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CNa#048: Bilhetes | Conto de Horror


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Gilca encontra um bilhete preto em cima de sua cama ao sair do banho, o significado disso pode mudar sua vida de formas inimagináveis… Classificação indicativa 14 anos.
 
Contos Narrados. Aqui você encontra mais um conto sonorizado produzido pelo do RPG Next.
Coloque seu fone de ouvido e curta!
▬ Autor:
Vinicius Mendes Souza Carneiro.
▬ Narração:
Shelly.
▬ Masterização, sonorização e edição:
Rafael 47.
Contos Narrados apresenta, “Bilhetes", um Conto de Horror.
Começou em um dia normal, ensolarado, dia lindo, pra ser sincera. Acordei pela manhã, fui até o banheiro e tomei um baita banho quente, daqueles nos quais o box fica todo embaçado, sabe? Devo ter passado ao menos meia hora curtindo o momento, saí do banheiro e me enxuguei. Havia depilado as pernas no dia anterior e, apesar de não recomendado, o banho quente estava satisfatório. 
Meu nome é Gilca, tenho trinta e dois anos, cabelos escuros e encaracolados, cachinhos de mola, segundo mainha. Meus olhos são castanho-escuros como os cabelos, minha pele é branca, tenho lábios nem finos e nem grossos, e o nariz é um pouquinho redondo, sabe? Um dia faço plástica! Mesmo sob protestos de meu companheiro Valter. Não sou gorda nem magra e meço 1,68m. 
Ao vestir minhas roupas de trabalho notei algo diferente. Sempre que entro no banheiro deixo tudo já separado antes, dessa forma não perco tempo, sendo assim, sabia que era algo novo, deixado lá durante meu banho. Ao lado do vestido jazia um envelope preto, e em seu centro havia um olho aberto desenhado em tinta branca. Curiosa, abri rapidamente o item, será que era coisa de Valter? Com seu trabalho noturno mal nos víamos, e àquele horário da manhã ele ainda não deveria ter chegado. Puxei o bilhete que vinha dentro:
“Nas gordinhas de ondina.”
Nada mais estava escrito. Moro na Pituba, um bairro de Salvador na Bahia, meu pai deixou esse apartamento de herança pra mim, caso contrário não teria dinheiro para uma casa aqui. Trabalho na Barra. Costumo passar pela avenida oceânica todos os dias, então as Gordinhas de Ondina, monumento referência composto por três estátuas de mulheres gordas em um canteiro próximo à orla do local, era paisagem trivial.
Humm, curiosa com isso, viu...
Terminei meus preparativos e peguei o elevador, meu carro aguardava no primeiro estacionamento. O trânsito estava como sempre, insuportável, fiz o trajeto em pelo menos meia hora, pois a curiosidade era grande, queria ver o que o monumento tinha a ver com minha vida hoje. Há um cruzamento em “T” com sinaleira em frente às estátuas, curiosamente o sinal fechou na minha vez de passar e tive visão plena do que acontecia ali. 
No primeiro momento julguei que não veria algo diferente, havia uma senhorinha caminhando em direção à UFBA (Universidade Federal da Bahia), um garoto de skate, um mendigo sentado aos pés de uma estátua. Não havia nada fora do normal... até que vi.
Foi repentino, um pedestre andava ao lado de uma das gordinhas, por algum momento não consegui desviar mais a atenção dele, foi quando um buraco na calçada o fez desequilibrar, ao tentar ficar em pé torceu o tornozelo e tombou para o lado da pista, o ônibus que vinha por ali não teve como desviar e suas rodas estouraram o crânio dele como uma fruta madura. A cena foi horrível, em choque não consegui me mover dali até o buzinaço começar atrás de mim. Parcialmente catatônica fiz o trajeto até o trabalho, tanto que ao parar o carro quase não percebi um segundo bilhete que descansava no banco do passageiro.
Trêmula, peguei o segundo envelope e o coloquei na bolsa, não iria abrir aquele mau agouro de maneira nenhuma. Fui até minha sala no escritório de contabilidade no qual trabalho e fiquei ali amuada por alguns momentos. Então Rita entrou:
- Tu tá com cara de fantasma menina, o que aconteceu?
Rita era minha amiga ali, conversávamos sobre tudo, parceiros, desejos, fofocas e qualquer assunto que fosse colocado. Uma morena de cabelos crespos e curtos, tinha olhos fortes e um sorriso largo, era magra e como eu dizia pra ela todos os dias: “Magra de ruim”. Olhava pra mim curiosa naquele momento.
- Eu nem sei ainda se tem algo a ser dito... aconteceu algo muito estranho comigo essa manhã.
- Me conte logo, minha filha, tenho paciência pra suspense não.
- Veja bem, achei esse bilhete em cima de minha cama pela manhã...
Mostrei pra ela o bilhete e narrei o que havia acontecido, enquanto isso ela escutava compenetrada.
- ...Entendeu? – Concluí.
- Você não bebeu, né?
- Não, criatura, tô te mostrando o bilhete, ora essa.
- Abre o outro.
- O quê?
- Abre o outro! Tu vai ficar sem saber o que é?
- Ai minha santa! Tu não tem medo de acontecer algo, não?
- Pior do que ficar sem saber, não acha?
- Ai... que medo!!! Não quero ver isso.
- Abre logo! Ou você acha que ler isso vai fazer qualquer diferença? Até pra quebrar essa ideia, né?
- Tá bem, vou abrir.
