Por Eduardo Szklarz
Muita gente pensa na maçonaria como uma das sociedades secretas mais poderosas da história. Poucos sabem, contudo, que ela também tem sido uma das mais perseguidas. Não é para menos: na Idade Média, quando o mundo era controlado a ferro e fogo por reis absolutistas e papas inquisidores, os maçons apoiavam a liberdade, a ciência, o laicismo e a tolerância religiosa.
Questionavam qualquer dogma. Pregavam que cada indivíduo tinha livre-arbítrio em suas escolhas. E ainda mantinham suas reuniões em absoluto segredo. Natural, portanto, que esses homens de avental representassem uma ameaça para ditadores, fanáticos e defensores do pensamento único.
“Os mais férreos perseguidores da maçonaria estavam — e ainda estão — na Igreja Católica”, diz o pesquisador argentino Guillaume Freinet, autor do livro 'Masones
y Rosacruces '(“Maçons e Rosa-Cruzes”, sem tradução no Brasil).
Segundo Freinet, a relação com a Santa Sé até que começou bem: reunidos em sindicatos de pedreiros, os maçons eram contratados pelo alto clero para construir catedrais Europa afora. Mas, à medida que a fraternidade deixou os tijolos de lado e se assumiu como uma sociedade secreta filosófica — ou melhor, especulativa —, no século 17, os donos do poder se sentiram ameaçados.
Com a publicação da Constituição de Anderson (pilar da maçonaria moderna), em 1723, a Igreja rompeu definitivamente com os ex-protegidos. Em 1738, por exemplo, o papa Clemente XII emitiu uma bula proibindo os fiéis de integrar a ordem. E os tribunais da Inquisição ganharam carta branca para torturar “hereges”, acusados de satanismo.
Foi assim com o suíço John Coustos, preso em Lisboa por ordem do governo português e levado à câmara de tortura do Santo Ofício. Forçado a jurar sobre os Evangelhos, teve de se despir e foi atado no potro, uma espécie de cama que estirava pernas e braços da vítima até arrebentá-los.
“Eu o informei de que, se morresse durante a operação, quebrasse algum membro ou perdesse os sentidos, a culpa seria dele, e não dos senhores ministros”, relata o inquisidor Felipe de Abranches nos autos do processo. O maçom foi libertado graças à intervenção do embaixador da Inglaterra.
Exilado em Londres, rompeu o silêncio imposto pelos bispos e contou tudo no livro 'Os Sofrimentos de John Coustos' (1745). Os papas seguintes também atacaram os maçons, entre eles Pio VII (cujo pontificado foi de 1800 a 1823), Leão XII (1823 a 1829) e Gregório XVI (1831 a 1846). Até mesmo em casos recentes, quando Bento XVI, o penúltimo papa, condenou a maçonaria.
O mais incisivo de todos, no entanto, talvez tenha sido Leão XIII (sumo pontífice de 1878 a 1903). Na encíclica Humanum Genus, de 1884, ele dizia que “os partidários do mal” haviam se juntado numa organização de alcance mundial: a sociedade dos franco-maçons. “[Eles] tratam de arruinar e derrubar a Santa Igreja para chegar, se possível, a despojar as nações cristãs dos bens espirituais que elas recebem do Nosso Salvador Jesus Cristo”, afirmou o papa.
Na mira de fascistas
Na virada do século 19 para o século 20, os maçons se tornaram alvo dos partidos de direita. Durante a revolta anarquista de 1909 contra o rei espanhol Afonso XIII, por exemplo, o governo prendeu Francisco Ferrer - um maçom que tinha fundado escolas laicas e escrito livros criticando a Igreja. “Acusado de instigar a rebelião, Ferrer foi julgado por uma corte marcial e fuzilado”, escreve o historiador inglês Jasper Ridley no livro 'Le Freemasons'.
Durante a ditadura de Getúlio Vargas, as lojas maçônicas foram obrigadas a ter personalidade jurídica própria. Para muitos historiadores, essa foi a forma que o governo encontrou de identificar os seus membros facilmente. Os templos foram fechados, mas isso não significa que Vargas reprimiu a maçonaria como um todo. “Assim como na Revolução Francesa, havia maçons dos dois lados. A maioria se contrapôs a Vargas, mas alguns o apoiaram”, diz Marcos José da Silva, grão-mestre geral do Grande Oriente do Brasil.
Os simpati