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Texto por Margareth Maria Demarchi e Samara Corrêa
[Atenção: Análise com Spoilers]
Para nos chamarmos de heróis ou de vilões de nossas próprias vidas precisamos fazer reflexões sobre vários momentos vividos, e o filme A vida em si (2018), do diretor e roteirista Dan Fogelman nos dá uma mãozinha para realizarmos algumas destas reflexões.
O que a princípio seria apenas a história de um casal nova iorquino que se apaixona na universidade, casam-se e se preparam para a chegada de sua primeira filha; acompanhada da história de outro casal, este espanhol, que têm suas trajetórias ligadas por um trágico acidente, o filme nos leva a várias possibilidades de reflexões sobre a vida… a dor… o julgamento…
Abby, a protagonista do casal nova iorquino (vivenciada pela atriz Olivia Wilde), nos incentiva a refletir sobre quando uma intensa dor permanece em nossas vidas. Ela perdeu os pais em um acidente de automóvel quando criança, cresceu levando consigo esta dor e as consequências por ela desencadeada.
E nós percebemos a nossa dor “guardada”?
Como identificá-la?
Quando esta dor é maior que o próprio amor pela vida, a dor toma a vida como meta. E se escolhermos reviver essa dor na vida, passa a existir o julgamento e a culpa.
Na história de Abby seu destino foi o mesmo que de seus pais. A dor foi sentida como separação, não foi compreendida pela mesma, e está a revive quando se vê grávida de uma menina.
Porém se trouxermos para a nossa realidade, o olhar para a vivência da dor, como um destino de quem viveu, a pessoa pode querer fazer algo diferente que transforme a dor em ação positiva, de forma a viver a realização em um sentido próprio, que alcance o amor, acima da dor. Como nos ensina o psiquiatra suíço Carl G. Jung, “Eu não sou o que acontece comigo, eu sou o que eu escolhi me tornar.” Exemplos desta ideia, é a filha de Abby, Dylan (vivida pela atriz Olivia Cooke), já jovem, que comemora seu aniversário cantando, ou melhor dizendo, gritando, extravasando toda sua raiva na única ‘música de amor’ do álbum que sua mãe mais gostava do cantor Bob Dylan (de onde seu nome foi inspirado); outro exemplo da forma de transpor a dor, é a passagem do tempo na vida de Rodrigo (vivido por Àlex Monner), que é mostrada com ele sempre correndo entre os olivais. Para nos conciliarmos com a dor precisamos saber que não perdemos, mas que continuamos a viver.
Já Will (vivido pelo ator Oscar Isaac), era intenso e sentimental, e não tinha a experiencia da perda, infelizmente. Will se viu apenas na vida da esposa e não encontrou o seu próprio sentido de vida.
A dra. Cait (Annette Bening) o incentiva a olhar para esta dor, que é tão imensa, que a princípio ele tenta mascará-la, inventando histórias que pudessem substituir a realidade. E quantas fotos e/ou vídeos não vemos nas redes sociais, que também tentam mascarar a intensa dor da realidade que vivemos?
Estamos dispostos a assumir a responsabilidade da nossa ação na vida?
Só estaremos dispostos a viver, se estivermos dispostos a morrer a cada milésimo de segundo, porque esse milésimo já virou passado. No passado nada há para fazer, mas no agora sempre há – sendo que nunca somos os mesmos a cada instante, mesmo querendo assumir que somos.
Mas a dor com suas várias facetas nos mostra outras possibilidades entre os personagens do núcleo espanhol. O ‘tio’ Vincent Saccione (vivido por Antonio Banderas), excluiu seu pai de sua vida (uma maneira enganosa de transpor a dor). Tomando o lugar do Pai, vive com sua mãe, passa a viver a vida dela como sua e deixa assim de experimentar sua própria vida, não constituindo família. Quando este se depara com uma família que ele considera “perfeita”, por ser o ideal que ele deixou de vivenciar, se encanta e a quer para si. Neste momento ele se sente atraído pelo filho do casal, revisitando sua relação com seu pai. O menino para ele representa seus próprios sentimentos enquanto criança, e este faz pelo menino Rodrigo o que ele sentiu que seu pai não fez por ele, e desta maneira a vida segue adiante pelo amor.
Javier Gonzalez (vivido por Sergio Peris-Mencheta), o pai do menino, percebeu a influência que Vicent causava em seu filho, de forma a interferir no meio de vida que ele lhe daria. Sua relação com o filho passa a enfraquecer, quando se percebeu sem estrutura para lidar com as situações das quais não vivenciou. Perdeu seus princípios de ser um homem de uma palavra só, uma vez que já havia assumido a honra e o valor que recebera do seu pai. A dor foi desencadeada por ter que pedir ao patrão para bancar o tratamento psicológico do filho. Se sentiu inadequado a situação, por não conseguir ser a base para o filho. Este necessitou de amparo profissional, que Javier não pode pagar e tentando se destruir, tendo em vista a dor, se entrega à bebida alcóolica. A mãe conseguiu se adaptar a situação, porém o pai, que tinha um ideal do que era ser pai, por conta da representação de seu próprio pai, não teve esta maleabilidade para ‘sanar’ sua dor e decidiu deixar sua mulher e seu filho.
A mãe, Isabel Gonzalez (Laia Costa), ‘escolheu’ o marido por sua integridade, seus princípios éticos e valores, casaram-se e viveram felizes ‘quase para sempre’, pois quando seu filho começou a crescer, o patrão começou a ter mais contato, e a se incluir na família. Ela não se deslumbrou com os bens materiais, que o patrão poderia lhe oferecer, mas ele conquista seu filho, com presentes e com uma possível viagem para Nova York. Javier então decide proporcionar a tal viagem a seu filho, no lugar de seu patrão. O menino então, volta perturbado desta viagem, pelo acidente que presenciou, quando ainda era pequeno. A influência de Vincent, sobre o relacionamento do casal, se intensifica, quando o mesmo é o responsável pela resolução da dificuldade financeira da família e Javier se sente diminuído, sendo aqui o dinheiro sinônimo de poder.