“14 horas”
Mais nada havia ali, apenas isso, um recorte no tempo, um horário, o que iria acontecer?
- Só isso?
- Oxe! Tu acha pouco? Que desgraça será que vai rolar esse horário?
- Se acontecer algo você vai saber, afinal, né, não há como descobrir se esses bilhetes são verídicos ou apenas uma pegadinha.
- Será, amiga? Tomara...
Trabalhei compenetrada, passei a manhã inteira ocupada e quase me esqueci do bilhete, só não o fiz devido ao acidente que presenciei mais cedo naquele dia. Fora horrível, nunca mais minha vida seria a mesma após aquilo. Dez novas empresas haviam contratado o escritório, o que era muito bom, porém o trabalho aumentou vertiginosamente no último mês. Rita ficara a manhã toda resolvendo o quinhão dela e ao fim de tudo resolvemos sair para almoçar.
Em um fast-food  próximo, sentamos para comer um sanduíche. àÀs segundas-feiras era nosso dia de sair do regime, sabe? Fizemos isso para o dia ser mais interessante.
- Como foi sua manhã, Rita?
- Você acredita que a Carnes S. A. quer que eu maquie suas contas?
- Sério?
- Sim, minha filha, ainda bati a maior boca com o dono hoje pela manhã, deixei o pepino pra Dário resolver, o escritório é dele e se quiser ele que se responsabilize.
- Pois é, menina, concordo demais com você, não suje seu nome. Caso fizesse e fosse descoberto, o escritório diria que você agiu sozinha, pule fora disso.
- Já pulei... mas falando sério, queria pular em outro lugar... aquele Dário é um gostoso!
Uma sequência de risos se seguiu e nossa conversa perdurou por mais alguns momentos, comemos o sanduba e, após isso, resolvemos descansar um pouco ali mesmo. Essa é a maior vantagem e a pior desvantagem de andar com Rita, o tempo passa rápido, sabe? Quase não percebemos e por mera sorte vimos que era uma e meia da tarde. 
Corremos como loucas para chegar, entramos no escritório e quem encontramos? Hilton Barbosa, dono da Carnes S. A. Adequadamente à função, o homem se assemelhava a um suíno, nariz achatado com dois grandes vincos nas narinas, gordo e vestido de terno e gravata, seu rosto era cheio de espinhas e escorria suor, este também fazia duas grandes manchas embaixo de suas axilas, uma gravata desarrumada pendia em meio a toda essa carne.
- Aí está a menina que debateu ética comigo pela manhã! Ética, Dário! Pode acreditar nisso? – a voz parecia tão rechonchuda quanto sua forma.
- Senhor Hilton, podemos conversar em particular? Aqui no meio do escritório me deixa, de certa forma, desconfortável. – Dário estava sério, não parecia apreciar a presença dele ali.
- Claro, que é isso!? Vamos lá.
- Vocês duas, venham comigo também!
- Eu também? – perguntei.
- Claro, já viu tudo, então presencie o resto.
Andamos a passos largos até a sala de Dário. Ai, que bunda que ele tem! Sinto calor até agora só de pensar e, naquela calça social, definitivamente Rita estava certa. Entramos na sala e o ar condicionado me fez sentir frio imediatamente, não entendo até hoje como ele mantém aquilo tão frio.
- Pode se sentar, senhor Hilton.
- Obrigado, mas prefiro ficar de pé.
- Sentem-se. – Falou-nos, dando um olhar forte, e sentamos, claro.
- Essa sua funcionária não sabe ganhar dinheiro!
- Realmente, senhor Hilton. Ela foi treinada para administrá-lo.
- Não é disso que falo, Dário, qual é o problema de dar um jeitinho em minhas contas?
- Rita, o que o senhor Hilton pediu que fizesse?
- Veja bem... ele tem passado notas frias, sabe? Pediu que eu adequasse as contas dele para maquiar esses valores por fora.
- Senhor Hilton, acredito que o senhor tem razão, minha funcionária não sabe ganhar dinheiro... – um sorriso se fez aparecer no rosto do empresário – …sujo. – O sorriso desapareceu imediatamente. – Aqui na Contabilionaria Salvador LTDA trabalhamos honestamente e, se o senhor não se enquadra em nosso modo de trabalho, procure outra empresa. Não sujaremos nosso nome com esse tipo de serviço.
- Isso é um ultraje! Você sabe com que está falando?
- Sei, com alguém que está perdendo a linha. Se o senhor não se acalmar, terei que chamar a segurança.
- Você! Você!!! – Hilton colocou uma mão no peito, seu rosto era vermelho como um tomate, olhou para mim e estendeu sua mão, então caiu no chão, e ali ficou, imóvel, o relógio então bateu quatorze horas. Quando a ambulância chegou, confirmou a morte e convocou o IML para levar o corpo.
Ainda, após uma hora de intercorrências, fiquei catatônica em minha mesa. Aconteceu realmente, aquele envelope preto era um augúrio de morte, eu sabia que algo poderia acontecer, mas nada fiz. Era responsabilidade minha? Senti uma mão em meu ombro direito.
- Oi amiga...
- Oi Rita. – Meus olhos marejaram.
- Não é sua culpa, o homem era um tonel de banha, estava na cara que ia enfartar a qualquer momento.
- E o bilhete? Ele avisou... eu sabia, apenas não sabia o que era especificamente.
- Você não tinha como evitar e nem prever aquilo, pare de se culpar.
Dário veio em nossa direção.
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