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Deolindo Pereira e o Assassinato em Massa em Itapina, Colatina - 1961
Em Colatina, crime a baixo preço
Texto: José Franco
Fotos: José Inácio**
Cadáveres foram descobertos nas terras de Francisco Deolindo Pereira. O corpo de um velho de 80 anos, vítima dos criminosos, foi encontrado.
No vale do Rio Doce, bandoleiros fizeram do crime uma profissão rentável.
A última vez que Valdemiro Pereira foi visto, carregava na garupa do seu cavalo o cadáver de uma de suas vítimas. Valdemiro e seu irmão João, lavradores residentes no distrito de São João Grande, no município de Colatina, agora estão foragidos, e a polícia capixaba lhes dá caça sem tréguas.
De acordo com o testemunho de Elias Henriques, íntimo, há 30 anos, dos dois irmãos, a família Pereira é responsável, seguramente, por mais de uma dezena de assassinatos, praticados com machado e tiros de garrucha 380. Com uma singularidade macabra: os próprios facínoras enterravam os corpos nas terras do velho Francisco Deolindo Pereira, pai dos criminosos e mandante de alguns homicídios.
O véu que encobria a série de crimes hediondos, perpetrados contra pessoas humildes, só foi levantado quando Elias, apesar de amigo dos Pereira, também foi ameaçado de morte por questões de divisão de terras. Elias compareceu à delegacia e fez revelações sobre a execução do alemão Emílio Boone Sobrinho, morto em 28 de novembro de 1958 por Manoel Ramos, capanga de Francisco Deolindo, que recebeu 21 mil cruzeiros para “fazer o serviço”.
O inquérito que apurava esse crime ainda estava em fase policial quando, inesperadamente, Manoel Ramos foi dado como desaparecido. Conta Elias que os irmãos Valdemiro e João o mataram para recuperar o dinheiro que o pai, Francisco Deolindo, lhe dera, e o enterraram. Assim teria começado o rosário de crimes praticados por Valdemiro e um primo destes, chamado Antônio.
O próprio Elias Henriques, comparecendo pessoalmente à polícia para revelar esses episódios, mostrou ter compactuado com os irmãos Pereira em outro crime bárbaro, do qual foi vítima um velhinho de 80 anos conhecido como Puri. Para dar mais credibilidade ao seu depoimento, Elias contou ao Capitão Décio Nascimento, delegado de Colatina, que, “ainda há quatro meses, o velho Puri trabalhava em minha casa, peneirando café, quando Valdemiro chegou e disse: ‘Olhe, soube que Puri está com 13 contos; está na hora de vermos isso’. Em seguida, Valdemiro abateu Puri com um machado. O velho, no entanto, não carregava nenhum dinheiro”.
Elias ajudou Valdemiro a enterrar a vítima no fundo de seu quintal, onde depois plantaram um pé de abacaxi na cova onde jazia Puri. De posse dessa denúncia e de outra que indicava que mais um cadáver estaria enterrado a poucos quilômetros da casa de Elias, o Capitão Décio providenciou uma escolta policial e partiu para os locais indicados, distantes cerca de 10 quilômetros de Colatina.
No quintal da casa de Elias, a polícia encontrou o corpo do velho Puri, jogado de bruços em uma cova rasa. Em uma garganta do morro, dali a poucos quilômetros, outra cova foi descoberta pela equipe policial, onde havia um corpo em avançado estado de decomposição, supostamente de Sebastião Alves Pinto, outra vítima dos criminosos Pereira.
A reportagem, que acompanhou a sinistra caça às sepulturas, verificou que a população de São João Grande conhece histórias horripilantes de crimes e sepultamentos, mas prefere silenciar por motivos óbvios. Quando a equipe policial retornava a Colatina ao entardecer, um jovem de nome Osvaldo Gonçalves Ferreira, de 19 anos, procurou o Capitão Décio e mostrou-lhe uma terceira cova, ao pé de umas bananeiras, a menos de um quilômetro da casa de Elias.