Isabel se manteve fiel ao amor e ao filho, decidiu ficar com o filho e seguir no tratamento, pois teve um olhar totalmente sentimental para amparar a situação dele. Na grande maioria dos casos, a mulher, por ter este forte sentimento materno, deixa tudo e enfrenta a todos, quando o assunto são seus filhos. Ela, com a sabedoria de sua simplicidade, tem uma visão ampla, sobre o que significa a organização do amor na família, se propõe a continuidade da vida com a vida de seu filho, dizendo a ele, quando já muito doente e este partia novamente para Nova York: “Você já teve muitos altos e baixos na sua vida… e ainda terá outros. A vida é assim, é isso o que ela faz. A vida te derruba. Te joga lá no fundo do poço. Mas se você se reerguer e seguir em frente, se avançar só um pouquinho mais, você sempre encontrará o amor. Eu encontrei o amor em você. E a minha vida, minha história, continuará depois que eu me for. Porque eu continuo realizando a minha vida na sua realização. Siga sempre em frente que sempre estarei com você. Então agora siga. Me dê uma vida linda. A vida mais linda de todas. Está bem? E se a vida nos derrubar, você vai nos reerguer. Você vai se levantar, seguir em frente, e encontrar o amor para nós…”
No trecho seguinte do filme podemos visualizar o ápice da história familiar, em que Dylan, que não teve a mãe, depois de vivenciar intensamente sua dor, em pleno aniversário, procura o local onde sua mãe morreu (cena que reflete a dor de Dylan na busca por sua mãe). Naquele momento encontra Rodrigo, o rapaz que participou do acidente da mãe de Dylan. O destino traz os dois no ponto de origem, onde cada um tem uma parte na história. Depois de compreender a origem juntos, os dois percebem o motivo do vínculo, como uma forma de completar a realização dos pais, através da união deles como casal. Na vida que continua, Rodrigo tem a ternura da mãe e Dylan tem determinação do avô, que se compromete estar com ela até a sua juventude. Juntos vão aprender que tem que somar as forças que receberam – assim passam a vivenciar e evoluir a parte mais fragilizada.
Revisitaram o passado, na origem, trabalharam esta origem olhando-a e ressignificando-a para que pudessem construir a partir de então. Há em ambos, a flexibilidade para mudança, por terem vivido intensamente as consequências de suas trajetórias.
Nós estamos acostumados a não olhar para a origem dos principais acontecimentos de nossa vida, mas quando continuamos a pensar sobre esses acontecimentos (sendo que às vezes desconhecemos a verdade dos reais motivos das pessoas envolvidas), podemos passar a julgar, interpretar ou imaginar em nossa mente esses pensamentos, que podem se intensificar como verdade. Passamos a viver a vida sob a circunstância desta verdade criada, podendo até repetir a situação, como foi o caso de Abby, pois sua filha Dylan, repete a experiencia de ficar sem os pais.
Esse tipo de situação é complexa por ser um drama difícil, mas podemos perceber no cotidiano de nossas vidas, qual tipo de “verdade” dos acontecimentos do passado está interferindo em nossa mente, como algo que pode acontecer no presente. Podemos lembrar de algumas situações corriqueiras, como:
Homens podem pensar e/ou dizer: “- Não se deve confiar nas mulheres, são traiçoeiras.”
Mulheres podem pensar e/ou dizer: “- Homens não nos compreendem, nunca conseguem entender nós, mulheres.”
Quantos desses pensamentos acima são base dos relacionamentos de casais em conflito!
Se a comunicação acontecer com a realidade e a honestidade de sentimentos (como acontece no filme: a conversa do patrão e o empregado; e a conversa do marido e da esposa), eliminaríamos o julgamento e a culpa, pois cada qual ficaria com o seu posicionamento, ajustado ao posicionamento do outro.
No filme, o filho Rodrigo tem o mesmo comportamento do pai, demonstrando o respeito dele pela mãe, e não mostra também nenhuma fala contra o Pai. Rodrigo recebe bem o apoio do Tio, pois não há nenhuma demonstração de culpa em nenhum dos personagens.
Existe um método terapêutico, chamado Terapia Familiar Sistêmica que auxilia na organização do amor na família, criada pelo alemão Bert Hellinger, e que trata de descobrir se no sistema familiar existe alguém que esteja envolvido sentimentalmente nos destinos dos antepassados da sua própria família. Isso pode ser percebido através do trabalho com Constelações Familiares. Tendo consciência desse envolvimento, a pessoa consegue se libertar mais facilmente dos problemas que eles geram.
Essa é uma das aplicações da Constelação Familiar e que o filme trata de uma maneira bem evidente: as repetições dos comportamentos familiares de geração em geração. E o interessante é detalhar no filme, que o fato aconteceu há 4 gerações, e levou 3 gerações para que os descendentes tomassem consciência e finalmente deixassem os comportamentos familiares repetitivos.
Bert Hellinger, diz por experiência, que os filhos são fiéis aos pais de origem, muitas vezes assim carregando comportamentos que não são deles. Desta forma temos que ter cuidado com a imagem que criamos dos pais, porque independente da situação que possa ter acontecido (sabendo agora o quanto é complicado julgar), são os pais que nos deram a vida e é isso que temos de mais precioso.
Passando adiante, quem admira o herói e quem julga o vilão?
Os heróis necessitam do vilão e o vilão necessita da vítima. Muitas vezes, nas situações da vida, apenas as pessoas envolvidas sabem da verdade, mas pode acontecer, às vezes, de existir “um segredo” entre as partes, em que o suposto vilão tinha pontos a favor, assim como o herói tinha pontos contrários a serem revistos. Isso é fácil de perceber quando se faz uma reflexão do quanto se julga sem a ‘posse da verdade’, apenas com suposições de julgamento interpretativo e imaginativo.
Sabemos que a história da dor está ‘amadurecida’ com o resultado final do filme: o livro que a neta escreve contando toda esta bela trajetória de sua família. Neste momento ela estava demonstrando o quanto a história foi incluída nela mesma, o quanto a compreendeu e a integrou, estando assim melhor preparada para os conflitos. Quando há aceitação, sem querer controlar, há evolução. E assim percebemos que não somos heróis, nem vítimas e nem vilões de nossas vidas, mas sim, somos colocados a prova de nossa ética e valor. Assim como temos a responsabilidade das consequências do que plantamos em nossa existência, sabendo que podemos fazer crescer, dar frutos, existir e continuar ainda a reverberar sempre para o processo de evolução das vidas que existem e àquelas que ainda estão por vir.
No filme os protagonistas tiveram um comportamento sem heroísmo, nem vitimismo e nem vilania. Viveram pelo sentimento verdadeiro, e se tornaram responsáveis pela tomada de decisão e ação em suas vidas.
Afinal cada pessoa é, e sempre será, responsável pelas consequências previsíveis de seus pensamentos, atitudes, atos e comportamentos.
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O post ZA #1 – [Filme] A Vida em Si – Somos Heróis ou Vilões da Vida em Si? apareceu primeiro em Café com Zumbi.
O que é a felicidade? Como alcançamos a felicidade? O que é felicidade para mim é a mesma que é para o outro?
