Era uma manhã clara no vilarejo quando trouxeram a Nasrudin um boato:
— Dizem que você falou mal do padeiro.
Nasrudin ergueu as sobrancelhas e respondeu:— Estranho… eu só disse que o pão dele era leve como o vento.
A notícia correu de novo, e quando voltou aos ouvidos do padeiro, o vento já tinha virado pedra, e o padeiro veio tirar satisfação.
Nasrudin então convidou-o para sentar. Colocou sobre a mesa uma balança, um pão fresco e uma pedra arredondada.— Veja, amigo. Este é o pão que fizeste. Esta é a pedra que disseram que joguei. Quem quiser pesar o que é verdade… que tenha paciência para esperar que o vento assente.
E completou, servindo chá:— A palavra, como uma espada ou um tijolo, sempre encontra seu alvo. O problema é que raramente é o alvo que escolhemos.
Olá, pessoal, este é o Podcast Fios do Firmamento, um espaço tecido com os fios sutis da escuta celeste, onde cada episódio é um intervalo de contemplação, um lugar onde o tempo abranda e a palavra se oferece como tradução possível dos movimentos do céu.
Aqui, não buscamos respostas prontas, mas ecoamos as perguntas que o cosmos nos devolve em forma de símbolo, trazendo a sabedoria da astrologia tradicional entremeada à filosofia do viver atento. É um convite à escuta lenta, ao olhar que demora, à arte antiga de perceber sentido no curso dos astros.
E vamos lá ao céu do dia:Hoje é sexta, 8 de agosto, dia de Vênus. Caminhamos pelas horas sob a luz crescente da Lua em Aquário, no dia que antecede a lunação do aguadeiro. É como se estivéssemos na antessala de um banquete, sentindo o cheiro do que está por vir, mas ainda sem provar o prato.
Pela manhã, bem cedo, a prateada encara Mercúrio retrógrado em Leão. Uma palavra mal colocada pode ecoar como boato. Uma mensagem que já parecia enterrada retorna, talvez distorcida, talvez com o sabor azedo de algo que foi mal digerido. É dia de testar o filtro antes da língua, de pesar antes de responder.
Mas é quando a noite se aprofunda que o cenário ganha mais densidade: às 23h43, Marte, exilado em Libra, encontra-se em oposição perfeita a Saturno, retrógrado e em queda em Áries. Um confronto entre dois que conhecem bem as trincheiras do tempo. Marte, hospedado na exaltação de Saturno, e Saturno, assentado no domicílio de Marte, uma troca que mais parece um duelo silencioso, onde cada golpe é calculado para não desperdiçar força.
Marte, em Libra, exilado, é o guerreiro hospedado em território que valoriza mais o consenso do que a conquista. Sua ação, normalmente direta e sem rodeios, precisa se expressar por meio de diplomacia, cálculo e suavidade, características que, embora não lhe sejam naturais, podem torná-lo mais estratégico. Essa adequação forçada também pode gerar indecisão, dispersão ou a sensação de estar lutando com as mãos atadas.Do outro lado, Saturno está retrógrado e em queda em Áries. Aqui, o senhor do tempo é forçado a mover-se rápido num campo que exige iniciativa e impulso, justamente o contrário de sua natureza. A queda revela a dificuldade de manter estruturas firmes nesse terreno impaciente, e a retrogradação sugere revisão de estratégias antigas, retorno a obrigações passadas ou reavaliação de limites. É um Saturno menos estável, mais sujeito a vacilar sob pressão.
Entre eles, há recepção mútua: Marte na exaltação de Saturno, e Saturno, no domicílio de Marte. Essa ligação cria uma espécie de trégua armada: cada um conhece as armas do outro e, por isso mesmo, não avança sem calcular as consequências. Não é bem uma parceria espontânea, é mesmo... um pacto de sobrevivência.
Na prática, essa configuração pode se manifestar como:
* Conflitos onde o avanço depende de concessões;
* Disputas em que ambos os lados estão igualmente enfraquecidos, mas não podem recuar;
* Negociações tensas, feitas por necessidade e não por afinidade;
* A sensação de que todo passo à frente exige pagar um preço alto em paciência ou energia.
No plano simbólico, a oposição pede moderação consciente: agir sem precipitação, mas também evitar a paralisia. É o momento de compreender que nem toda vitória vem pela força bruta ou pela resistência inabalável; às vezes, ela surge da capacidade de reconhecer limites, explorar pontos de equilíbrio e saber quando um impasse serve mais à preservação do que à conquista.
Assim, Marte e Saturno, mesmo em debilidade, ensinam uma lição: as guerras mais difíceis não são travadas contra inimigos externos, mas contra as próprias impaciências e teimosias. Hoje, as tensões não são de impulso cego. São disputas travadas com a frieza de quem mede a distância antes de avançar. Pode ser o momento de reconhecer que nem toda batalha se vence com velocidade; algumas se ganham na paciência, ou mesmo, na escolha de não lutar.
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Até a próxima virada do firmamento!
Patrick Mesquita
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