Moçambique vive a nível energético uma realidade bastante diferente daquela que, na Europa, mais habitualmente consideramos e estudamos, com desafios e objetivos diferentes, mas paralelos. Para caminhar no sentido do objetivo de um desenvolvimento sustentável e justo a nível global, é necessário estar ciente destes desafios. Foi nesse sentido que gravámos este episódio, com o qual esperamos levar os nossos ouvintes a refletir e considerar estas questões na sua vida pessoal e profissional.

Enquanto que em Portugal falamos em descarbonização, em Moçambique fala-se, essencialmente, de eletrificação – eletrificação essa que deve ser imperativamente renovável. Mas, enquanto isso, uma fração significativa da energia elétrica que é de facto produzida atualmente é desperdiçada, para equipamentos pouco eficientes ou iluminação ainda muito à base das tradicionais lâmpadas incandescentes, mas também para comportamentos pouco adequados. Uma estratégia eficaz de eficiência energética será portanto essencial para complementar a expansão da capacidade de geração instalada, para uma boa gestão de recursos, permitindo aumentar o acesso da população à energia elétrica.

O professor Rui Muchaiabande fala-nos neste episódio nas medidas de eficiência energética em curso, mas também no que falta fazer. Fala-nos ainda naquilo que é a sua área de especialização: a educação para a eficiência energética. Será que as escolas são eficazes em transmitir às crianças e jovens ideias e tópicos importantes relacionados com energia? São capazes de levar os alunos a transmitir comportamentos de poupança de energia à sua família, e a levar a cabo, eles próprios, esses comportamentos na sua futura vida adulta? O que é que pode ser feito de forma diferente para aumentar a literacia energética? Estas são algumas das questões sobre as quais o professor Rui Muchaiabande se debruça na sua investigação, e das quais nos fala aqui hoje.

O professor Rui Muchaiabande integra a União dos Físicos de Países de Língua Portuguesa.

A grande maioria dos painéis fotovoltaicos que vemos em nosso redor são compostos por células de silício monojunção. Relativamente simples, baratas e compostas pelo segundo material mais abundante na crosta terrestre, estas células permitiram a rápida expansão da energia solar, e têm, até agora, dominado o mercado. Mas será sempre assim?

Células monojunção têm apenas uma energia de hiato, o que significa que perdem, por definição, uma grande fração da energia da radiação incidente. Por outro lado, células multijunção permitem a sobreposição de diversas subcélulas, com diferentes energias de hiato, permitindo um melhor aproveitamento do espetro solar e, dessa forma, uma eficiência muito superior.

Estas células não vêm, no entanto, sem os seus próprios desafios. Neste episódio, o professor José Silva falou-nos um pouco no que lhe despertou o interesse por esta área, e no trabalho que tem vindo a desenvolver, nomeadamente na utilização ainda do silício, com todos os seus benefícios, mas em células multijunção. Será que esta vai ser a combinação mágica para ultrapassar as dificuldades? Ouve o episódio, e decide por ti própri@!

As partículas finas, conhecidas como PM10 e PM2.5, são emitidas através de, entre outros, a combustão nos nossos veículos ou o atrito dos pneus com a estrada, e conseguem penetrar na corrente sanguínea, provocando danos à nossa saúde.

Ao mantermos as janelas frequentemente abertas, estamos a expor-nos a estas partículas. Mas a decisão de fechar as nossas janelas também não é ideal do ponto de vista energético, já que nos leva a recorrer à utilização de sistemas artificiais de ventilação e ar condicionado, provocando um maior gasto de eletricidade e promovendo a poluição urbana se a eletricidade utilizada for parcialmente de origem fóssil, o que acaba por agravar o problema e criar um círculo vicioso.

Conversámos então com o professor Guilherme Carrilho da Graça sobre o uso de ventilação natural em edifícios e o seu potencial em termos de eficiência energética, e tecnologias inovadoras que nos permitem o seu uso sem colocar em risco a nossa saúde.