Um assunto tão delicado e de interesse para todos nós, pode, com certeza, se assim quisermos, ser relativo, e há algumas divergências quando a minha ideia de felicidade se esbarra e acaba impedindo que a busca pela felicidade do outro se desenvolva.
Longe de decretarmos uma fórmula pronta e acabada para a felicidade, como se fosse uma receita de bolo para que pudéssemos segui-la, e como num passe de mágica sermos felizes, analisamos esse livro argumentativo chamado Ética a Nicômaco do filósofo da Grécia Antiga Aristóteles. Que descreve sobre ética, virtudes, felicidade, amizade, justiça, justa medida, entre tantos outros assuntos usando justamente a parte mais elevada que temos em relação aos outros seres viventes: a nossa inteligência.
Abrindo aspas para uma introdução melhor sobre o assunto, Platão, mestre de Aristóteles, levava a dialética tão à sério que considerava a conversa argumentativa como uma arte. E se pudéssemos fazer o exercício de abrandar nosso ego com a aptidão da humildade para conversar sobre um assunto qualquer com outra pessoa, e essa pessoa também estivesse pronta para abandonar aquela vontade que temos de “querermos estar sempre certo”, veríamos que poderíamos chegar a pontos de aprendizagem inimagináveis, pois estaríamos sempre abertos para explorar um assunto até, quem sabe, se esgotar, ou pelo menos se esgotar ao ponto máximo do conhecimento das duas pessoas envolvidas nessa arte da dialética. Quão ricas seriam nossas conversas, não é mesmo?
E por isso mesmo, quando observamos uma das civilizações antigas mais incríveis, que realmente existiu no espaço e tempo da nossa existência, e que sabia dar o valor devido à parte mais elevada de nós seres humanos – a nossa inteligência, percebemos que Aristóteles, habilmente com sua capacidade intelectiva, “fecha” em argumentos de conclusão LÓGICA, como podemos desenvolver nossas virtudes, ou em outras palavras, como podemos desenvolver os nossos sentimentos até que ele se torne uma excelência dentro de nós, como se fosse um hábito. Ou seja, num dos auges da inteligência humana, quando a ciência ainda engatinhava, Aristóteles nos mostra que era possível entender, usando essa nossa parte mais elevada – o intelecto, numa espécie de “conclusões óbvias”, o que é a felicidade, a ética, as virtudes, como podemos desenvolver essas virtudes, entre muitos outros assuntos. E é claro que, se essa argumentação utilizada por esse filósofo foi para nos dizer que supostamente existe um caminho óbvio para a felicidade, não quer dizer que a construção desse caminho não seja trabalhosa.
Carl Gustav Jung, depois de uma vasta experiência de atendimento como médico psiquiatra e psicanalista, disserta sobre o conceito de que nossa mente tem suas Leis próprias no Espaço e Tempo, diferentes das ciências Físicas e Biológicas que observamos ainda hoje. Pois como medir o que estamos sentindo e pensando, não é mesmo?
E para não perdermos a oportunidade de colocarmos os nossos sentimentos no mesmo patamar da nossa inteligência, façamos uma pequena viagem por esse Espaço e Tempo da nossa imaginação e da nossa capacidade intelectiva.
Se pudéssemos nos transportar para a Grécia Antiga e ver esses filósofos antigos estudando…se pudéssemos nos colocar no lugar desses grandes pensadores, fora do mundo moderno em meio às civilizações pequenas e mais pertos da natureza em relação às grandes cidades de hoje… se pudéssemos transpor nossa mente àquela época e acompanhar a jornada de busca pelo conhecimento que esses filósofos empreendiam, tendo em vista o estudo que buscavam no Egito por exemplo, talvez, poderíamos experimentar um sentimento de respeito a todo esse conhecimento ancestral que temos, se me permitem assim dizer; e sobre o quanto somos ricos como humanidade se nos permitirmos aprender com tudo aquilo de bom que já conquistamos intelectualmente e sentimentalmente. Como dissemos, Aristóteles busca compreender as virtudes em nós como a coragem, a temperança, a amabilidade e como podemos desenvolvê-las até que essas virtudes se tornem um hábito.
Dito isso, estudamos no livro, que Aristóteles faz uma pequena comparação: a vegetação, os animais e os seres humanos. Apenas com a observação, notamos que todas as plantas no planeta têm um princípio vital que as tornam vivas. Nos animais notamos que também existe esse princípio, mas eles possuem também, em sua natureza, o instinto, que podemos entender como uma espécie de mecanismo natural que os fazem ir atrás de seu alimento, como na caça, por exemplo. Ali há uma espécie de inteligência mais desenvolvida do que nas plantas.
Nos seres humanos, Aristóteles observa que nós também temos o princípio vital inerentes às duas categorias de seres anteriores. Temos também o instinto observado nos animais, relacionada à nossa sobrevivência – espécie de inteligência espontânea que nos direciona às nossas necessidades básicas: como nos alimentar e nos proteger, por exemplos. Mas nós temos uma parte mais elevada em relação ao princípio vital e ao instinto: o nosso intelecto. E aqui temos um eixo central e direcionador.
Se a parte mais elevada em nós é, obviamente, o nosso intelecto, significa que temos a possibilidade de fazer bom uso dela. Se podemos fazer bom uso, significa que temos que entender como fazemos bom uso dessa nossa habilidade. E se é possível fazer bom uso da nossa parte mais elevada e usar nosso intelecto para nosso próprio benefício, porque ainda não percebemos isso?
Aristóteles vai ainda mais fundo: TODOS os seres humanos têm como objetivo final a FELICIDADE. Se eu quero segurança financeira, é para não me preocupar, alcançar uma certa tranquilidade associada à felicidade. Se eu quero o melhor carro é pra satisfazer uma vontade pessoal associada ao prazer e logicamente à felicidade pessoal. Se eu quero encontrar um companheiro ou companheira, é para ter com quem compartilhar a vida, para não se sentir sozinho, ou relacionado aos prazeres corporais, mas também, obviamente, para a satisfação e prazer pessoal associando-os também à felicidade. Ou seja, nunca escapamos da natureza do ser humano: ‘a natureza que temos de sempre buscar pela felicidade´, independente da nossa atividade.
E Aristóteles continua. Se admitirmos que tudo que fazemos é para atingir uma satisfação pessoal e obviamente relacionando-a com o sentido de felicidade, será que nossa parte mais elevada – o intelecto, não teria um papel fundamental nisso?
Aristóteles desenvolve esse raciocínio argumentando que o nosso intelecto pode e deve desenvolver os nossos sentimentos até a excelência ou seja, a virtude. A nossa parte mais elevada é capaz de tornar nossos sentimentos excelentes para conosco mesmos, afim de conquistarmos uma certa habilidade emocional. Mas a pergunta que sempre nos vem à cabeça nesse tipo de análise é: “como?”