Deolindo Pereira e o Assassinato em Massa em Itapina, Colatina - 1961
Em Colatina, crime a baixo preço
Texto: José Franco
Fotos: José Inácio**
Cadáveres foram descobertos nas terras de Francisco Deolindo Pereira. O corpo de um velho de 80 anos, vítima dos criminosos, foi encontrado.
No vale do Rio Doce, bandoleiros fizeram do crime uma profissão rentável.
A última vez que Valdemiro Pereira foi visto, carregava na garupa do seu cavalo o cadáver de uma de suas vítimas. Valdemiro e seu irmão João, lavradores residentes no distrito de São João Grande, no município de Colatina, agora estão foragidos, e a polícia capixaba lhes dá caça sem tréguas.
De acordo com o testemunho de Elias Henriques, íntimo, há 30 anos, dos dois irmãos, a família Pereira é responsável, seguramente, por mais de uma dezena de assassinatos, praticados com machado e tiros de garrucha 380. Com uma singularidade macabra: os próprios facínoras enterravam os corpos nas terras do velho Francisco Deolindo Pereira, pai dos criminosos e mandante de alguns homicídios.
O véu que encobria a série de crimes hediondos, perpetrados contra pessoas humildes, só foi levantado quando Elias, apesar de amigo dos Pereira, também foi ameaçado de morte por questões de divisão de terras. Elias compareceu à delegacia e fez revelações sobre a execução do alemão Emílio Boone Sobrinho, morto em 28 de novembro de 1958 por Manoel Ramos, capanga de Francisco Deolindo, que recebeu 21 mil cruzeiros para “fazer o serviço”.
O inquérito que apurava esse crime ainda estava em fase policial quando, inesperadamente, Manoel Ramos foi dado como desaparecido. Conta Elias que os irmãos Valdemiro e João o mataram para recuperar o dinheiro que o pai, Francisco Deolindo, lhe dera, e o enterraram. Assim teria começado o rosário de crimes praticados por Valdemiro e um primo destes, chamado Antônio.
O próprio Elias Henriques, comparecendo pessoalmente à polícia para revelar esses episódios, mostrou ter compactuado com os irmãos Pereira em outro crime bárbaro, do qual foi vítima um velhinho de 80 anos conhecido como Puri. Para dar mais credibilidade ao seu depoimento, Elias contou ao Capitão Décio Nascimento, delegado de Colatina, que, “ainda há quatro meses, o velho Puri trabalhava em minha casa, peneirando café, quando Valdemiro chegou e disse: ‘Olhe, soube que Puri está com 13 contos; está na hora de vermos isso’. Em seguida, Valdemiro abateu Puri com um machado. O velho, no entanto, não carregava nenhum dinheiro”.
Elias ajudou Valdemiro a enterrar a vítima no fundo de seu quintal, onde depois plantaram um pé de abacaxi na cova onde jazia Puri. De posse dessa denúncia e de outra que indicava que mais um cadáver estaria enterrado a poucos quilômetros da casa de Elias, o Capitão Décio providenciou uma escolta policial e partiu para os locais indicados, distantes cerca de 10 quilômetros de Colatina.
No quintal da casa de Elias, a polícia encontrou o corpo do velho Puri, jogado de bruços em uma cova rasa. Em uma garganta do morro, dali a poucos quilômetros, outra cova foi descoberta pela equipe policial, onde havia um corpo em avançado estado de decomposição, supostamente de Sebastião Alves Pinto, outra vítima dos criminosos Pereira.
A reportagem, que acompanhou a sinistra caça às sepulturas, verificou que a população de São João Grande conhece histórias horripilantes de crimes e sepultamentos, mas prefere silenciar por motivos óbvios. Quando a equipe policial retornava a Colatina ao entardecer, um jovem de nome Osvaldo Gonçalves Ferreira, de 19 anos, procurou o Capitão Décio e mostrou-lhe uma terceira cova, ao pé de umas bananeiras, a menos de um quilômetro da casa de Elias.