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É difícil encontrar alguém em Portugal que não associe o rosto e a voz de Graça Freitas aos anos mais duros da pandemia. Foi a médica de saúde pública que, de repente, passou de bastidores técnicos para palco mediático, todos os dias, em direto, a explicar-nos um vírus novo, decisões políticas duras e medidas que mudaram a nossa vida.
Mas esta conversa não é apenas sobre o coronavírus. É, sobretudo, sobre comunicação. Sobre como se fala em público quando não há certezas, quando a informação é imperfeita, quando a verdade científica demora a confirmar-se mas o medo não espera.
Graça Freitas conta como viveu o 31 de dezembro de 2019, convencida de que 2020 seria um ano feliz — e como, no dia seguinte, já lia os primeiros relatórios de um vírus misterioso na China. Explica como ativou uma task force antes mesmo da OMS declarar pandemia. E recorda o choque de perceber que a Covid-19 não ia desaparecer como outras ameaças anteriores: SARS, gripe das aves ou gripe A.
No centro da conversa está sempre a arte de comunicar em tempos de crise:
A ex-diretora-geral da Saúde descreve também a sua experiência pessoal: os dias sem rede por baixo, a pressão política e mediática, os telefonemas sem parar, a avalanche de dados científicos, as ameaças e até a proteção policial à porta de casa. Fala dos erros, das dúvidas, das noites em que pensou em demitir-se — e da convicção que a manteve: a de estar a servir o país com o melhor que sabia.
O episódio revela ainda a importância de distinguir entre ciência, política e comunicação. Os cientistas discutem evidências. Os políticos tomam decisões. Mas é na forma como se comunica essa ponte — entre probabilidades e certezas, entre risco e segurança, entre conhecimento e medo — que se decide a confiança de uma população inteira.
Graça Freitas sublinha que a pandemia expôs uma nova realidade: a voz de um especialista passou a valer tanto quanto a opinião de qualquer utilizador das redes sociais. Essa diluição da autoridade científica foi talvez o maior desafio de comunicação da sua carreira.
Há momentos marcantes nesta conversa:
No final, a conversa regressa ao princípio: ser médico é comunicar. Seja no Alentejo profundo, nos primeiros anos de carreira, a explicar planeamento familiar e saúde materna a uma população carente; seja no palco mediático de uma pandemia, com milhões de olhos postos em cada frase. A escala é diferente, mas a missão é a mesma: falar com clareza, dar confiança, ajudar a compreender o que está em jogo.
Este episódio do Pergunta Simples não é apenas memória da pandemia. É uma reflexão atual sobre o poder e a fragilidade da comunicação em saúde. Sobre como uma palavra pode acalmar ou assustar, como uma decisão pode ser aceite ou rejeitada consoante a forma como é explicada.
Num tempo em que a informação circula mais depressa do que a ciência, e em que a confiança é talvez o recurso mais escasso, ouvir Graça Freitas é revisitar a pandemia… mas é também aprender lições para o futuro.
By Jorge CorreiaÉ difícil encontrar alguém em Portugal que não associe o rosto e a voz de Graça Freitas aos anos mais duros da pandemia. Foi a médica de saúde pública que, de repente, passou de bastidores técnicos para palco mediático, todos os dias, em direto, a explicar-nos um vírus novo, decisões políticas duras e medidas que mudaram a nossa vida.
Mas esta conversa não é apenas sobre o coronavírus. É, sobretudo, sobre comunicação. Sobre como se fala em público quando não há certezas, quando a informação é imperfeita, quando a verdade científica demora a confirmar-se mas o medo não espera.
Graça Freitas conta como viveu o 31 de dezembro de 2019, convencida de que 2020 seria um ano feliz — e como, no dia seguinte, já lia os primeiros relatórios de um vírus misterioso na China. Explica como ativou uma task force antes mesmo da OMS declarar pandemia. E recorda o choque de perceber que a Covid-19 não ia desaparecer como outras ameaças anteriores: SARS, gripe das aves ou gripe A.
No centro da conversa está sempre a arte de comunicar em tempos de crise:
A ex-diretora-geral da Saúde descreve também a sua experiência pessoal: os dias sem rede por baixo, a pressão política e mediática, os telefonemas sem parar, a avalanche de dados científicos, as ameaças e até a proteção policial à porta de casa. Fala dos erros, das dúvidas, das noites em que pensou em demitir-se — e da convicção que a manteve: a de estar a servir o país com o melhor que sabia.
O episódio revela ainda a importância de distinguir entre ciência, política e comunicação. Os cientistas discutem evidências. Os políticos tomam decisões. Mas é na forma como se comunica essa ponte — entre probabilidades e certezas, entre risco e segurança, entre conhecimento e medo — que se decide a confiança de uma população inteira.
Graça Freitas sublinha que a pandemia expôs uma nova realidade: a voz de um especialista passou a valer tanto quanto a opinião de qualquer utilizador das redes sociais. Essa diluição da autoridade científica foi talvez o maior desafio de comunicação da sua carreira.
Há momentos marcantes nesta conversa:
No final, a conversa regressa ao princípio: ser médico é comunicar. Seja no Alentejo profundo, nos primeiros anos de carreira, a explicar planeamento familiar e saúde materna a uma população carente; seja no palco mediático de uma pandemia, com milhões de olhos postos em cada frase. A escala é diferente, mas a missão é a mesma: falar com clareza, dar confiança, ajudar a compreender o que está em jogo.
Este episódio do Pergunta Simples não é apenas memória da pandemia. É uma reflexão atual sobre o poder e a fragilidade da comunicação em saúde. Sobre como uma palavra pode acalmar ou assustar, como uma decisão pode ser aceite ou rejeitada consoante a forma como é explicada.
Num tempo em que a informação circula mais depressa do que a ciência, e em que a confiança é talvez o recurso mais escasso, ouvir Graça Freitas é revisitar a pandemia… mas é também aprender lições para o futuro.