Aristóteles propõe então buscarmos a ‘justa medida’ das nossas virtudes.
Se estamos nos propondo a desenvolver em nós um sentimento como a capacidade de ser mais amável com as pessoas, a amabilidade por exemplo, devemos sempre tomar como direcionadores da justa medida, as nossas dores e os nossos prazeres, ou seja, para atingirmos o equilíbrio desse sentimento, as nossas dores e nossos prazeres são como alertas para sabermos se estamos no caminho certo para desenvolver essa virtude.
Se eu estou no excesso de amabilidade, essa virtude se torna um malefício, pois nesse caso, eu ajo como um bajulador. E o bajulador, ao adular outra pessoa, esconde o sentimento de carência por trás das suas ações, pois no fundo quer ser reconhecido, receber a aprovação das outras pessoas (e não a sua própria aprovação), e precisa receber elogios para se sentir motivado. Há ali uma dependência externa para ser feliz, e a amabilidade em excesso, que se mascara de prazer, há, ali, na verdade – a dor.
Se eu estou na escassez da amabilidade, eu estou desempenhando as habilidades do mau humor sem motivo aparente, do desgosto, da desordem e da insensibilidade. Ou seja, também há ali uma dor me alertando para me investigar com mais sabedoria e passar a me direcionar para o equilíbrio daquele sentimento. Nem excesso, nem escassez. A justa medida.
E assim é para cada sentimento que analisarmos em nós. Podem fazer o teste.
Se quero desenvolver a coragem, posso começar observando a dor e o prazer no excesso e na escassez desse sentimento. Se eu tenho escassez de coragem, estou dando espaço demais para os meus medos. E por conta deles, perco oportunidades, porque não quero enfrentar o desconhecido. E para justificar a dor por trás das minhas ações medrosas, me utilizo de um prazer momentâneo chamado ‘zona de conforto’. Aqui, no conforto e no prazer da inércia e da preguiça, me justifico para não enfrentar o medo. Novamente dor e prazer me alertando.
E no excesso da coragem, sou aquele que enfrenta qualquer situação sem analisar as consequências. Tenho o prazer de ser destemido, às vezes até como uma vaidade para me mostrar para as outras pessoas, e posso me colocar em situação de perigo porque não ponderei com sabedoria.
O convite de Aristóteles é: se a parte mais elevada do ser humano é o nosso intelecto, e se eu posso usá-lo para melhorar meus sentimentos e transformá-los numa virtude, observando as dores e os prazeres, porque vou escolher ser um bajulador? Ou um medroso? Ou um mau humorado sem razões aparentes? Ou um temerário?
Aristóteles diz que nosso poder de escolha é aquilo que mais define a nossa disposição de caráter. É aqui que burilamos e desenvolvemos nosso caráter para melhor. A proposta é observar se conservo algum sentimento que me prejudica e “treinar” a virtude desse sentimento para a justa medida até que esse sentimento se torne um hábito em nós.
Diante dessas habilidades que podemos desenvolver, estaremos mais preparados quando um infortúnio recair sobre nós. Ou quando a tristeza nos abater. Ou quando os obstáculos e desafios injustificáveis baterem a nossa porta. É claro, que no calor dos nossos sentimentos é difícil nos mantermos equilibrados, e o chamado àquela virtude pode ser inusitado ou emergente, mas há aí, ao menos a possibilidade de nos conhecermos melhor.
Reiteramos que não sabemos se Aristóteles queria definir um caminho único para a felicidade. Duvido muito, mas de qualquer forma temos em nossas mãos, um documento que atravessou os milênios e que contêm um registro de uma filosofia que encantou diversos pensadores ao longo do Espaço e do Tempo no nosso planeta e quem sabe, além dele. E podemos, no mínimo, tratar essas ideias como mais uma ferramenta de desenvolvimento pessoal e de antecipação de nós mesmos. E mais curioso ainda é que, usando apenas o raciocínio lógico, sem desprezar todo o conhecimento que já existia antes deles e todo o estudo que faziam, chegavam à conclusões fascinantes extraídas apenas da parte mais elevada de nós mesmos – o nosso intelecto.
O livro é muito rico e seria uma pretensão nossa querer resumir todo o conteúdo em poucas palavras, ainda mais com os temas que não conseguiríamos abordar sem uma reflexão mais aprofundada, como é o caso da amizade e da justiça, mas gostaríamos de compartilhar essa ideia de que nossos sentimentos não precisam mais ser considerados um tabu, como se nós não pudéssemos desenvolvê-los. Pelo contrário, esses sentimentos bem desenvolvidos em nós são virtudes, ou excelências, se assim preferir transliterar, e que a felicidade não é para ser alcançada como um objeto a ser obtido por nós, mas como uma espécie de contemplação, ou em outras palavras, um estado de espírito, pois como o próprio Aristóteles observa a felicidade está na ‘ATIVIDADE CONTÍNUA segundo a nossa parte mais elevada, transformando sentimentos em virtudes, isso é claro, em toda e qualquer situação, sentimento, dificuldade, profissão ou ocupação nas quais estamos inseridos.’ É como aquela velha sabedoria que já conhecemos… ‘a felicidade está na jornada, no caminho a se percorrer, e não no objetivo final’. É como se nós estivéssemos num estado de espírito saboreando e contemplando qualquer atividade que façamos, porque as nossas virtudes estão na justa medida, os nossos sentimentos estão burilados.
Nesse sentido a felicidade está mais para um conjunto de fatores, que através dos quais se experiencia essa felicidade, de acordo com a disposição (ou tendência) do nosso caráter (que pode, é claro, ser desenvolvido através das virtudes), e se comtempla que está na obra que nós realizamos em conformidade com as excelências em nós – muito mais do que a obra que nós conquistamos. Pois constantemente associamos as conquistas, os prazeres e as satisfações pessoais com a felicidade, colocando, sem perceber, ou percebendo, o TER acima do SER.
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O post CJ #2 – [Livro] Ética a Nicômaco de Aristóteles – Encontro com a Felicidade apareceu primeiro em Café com Zumbi.
Fiquei muito satisfeito com os temas abordados no filme Dois Irmãos: Uma Jornada Fantástica, da Disney e da Pixar e todos eles me emocionaram muito. De forma divertida, traz temas como a ‘jornada do herói’ muito estudada por Joseph Campbell, e já abordado em outro texto aqui no Café com Zumbi, além de fazer referências a vários outros cenários da cultura pop, como Senhor dos Anéis, Harry Potter, Rei Arthur, entre outros, como a mitologia grega e o mundo dos jogos de RPG. Mas um tema que me chamou muito a atenção foi o desenvolvimento da família Lightfoot, com seus integrantes Wilden, Laurel, Ian, Barley, Colt Bronco e Brasinha. São elfos azuis, centauro, dragão chinês convivendo numa casa em formato de cogumelo. Clara referência aos hobbits e seus cogumelos dos Senhor dos Anéis, que inclusive, esses cogumelos, viram comida natural no mundo moderno, como forma de resgatar uma vida saudável.
