Dizem que, em um vilarejo esquecido entre colinas e nuvens baixas, morava um homem chamado Eno. Não era profeta, tampouco mestre — apenas um velho de passos lentos que, todas as tardes, subia as escadas da torre central com um pano de linho e um balde d’água.

Seu ofício era simples: lustrar os espelhos que refletiam a luz do sol para as ruas da aldeia. Espelhos grandes, antigos, pendurados em ângulos precisos. Um trabalho silencioso, que ninguém mais notava. Até que um dia, os espelhos embaçaram e as casas, os olhos e os corações pareceram mais opacos.

Foi então que uma criança, intrigada, subiu à torre e perguntou:

— Senhor Eno, por que o senhor limpa os espelhos se eles não são seus?

Eno parou o gesto. Observou a menina como quem olha uma semente ainda dormindo.

— Porque a luz também não é minha — respondeu. — Mas ela precisa de algo que a faça chegar inteira até os outros.

A menina franziu a testa, pensativa.

— Mas ninguém sobe aqui para ver se o senhor fez direito...

O velho sorriu, quase triste.

— Justamente por isso.

Naquele entardecer, enquanto a aldeia se banhava em tons dourados e o céu deixava de fazer ruído, a menina sentiu algo dentro dela acender — não como um relâmpago, mas como um pavio que encontra sentido em ser chama.

E dizem, até hoje, que os dias mais belos daquele lugar não eram os de festa… mas os de espelho limpo.

Porque havia alguém que cuidava do brilho, mesmo quando ninguém olhava.

Olá, meu nome é Patrick Mesquita, astrólogo tradicional, dedicado há mais de uma década à escuta sensível dos céus e das histórias que neles se entrelaçam. No podcast Fios do Firmamento, este nosso refúgio sonoro, costumo costurar reflexões que unem a poesia dos astros com pensamentos provocadores, para que você possa atravessar o tempo com mais precisão… e menos ruído.

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Agora sim, vamos ao céu do dia...

Hoje é 26 de julho, sábado, dia de Saturno

Há manhãs em que o sol levanta com uma certa vaidade nos ombros. Como se quisesse ser notado, não apenas por sua luz, mas pela reverência dos gestos que despertam junto com ele. Hoje é uma dessas manhãs. O sábado começa com a Lua ainda nos últimos graus de Leão — onde tudo quer brilhar, mesmo que seja só mais um sábado qualquer.

Mas há algo curioso no ar. Como se essa luz, antes de se apagar, ainda quisesse dançar com o vento leve de uma palavra gentil. Às oito da manhã, a Lua troca um olhar de cumplicidade com Vênus em Gêmeos. É um encontro breve, como aquele aceno que damos da varanda quando já estamos partindo. Um gesto que carrega afeto, mas também despedida.

Logo depois, a Lua abandona a ribalta de Leão e segue para Virgem, signo da discrição e do serviço. Um movimento quase invisível, mas profundo. Às 17h55, sem fazer alarde, ela muda de roupa e cala. Não forma mais aspectos até o dia seguinte. O que resta, então, é o silêncio das tarefas, a ordem dos detalhes, a escuta do que ainda está por fazer.(continua…)

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