Por Irmão José Ronaldo Viega Alves
COMENTÁRIOS INICIAIS:
No capítulo anterior conhecemos um pouco mais detalhadamente o conteúdo desses dois outros importantes documentos da Maçonaria em seu período Operativo, o Manuscrito Cooke (1450) e o Manuscrito da Grande Loja Nº 1 (1583), que juntamente com o Manuscrito Regius (vide o capítulo II) compuseram uma mostra acerca dos três documentos considerados mais antigos dentro do que se convencionou chamar de Old Charges. No âmbito da apresentação toda, ficamos conhecendo detalhes as suas origens, assim como, quais as referências que constavam no corpo desses documentos relacionadas à Geometria.
Ainda no capítulo anterior, conhecemos aspectos também que diziam respeito ao uso da expressão Grande Arquiteto do Universo pela Maçonaria, eis que, num primeiro momento, o nome parece remeter à própria arte da construção, e por conseguinte, à Geometria conforme alguns dos conceitos que estavam em voga na época. Isso fez com que, buscássemos maiores informações acerca das suas origens, sendo que, uma das constatações mais importantes foi a de que, há muito tempo o nome já vinha sendo utilizado (bem antes dele aportar na Maçonaria), por homens de ciência, filósofos, etc. A expressão Grande Arquiteto do Universo ou sua nomenclatura parece reforçar algumas ideias surgidas na Idade Média de que a Astronomia e a Geometria eram ciências que estavam diretamente ligadas à Divindade, assim como, à ideia de que Deus ao criar o mundo, se utilizou de princípios que essencialmente são associados à Geometria.
Tal como a metáfora essa que passou a ser utilizada, onde a divindade teria criado o universo com base em princípios harmônicos e geométricos, os trabalhadores medievais ligados à arte da construção, os pedreiros, os Maçons, os construtores de catedrais também acreditaram que as suas construções poderiam conter e ostentar os mesmos princípios, já que sua nobre missão envolvia erigir templos com o objetivo de que eles pudessem servir de morada de Deus aqui nesse mundo, ainda que, na Maçonaria propriamente a expressão foi mesmo colocada em evidência a partir das Constituições de Anderson (1723). Até então, havia um conceito do Deus trinitário, que era o conceito da Igreja Católica especificamente, aliás, a Maçonaria surgiu do seio da igreja católica.
É de considerarmos também que, a expressão Grande Arquiteto do Universo, conforme alguns estudiosos pode ter uma origem alquímica rosa-cruz, eis que, L’Andrea a teria utilizado em um trabalho no ano de 1623. (Fadista, 2002, pág. 140)
Conforme o Irmão Nicola Aslan, havia uma história lendária da Maçonaria, com referências à Arquitetura, às edificações e à Geometria, sendo que, esta última era entendida conforme o pensamento da época.
Enfim, com esses três documentos citados pudemos captar a essência dos Antigos Deveres (Old Charges). Sem esquecer aqui que esses documentos também são o melhor registro dos passos iniciais da Ritualística maçônica, pois, além da mistura essa que consistia de duas orações, uma no início e outra no final, algumas lendas ingênuas, contos simplórios e os deveres que deveriam ser cumpridos, o documento era lido na íntegra para todos aqueles que seriam admitidos como membros de uma Loja, o que significa dizer, por ocasião da cerimônia realizada na sua recepção. (Aslan, 2015, pág. 10)
Nossos estudos prosseguem então, não sem antes lembrar que: à época, a Geometria que era uma das Sete Ciências, possuía o status de “fonte de todo o conhecimento”.
O GRANDE ARQUITETO DO UNIVERSO OU O GRANDE GEÔMETRA?
Lembrem que ao comentarmos a influência de alguns filósofos gregos (Capítulo I) que se destacaram e também muito contribuíram para a ciência da Geometria, foi citada esta que é uma das suas frases mais famosas atribuídas a Platão, a qual constava no pórtico que dava entrada à sua Academia, onde se lia:
“Que ninguém que não seja geômetra entre aqui”.
Pois é, sobre o nome de Deus estar associado à Geometria, parece que na Maçonaria vamos