É claro que o filme, com sua trama base, tenta passar que nós somos seres incríveis, mas ficamos tão ligados no ‘piloto automático’, buscando o mais fácil e conveniente, que fomos nos esquecendo daquilo que realmente somos diante do universo: seres totalmente únicos. Ninguém é exatamente igual a mim e a você. E como o próprio Ian Lightfoot nos diz no filme: “Nas missões (ou se pudermos fazer uma analogia aqui – Nos propósitos da nossa vida) o caminho mais fácil, nunca é o adequado.”, nos ensina que o caminho fácil pode até nos trazer conforto a curto prazo, mas a longo prazo deixamos de lado tudo aquilo que há de melhor em nós, conquistado por nosso esforço, empenho, como aquele que já entendeu que as virtudes podem ser desenvolvidas nas experiências de cada dia. É por isso mesmo que vemos unicórnios alados virando lata nas ruas em busca de comida, a comida do condado “hobbit” que virou hamburgueria fast-food, fadas que não sabem que podem voar, centauros – meio homens e meio cavalos, mas que acham que não nasceram para correr, aprendizes de mago do mundo antigo, inspirados em Gandalf, preferindo a facilidade da lâmpada elétrica do que criar sua própria magia do fogo com seu cajado mágico, e toda a memória da magia desse mundo antigo foi oprimida por nós mesmos, sendo lembrada apenas por um jogo de RPG chamado Missões de Outrora que Barley gosta muito.
Agora o tema família, que vamos conversar aqui no Pai Herói Filho Herói, com certeza, nos auxilia a entender que aqueles que conhecem realmente nossos sentimentos, são aqueles que nos são mais caros e aqueles que mais devemos considerar em nossa vida. Vemos no filme que o desenvolvimento dessa família, cada um com o seu desafio pessoal, compartilham sentimentos entre si, mas é justamente a mistura desses sentimentos de cada um, esse caldeirão de emoções que compartilhamos e que vamos conhecendo no outro, que nos diz quem são aqueles que permitimos adentrar no vasto universo interior que temos dentro de nós.
E não seriam, então, essas pessoas nossos verdadeiros amigos de jornada? Ou melhor… Nossa família amiga, que nos acompanha nessa ‘Jornada Fantástica’ chamada: vida? Não seria a família e amigos que conhecem nossos medos? Ou que conhecem nossas potencialidades com mais primazia?
São eles que sabem que podemos ser mais confiantes, que nos enxergam como guerreiros dos nossos próprios desafios, e se somos expansivos ou introspectivos, cada um com sua particularidade. Pois são o que temos de mais rico: nossa família.
O elfo Ian Lightfoot, o irmão mais novo da família, no começo da história, faz uma lista chamada “Novo Eu”, e nela se encontra desejos como, falar melhor, aprender a dirigir, ter coragem de convidar os colegas da escola para sua festa de aniversário e o mais ambicioso item da sua lista: ser como seu pai Wilden Lightfoot.
Seu pai, que já havia falecido e não chegou a conhecê-lo, tinha participação na sua mente como uma pessoa ousada e confiante, e era isso que o inspirava a ser alguém sem medo de falar com as pessoas, sem medo para aprender a dirigir e ser querido entre os colegas, assim como sabia que seu pai era. Ian, chateado com suas tentativas falhas, descobre, através da sua mãe, que seu pai, se esforçou por muitos anos para ser uma pessoa confiante e querido entre seus amigos, mas que no final, embora todos achassem estranhas suas meias roxas que nunca saiam dos seus pés e mesmo assim não se importava com o a opinião dos outros, era mesmo muito querido por todos.
Após a possibilidade de ver seu pai por um dia, renova sua lista para não deixar de jogar bola com ele, de rirem juntos, apenas passearem, aprender a dirigir, dividir sua vida com ele, e encostar coração com coração, ou seja, poder abraça-lo uma única vez. Acontece que seu foco na lista, o cega momentaneamente, e acaba ficando desatento ao seu alicerce familiar. Observar muito de perto nossas necessidades, focando apenas em nós mesmos o tempo todo, não seria o mesmo que observar de longe aqueles que nos rodeiam e nos amam?
Já Barley Lightfoot, o irmão mais velho, confiante e divertido, tem boas lembranças de seu pai. A barba que arranhava, a risada escandalosa, e o jeito que batucava nos pés, ficaram guardadas na memória com muito carinho. Mas tudo isso escondia uma quarta lembrança, que lhe remontava um medo que sentiu e que o impediu de fazer algo que considerava muito importante. Pois então, não fez e se arrependeu muito. Esse medo foi tão forte que, desde então, prometeu que nunca mais seria medroso na vida. Eis aí a construção de uma pessoa, corajosa e extrovertida, mas, talvez, seja exatamente essa extroversão excessiva, que o impede de olhar para dentro de si, sem saber, por exemplo, equilibrar expansividade com reflexões interiores, que é o caso, quando o vemos envergonhando seu irmão na frente dos colegas de escola, não por ser quem é, mas por ter escolhido ações expansivas demais sem reflexões e discernimento.
A mãe Laurel Lightfoot, se aventurando e se arriscando, descobre que é uma guerreira de verdade, muito diferente daquela guerreira de frente da TV sendo motivada pelo apresentador do programa de aeróbica. Potencial que descobre conhecendo melhor seus filhos e vivenciando com eles aventuras que nos tornam protagonistas da nossa vida.
Colt Bronco é um centauro policial, padrasto de Ian e Barley, mas que também se deixou levar pelas facilidades e comodidades da vida e mesmo sendo metade cavalo, prefere dirigir viaturas policiais, como as nossas, que não foram feitas para cavalos dirigirem. O que nos dá a percepção de que não estamos dando valor para o ser divino que somos, assim como todas as outras criaturas do filme. Bronco resgata também, seu potencial aprendendo com sua nova família.
A proposta do filme é que os personagens tentem resgatar o mundo fantástico e mágico de outrora, em que as pessoas valorizavam seus verdadeiros propósitos e potencialidades, não importava o empenho. Mas é claro que essa magia e encanto está também nas relações familiares que vemos no filme. Barley, por exemplo, sempre cuidou do seu irmão, o entendia como ninguém e ainda agia como um impulsionador para deixá-lo pronto para enfrentar as circunstâncias da vida, e também como um incentivador fazendo com que Ian acreditasse mais em si mesmo.
