Uma Impala, muito vaidosa da sua agilidade e da rapidez com que corria, encontrou um Caracol e começou a
— Ó Caracol, tu não és capaz de correr. Que vergonha, só és capaz de te arrastar pelo chão.
O Caracol, que era esperto, resolveu enganar a Impala. Por isso desafio-a:
— Vem cá no próximo domingo e vamos fazer uma corrida por esta estrada, desde aqui até ao rio.
— Uma corrida comigo? — perguntou, espantada, a Impala. — Está bem, cá estarei.
E afastou-se a rir, pensando que o Caracol era maluco por querer correr com ela. O Caracol, entretanto,
como tinha ido à escola e sabia ler e escrever, escreveu uma carta a todos os caracóis amigos dele que
moravam ao longo da estrada até ao rio. Nessa carta ele dizia aos amigos para, no domingo, estarem junto à
estrada e, quando passasse a Impala, se ela chamasse pelo Caracol, eles responderem: "Cá estou eu, o
Caracol." No domingo, a Impala encontrou-se com o Caracol e, a rir muito, disse-lhe:
— Vamos lá então correr os dois e ver quem chega primeiro ao rio.
O Caracol deixou-a partir a correr e escondeu-se num arbusto. A Impala corria e, de vez em quando, gritava:
—Caracol, ó Caracol, onde é que tu estás?
E havia sempre um dos amigos do Caracol que estava ali perto e respondia:
— Cá estou eu, o Caracol.
A Impala, que julgava ser sempre o mesmo Caracol que ia a correr com ela, corria cada vez mais, mas havia
em todos os momentos um Caracol para responder quando ela chamava. De tanto correr, a Impala acabou
por se deitar muito cansada e morrer com falta de ar. O Caracol ganhou a aposta porque foi mais esperto
que a Impala e tinha ido à escola junto com os outros caracóis e todos sabiam ler e escrever. Só assim se
puderam organizar para vencer a Impala.
Fonte: Contos moçambicanos (1979)