Após a vitória romana sobre Cartago na Segunda Guerra Púnica, Roma, ao invés de desfrutar da paz, logo se viu envolvida em outro conflito: a Segunda Guerra Macedônica. Mas como assim "segunda" guerra se a primeira nem foi mencionada?
Essa é uma ótima pergunta que nos leva a duas observações importantes. Primeiramente, essas guerras não eram numeradas na época em que ocorreram. A designação "segunda" é uma construção historiográfica posterior para facilitar o estudo e a compreensão dos eventos. Em segundo lugar, para entendermos a Segunda Guerra Macedônica, precisamos voltar um pouco no tempo e analisar o contexto do Império de Alexandre, o Grande, que, após sua morte, foi dividido entre seus generais, dando origem a diferentes reinos, incluindo a Macedônia.
É nesse cenário geopolítico que se desenrola a Primeira Guerra Macedônica. Durante a Segunda Guerra Púnica, Aníbal, buscando aliados contra Roma, enviou emissários à Macedônia pedindo apoio do rei Filipe V. Roma, lutando por sua sobrevivência, enviou um destacamento para incentivar os gregos, especialmente a Liga Etólia, a se rebelarem contra o domínio macedônico. Esse conflito paralelo impediu que Filipe V enviasse reforços a Aníbal na Itália.
Após a morte de Ptolomeu IV do Egito, Filipe V e Antíoco III, do Império Selêucida, uniram forças para expandir seus territórios, o que alarmou o rei de Pérgamo, Eumenes II, que buscou apoio de Roma. Os romanos, por sua vez, já de olho na região, decidiram enviar um ultimato à Macedônia, exigindo sua retirada da Grécia.
Com a recusa de Filipe V, a guerra se tornou inevitável. O comando das operações romanas na Grécia ficou a cargo do cônsul Tito Quinto Flaminino. Filipe V, buscando equilibrar as forças, contratou mercenários, mas não foi suficiente para deter o poderio romano.
A batalha decisiva ocorreu em Cinoscefalos, em 197 a.C. A vitória romana não apenas encerrou a guerra, mas também marcou um ponto de virada na história do mundo ocidental. A falange macedônica, outrora invencível, foi superada pela tática do manípulo romano.
Flaminino, em um gesto de propaganda, anunciou a liberdade da Grécia, mas, na realidade, o domínio romano sobre a região se consolidou. A ausência de um exército de ocupação romano foi mais uma estratégia para garantir a lealdade dos gregos.
No entanto, a paz não duraria muito. No próximo episódio, veremos a amarga Liga Etólia, que não obteve as concessões territoriais desejadas, buscar o apoio de Antíoco III, o Grande, dando início à Terceira Guerra Macedônica, que marcaria o fim da era helenística e a ascensão definitiva de Roma no Mediterrâneo.