Ian por outro lado, apesar de ter se perdido parcialmente na sua falta de confiança e a princípio não acreditar nas decisões de Barley, transforma seus sentimentos e percebe o quanto seu irmão estava presente em praticamente todas as fases da sua vida, numa das cenas mais lindas do filme. Passa, então a apoiá-lo, e melhor ainda, construir uma convivência mais sólida.
Não seria muito forçoso observar que também temos magia e encanto nas relações da nossa família, apesar das diferenças entre todos. O empenho maior, mais nada doloroso, seria demonstrar nossos afetos, pois esses seriam a construção de laços misteriosos para com aqueles que amamos, que se observarmos bem, nos conduzem a magia do coração. E esse nosso coração poderia ser então, uma sala iluminada onde eles se sentiriam tranquilos e satisfeitos. Laurel, como mãe não só educa e constrói um excelente alicerce familiar, como também participa ativamente da vida dos filhos, sendo portando, essa sala iluminada que traz tranquilidade e acolhimento, como o coração de toda mãe. O pai, que já havia partido, prepara um presente para os filhos, justamente para auxiliá-los no ritual mágico que selaria a passagem dos filhos para a vida adulta, além de é claro, poder se orgulhar dos bons homens que se tornaram com o feitiço “Magia da Aparição”. E mesmo o padrasto centauro Bronco, que se agrega depois, tem suas manias esquisitas, mas é bem recebido por todos da família, assim é claro como Brasinha, o dragão chinês de estimação. É assim que, engrandecendo nossas afeições, podemos lhes trazer o máximo da alegria e da magia, enriquecendo nossas relações.
É claro que para isso também precisamos entender que o propósito da família é o mais ditoso, pois é nesse cadinho do convívio onde os sentimentos se misturam e podem ser reconhecidos por aqueles que amamos e reconhecermos os deles também. E é no reconhecimento dos sentimentos mútuos que podemos reconhecer um verdadeiro amigo ou amado, que não espera recompensas e não há qualquer tipo de interesse pessoal. Simplesmente amamos do jeitinho que o outro é, aceitando e se ajustando com toda a bagagem que aqueles que nos são caro nos trazem, mesmo porque, podem ser nossas as manias e hábitos que trazem inconveniência para aqueles que convivem conosco. Mas é essa troca que nos faz conhecer e compartilhar experiências com os sentimentos alheios, pois como é que as pessoas poderiam ser boas umas com as outras ou um verdadeiro amigo, sem conhecer intimamente os sentimentos do outro?
É justamente no convívio mútuo das imperfeições que crescemos como família e como pessoa, reconectando com a nossa magia interior. É muito bonito ver essa conexão da Família Lightfoot. Podemos nos inspirar e começar a agir em favor da magia e do encanto nas nossas relações com aqueles que amamos. Magia essa, muita mais bonita do que apenas fogos de artifícios que encantam apenas os olhos; e sim, aquela que, nas ações simples, mas realmente demonstradas à quem amamos, encanta, mas nessas vezes, o coração.
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O post PHFH #4 – [Filme] Dois Irmãos – Os Verdadeiros Amigos de Jornada apareceu primeiro em Café com Zumbi.
“A maior virtude de um herói não está nos seus poderes, mas sim nas suas atitudes de bondade e compaixão” – Superman falando sobre Chico Bento, na parceria entre Maurício de Sousa Produções e DC Comics.
Pode parecer inusitado um encontro entre dois heróis, como Super-Homem e Mulher Maravilha, e nosso querido Chico Bento, e mais ainda, pois a parceria entre essas duas empresas resultou em mais algumas boas histórias entre vários outros heróis da DC Comics e os personagens do Maurício de Sousa. Mas acontece que, se por um lado, nós temos Super-Heróis lidando com suas dificuldades, defeitos pessoais e desafios, porém dando a volta por cima para, por fim, sempre colocar em prática seus ideais de justiça combatendo o mal sob quaisquer circunstâncias, por outro lado, como já conhecemos, todos os personagens da Turma da Mônica estão inseridos no coração, não só de toda criança, mas também dos adultos, pois, a originalidade dessa obra criada por Maurício de Sousa, sempre nos traz sorrisos agradáveis e afetuosos, que só surgem quando há alegria, leveza e simplicidade sincera na construção de suas histórias.
E Chico Bento está mais ainda inserido nessa simplicidade, pois naquele cenário interiorano inspirador, vemos partindo dele com facilidade, ações bondosas repletas da ingenuidade de quem tem um bom coração e nem se dá conta disso. E o Super-Homem, dentro da história, conseguiu captar isso muito bem no Chico Bento, e o eleva ao estágio de um herói, não por ter superpoderes, mas por ter virtudes de simplicidade e compaixão para com o próximo. E quem é que não se emociona quando o bem é colocado em prática? Em todo filme, história ou música que ouvimos ficamos esperando esse momento mágico, porque naturalmente buscamos aquilo que é belo e bom. É da natureza humana querer o bem. E, se envolver nessa história simples, como hão de ser os quadrinhos de Maurício de Sousa, seria evidente se emocionar com o bem.
Super-Homem e Mulher Maravilha estão observando o planeta Terra do espaço, conversando sobre como seria bom ter um pouco de paz e sobre como, quem sabe um dia, se o ser humano fosse menos egoísta, o mundo não seria um lugar melhor. Mulher-Maravilha pergunta se o Super-Homem não conheceria pelo menos um lugar na Terra com um pouquinho dessa paz para eles tirarem uma folga de apenas alguns dias. É aí que o Super-Homem revela que já vinha observando uma família de longe. Uma família simples, onde a paz reina, a família do Chico Bento.
A história se desenrola até que Super-Homem e Mulher-Maravilha, agora disfarçados de Clark e Diana, são convidados para tomar um café com leite e comer um bolo de fubá, na fazenda dos pais de Chico Bento, Seu Tonico e Dona Cotinha. Lá encontram a paz, que tanto desejavam, na simplicidade e no acolhimento, tanto que Seu Tonico diz assim: “Oceis são mais qui bem-vindo pra posá aqui im casa enquanto tiverem por aqui!”, num sotaque típico de parte da cultura brasileira , que também nos remete à uma hospitalidade que podemos, se quisermos, conhecer pelo interior do nosso país. A plantação, o celeiro, o ambiente da roça e da família faz Clark relembrar sua infância e ficar muito feliz com isso, e ainda, ‘a noitinha’ ouviam as histórias folclóricas brasileiras que Chico Bento contava envolta da fogueira, como histórias do curupira, por exemplo.
