivamente e continua a se modificar face às novas perspectivas filosóficas, ligadas a novas épocas. Não é meu intento recobrir a história desse conceito, nem resgatar o seu sentido original (para tanto, deixo algumas referências), mas ensaiar, em parte, com base na raiz etimológica e, em parte, com base em alguns elementos platônicos, um delineamento da dialética como forma e arte humanamente acessível. Não uma arte fácil, devo dizer, mas que pode ser vista como recurso viável para todos que queiram qualificar o seu pensamento de um certo modo, o modo filosófico.