Portugal sempre teve uma grande ligação ao mar, e é bem provável que, nos próximos anos, esta ligação fique ainda mais forte. À medida que as energias renováveis se expandem cada vez mais em terra, chegou o momento de nos virarmos para os oceanos, que têm um enorme potencial por explorar em termos de energia limpa. Será que nos próximos anos veremos grandes extensões de turbinas eólicas ao longo da costa portuguesa? Iremos finalmente assistir à concretização da energia das ondas? E se sim, sob que moldes? Apenas o tempo o dirá, mas entretanto, investigadores do LNEG, entre eles a professora Ana Estanqueiro, têm estado ocupados a criar uma ferramenta que ajudará promotores de centrais offshore a selecionar os melhores locais para a instalação destes projetos, e os melhores moldes sob os quais o fazer. Neste episódio, a professora Ana Estanqueiro conversou connosco sobre os desafios no desenvolvimento desta ferramenta, o futuro próximo das energias offshore, e “gaivotas” incomodativas.

Sabe mais em: https://offshoreplan.lneg.pt/

"Os projetos energéticos devem servir o território onde estão, e não servir-se dele."

Portugal foi um dos países pioneiros na adoção de energia solar fotovoltaica em larga escala. Numa fase em que as aplicações da energia fotovoltaica se cingiam ainda quase exclusivamente ao uso em telhados, e que Portugal tinha um limite máximo legal de potência instalada de PV, o prof. Mário decidiu desempenhar a sua parte num esforço conjunto para mudar o paradigma - organizando a construção da Central Solar de Amareleja, que era, à data, a maior do mundo. Mas o seu contributo não ficou por aí. Neste episódio, partilha connosco o seu testemunho de uma fase ainda embrionária do PV em Portugal e do seu papel na enorme mudança que se verificou na área na última década.

Correção feita pelo próprio professor: as metas nacionais do Luxemburgo correspondem a 11% do consumo proveniente de energias renováveis, e não 11 GW como disse o professor Mário.

Carros elétricos marcam cada vez mais presença nas nossas estradas, e é certo que esta tendência se manterá durante os próximos anos. Mas será que dentro de pouco tempo estes carros serão elétricos solares?

A energia solar fotovoltaica tem crescido a um ritmo exponencial, em particular no nosso país, reconhecido por turistas internacionais como bastante soalheiro. Os custos desta tecnologia são hoje cerca de um quinto daquilo que eram há apenas 10 anos atrás. Grandes campos cobertos de painéis, aquilo que era inicialmente visto por muitos como uma paisagem reminescente de filmes de ficção científica, tornaram-se uma visão relativamente comum. Mas será que podemos cobrir os nossos carros com estes painéis? E, se o objetivo é eventualmente descarbonizar por completo a rede elétrica, qual a vantagem de utilizar estes carros para reduzir as necessidades de carregamento a partir da rede? Estas perguntas e muitas outras são respondidas neste episódio pelo professor Miguel Centeno Brito.

Leitura adicional recomendada pelo professor:

The Driven Podcast: How close are we to solar cars? - https://bit.ly/37M5bgE

Sono Motors reveals $34,000 Sion solar car “you can really afford” - https://bit.ly/2NH1mm2

Why Lightyear Could Be The Most Game-Changing Car Company On the Planet - https://bit.ly/2NumQ5R

Um dos grandes desafios das energias renováveis é o facto de algumas delas não serem despacháveis, isto é, de não podermos armazená-las na sua forma primária e controlar quando produzem. A energia solar, em particular, produz exclusivamente durante o dia, enquanto que o maior pico de consumo elétrico é ao início da noite. O armazenamento de energia é, por enquanto, difícil, mas será que podíamos usar as nossas casas para a armazenar? No inverno, podemos ter um aquecedor inteligente que se ligue durante o dia de modo a pré-aquecer as nossas casas, utilizando eletricidade proveniente de energia solar. Dessa forma, podemos chegar ao fim do dia a uma casa já quentinha, reduzindo ou até eliminando a necessidade de ligar aquecedores nesse período de maior consumo, reduzindo as necessidades energéticas a essa hora e aliviando assim a rede elétrica.

A professora Marta Panão vem hoje falar-nos nesta técnica, da sua eficiência e da sua aplicabilidade em Portugal.

Quem quiser saber mais detalhes do estudo discutido neste episódio pode consultar o paper através do link: https://cutt.ly/XkKUE97