É claro que partir daí, sempre há um desafio a ser vencido, mas Clark e Diana, percebem a importância da simplicidade e como ela pode trazer a paz. Pois, às vezes, queremos fazer algo extraordinário em nossa vida para ela possa ter um suposto sentido a mais, queremos ser reconhecidos pelo que fazemos esperando sempre a aprovação do outro, e nem nos damos conta de que a paz já pode estar ao nosso redor, com a simplicidade. Um sábio, por exemplo, sabe reconhecer, que sem as primeiras letras do alfabeto, não teria chegado onde estaria. O músico também sabe que uma simples nota fora de tom poderia estragar o todo de uma sinfonia. Mas queremos fazer ao contrário, nos sentindo destinados a cumprir coisas grandes, mas incapaz de cumprir o mínimo.
Ao olharmos, por exemplo, o campo de batalha contra monstros e alienígenas dos quais Super Homem e Mulher Maravilha enfrentam, muitas vezes, não somos capazes de analisar aquilo que é invisível aos olhos, pois sem a simplicidade dos pais de Clark Kent, sem a fazenda, sem o trabalho no campo, sem o café com leite, sem o pão de queijo, sem o carinho e a estrutura da família, Clark não teria construído sua base, sua estrutura e seus ideais tão firmes para, muito além dos seus super poderes, fazer dele um herói. Assim se dá com Diana e também com Chico Bento.
Sem estragar a história, após toda a confusão, como sempre, ter sido resolvida, Super Homem e Mulher Maravilha percebem que Chico Bento é mesmo um menino de ouro, pois ao se deparar com aquele que lhe prejudicou e quando o mesmo deveria ser levado a justiça, Chico Bento decide dar outra chance. Vai além de enxergar as dificuldades que levaram o homem que lhe prejudicou a fazer o que fez e age, não como aquele que quer que os outros sejam como nós gostaríamos, tentando força-las a mudarem, como normalmente fazemos, mas como aquele que olha para uma outra pessoa, completamente diferente dos nossos costumes e ações, e tenta agregar aprendendo com essas diferenças. É muito fácil para a gente concordar com as pessoas que concordam ou agem como a gente, mas é muito mais difícil e heroico, agregar aquele que pensa e age diferente de nós. Mas é exatamente com essas diferenças e com essas situações diferentes do que estamos habitualmente acostumados a fazer, mais os ingredientes da família, da simplicidade, e dos nossos ideais firmes, que aprenderemos com mais propriedade se NÃO ficarmos dentro no nosso círculo de ações iguais, excluindo, por exemplo, pessoas diferentes de nós mesmos. Na balança o que é melhor? Focarmos na nossa expectativa para que o outro seja como desejamos ou na nossa melhora de cada dia para aceitarmos com mais sabedoria pessoas diferentes de nós?
De modo geral, Super-Homem e Mulher Maravilha estão sempre lutando as maiores batalhas de ordem física, mas buscam refúgio na simplicidade e na família. E Chico Bento é mesmo um menino de ouro, não por querer ter poderes iguais ao do Super-Homem, mas por ter atitudes simples de bondade e compaixão, que está ao alcance de todos nós.
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O post PHFH #3 – [HQ] Chico Bento – A Simplicidade de Coração de Chico Bento apareceu primeiro em Café com Zumbi.
“Eu sempre senti uma espécie de inveja dos seres humanos, daquela coisa chamada ‘espírito’. Os humanos criaram milhões de explicações pro sentido da vida, na arte, na poesia, em fórmulas matemáticas. Certamente os humanos são a chave para o sentido da existência, mas os humanos não existem mais. …Então criamos um projeto que tornaria possível recriar o corpo vivo de uma pessoa há muito morta, de um fragmento de DNA… E também nos perguntamos: Será possível restaurar a memória juntamente com o corpo ressuscitado? E sabe o que descobrimos? Que a própria estrutura do espaço-tempo armazenava informações sobre cada evento ocorrido no passado. Mas a experiência foi um fracasso. Os ressuscitados só viviam um único dia de sua nova vida. Quando eles dormiam na noite de seu primeiro novo dia eles morriam de novo. Assim que ficavam inconscientes, suas vidas dissipavam na escuridão. Então, veja, as equações mostraram que uma vez que a trilha do espaço-tempo de um indivíduo tenha sido usada, ela não pode ser mais reutilizada.” – Um alienígena para o androide David, 2.000 anos após a extinção humana.
Bem-vindos a um dos poucos filmes capazes de sintetizarem a ideia Cyber-Punk tão bem quanto esse. Baseada num conto chamado “Superbrinquedos duram o verão todo” de Brian Aldiss, Stankey Kubric inicia um projeto, que, após sua morte, é concluído por Steven Spielberg. Enquanto vivenciamos a angustia da escuridão que a alma humana poderia sentir com a solidão por parte da arte de Kubric, vivenciamos também, dias iluminados pela arte, que tão bem conhecemos por suas mensagens de otimismo, amor e esperança em tantos filmes já dirigidos, de Steven Spierlberg.
A.I – Inteligência Artificial, filme lançado em 2001, pra mim, é uma obra-prima. Vemos escuridão e luz, sentimentos de solidão e de imaturidade emocional dos humanos diante de sua própria capacidade intelectual e suas próprias criações – robôs-androides com uma inteligência artificial altamente sofisticada – mas mostrando que a balança entre o alcance intelectual e sua inteligência emocional nem sempre está equilibrada. E nos faz perceber que somos motivados por uma capacidade da natureza humana de perseverar, de conquistar, de criar novos horizontes, de se renovar, de irmos até onde nosso amor é capaz de nos levar – nossa capacidade de sonhar e correr atrás dos nossos próprios sonhos!
A princípio somos inseridos num mundo distópico obscuro, bem ao reflexo das obras de Kubric, numa grande crise humana, com parte do planeta inundado pelos oceanos por conta do aquecimento global e do derretimento das calotas polares, obrigando os seres humanos, diante de uma grande crise econômica, a se adaptarem com androides inteligentes, para assim, sintetizarem o tempo gasto com trabalho de desenvolvimento tanto humano quanto do planeta.
O nosso espanto está anunciado quando nos deparamos com máquinas simulando ações humanas, a princípio mais robóticas, mas depois, com androides capazes de reproduzir até o amor que naturalmente sentimos, através de algoritmos de alto nível criados pela ciência da qual o filme é ambientado, nos levando, através de um sentimento subversivo, ao que parece ser um filme de terror.
É muito estranho nos sentirmos no lugar de uma mãe que, ao quase perder seu filho num acidente, e após um longo processo de recuperação não tão bem sucedido, e, logo em seguida, por circunstâncias favoráveis, adquire um androide criança capaz de sentir amor como os humanos, sente uma certa aversão por seu “novo filho”, e ver sua contradição emocional nos causa um desconforto interessante. Pois, a princípio, saber que é um robô, nos faz pensar que essa engenharia jamais seria um substituto de um filho. Por outro lado, sua beleza é tão singular, incluindo sua impressionante semelhança com uma criança de verdade, fazendo com que nos permitamos criar sentimentos de afeição por uma criança com feições tão dóceis, muito bem interpretada pelo ator Haley Joel Osment, e abrindo nossa guarda, principalmente quando nos deparamos com o amor sincero de um outro alguém.
David, o personagem de Haley, declara o tempo todo seu amor à ‘mãe’ Mônica, interpretada por Francis O’Connor, fazendo com que se renda às essas interpelações de amor, e, são essas situações que nos assustam o tempo todo, pois o filme, exagerando esse amor de David à mãe, cria uma quase obrigatoriedade de David ser correspondido, SENÃO…
…o típico cenário de filmes de terror poderia vir à tona.
É claro que esse terror não acontece e essa sensação é criada propositalmente pelo filme para que possamos fazer a reflexão entre desenvolvimento intelectual e inteligência emocional. Pois, se por um lado a humanidade conquistou o mais alto grau de avanço tecnológico, a nossa inteligência emocional não conseguiu acompanhar, e claramente a mãe é colocada numa situação de conflitos emocionais distorcidos pela invenção tecnológica capaz de nos reproduzir sentimentalmente, e não sabe colocar em equilíbrio o amor e a razão. E quem é que sabe conduzir esse equilíbrio com plenitude, não é mesmo?
Do meio para o fim do filme, outro sentimento nos invade. Sentimento esse mais esperançoso, refletindo agora, as obras de Spielberg. David possui uma inteligência artificial tão próxima à perfeição que sua capacidade de amar é também sua fonte de esperança. Inspirado por Pinóquio, queria também se tornar um menino de verdade e vai até os confins do mundo para encontrar a fada azul capaz de tornar seu sonho realidade. Como o próprio criador desses androides mais inteligentes nos diz no início do filme, a tecnologia seria agora capaz de reproduzir o sentimento do amor e que consequentemente surgiria um ingrediente a mais: o sonhar.
É claro que sonhar, é uma denominação de nossa capacidade também, de ver beleza em qualquer coisa e poetizar aquilo que nos rodeia, e que, no caso, essa nossa deliberada busca por concretizar nossos sonhos é o empenho próprio da natureza humana de ir incansavelmente atrás da felicidade. Indo de encontro com o pensamento aristotélico que diz que o ser humano, por natureza biológica, tem como finalidade, como objetivo final, independente da área de convívio, atuação profissional ou social, a busca pela felicidade. É inerente à natureza humana.
David é muito mais empenhado em sua busca pela felicidade, em sua vontade de realizar seu sonho de se tornar um menino e assim conquistar o amor de sua mãe, pois é um robô que não se cansa nunca, mas que, por condições exteriores (não vou mais além pra ficar o convite de ver o filme), congela. E dois mil anos após a extinção humana, David é o registro mais íntegro daquilo que somos, é a memória viva dos nossos sentimentos para enfim, após tantos séculos ou mesmo milênios, contar à seres pesquisadores de outro planeta – como uma espécie de arqueólogos espaciais, a beleza dos seres humanos. Esses humanoides pesquisando o planeta Terra, evoluídos intelectualmente e cheios de sabedorias no coração, que são representadas no filme por seres mais translúcidos, são envolvidos por uma espécie de ‘inveja’ da nossa espécie, pois dentro do tecido do espaço-tempo da qual estamos inseridos, criamos, como espécie, milhões de explicações para entender o sentido da vida, precisamente para justificar a nossa eterna busca pela felicidade, sem notar que a resposta está em nós mesmos, pois somos arte, poesia, e somos também, fórmulas matemáticas de DNA, de intelecto e de coração, sempre subindo ao encontro do nosso eu melhorado, já lá em cima, pelo menos ou por enquanto, no nosso ideal. Se existe um filme cyber-punk, pra mim é esse. Um futuro distópico inserido na esperança da descoberta no nosso próprio eu. Um filme assustador, mas mágico, pois se nos colocarmos, sob a visão de fora do planeta Terra, como se pudéssemos ser vistos por alienígenas arqueólogos espaciais em busca das infinitas possibilidades do espaço-tempo, veríamos que somos seres únicos por simplesmente sermos quem somos, mas sempre em busca do nosso próprio desenvolvimento, da nossa própria felicidade, individualmente e como espécie.
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O post CJ #1 – [Filme] A.I. Inteligência Artificial – Inteligência e Sabedoria Emocional apareceu primeiro em Café com Zumbi.
Na continuação da análise do filme Divertidamente, observamos um pouco mais sobre como a presença da família é fundamental em nossa vida. Rylei e seus pais são deparados com diversos desafios que só são superados com bastante diálogo e estrutura familiar. Toda a família descobre que estava sentindo as mesmas dificuldades, só não haviam conversado sobre e superam os obstáculos que a vida nos dá como exercícios de desenvolvimento, somente com muito amor e apoio mútuo.
TEMPORADA 1 – EPISÓDIO 2 – [Filme] Divertidamente – “A Importância da Presença da Família”
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COMO SEGUNDO VÍDEO – NÃO HOUVE ANÁLISE EM TEXTO
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O post PHFH #2 – [Filme] Divertidamente – A Importância da Presença da Família apareceu primeiro em Café com Zumbi.
O Café com Zumbi tem o prazer de apresentar nosso novo programa chamado Pai Herói Filho Herói, para estudarmos as virtudes da família e a construção dos valores como base fundamental. Nesse primeiro episódio analisamos o filme Divertidamente e sob a perspectiva de uma criança conhecemos a importância dos nossos sentimentos primordiais como alegria, tristeza, raiva, nojinho e medo, além de, é claro, entendermos como a família é fundamental para a estruturação desses sentimentos desde a primeira idade.
TEMPORADA 1 – EPISÓDIO 1 – [Filme] Divertidamente – “Entendendo nossos Sentimentos”
#paiheroifilhoheroi #heroi #familia #cafecomzumbi #divertidamente #quadrinhos #filmes #livros #hq #conheçateatimesmo #desenvolvimentopessoal #fazerobem
COMO PRIMEIRO VÍDEO – NÃO HOUVE ANÁLISE EM TEXTO
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O post PHFH #1 – [Filme] Divertidamente – Entendendo nossos Sentimentos apareceu primeiro em Café com Zumbi.
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