O “Sermão da Quarta-Feira de Cinzas” foi proferido pelo Padre António Vieira, em Roma, na Igreja de S. António dos Portugueses, em 1672.
O “Sermão de Quarta-Feira de Cinzas” é uma das obras mais destacadas do Padre António Vieira (1608-1697), jesuíta português do século XVII, amplamente reconhecido pela sua notável eloquência e pela profundidade dos temas que abordava. Proferido num dos períodos litúrgicos mais relevantes para a Igreja Católica — a Quaresma, que se inicia precisamente na Quarta-Feira de Cinzas — este sermão espelha os valores centrais de um tempo de reflexão e penitência. Com o seu inconfundível estilo barroco, Vieira concilia erudição bíblica, apelos morais e metáforas incisivas para exortar os fiéis a uma conversão autêntica.
Resumo do Conteúdo
1. Contexto e tema central: Neste sermão, Vieira enfatiza a fragilidade da existência humana, recordando a efemeridade da vida e sublinhando a importância do arrependimento. A Quarta-Feira de Cinzas, que inaugura a Quaresma, surge como um período de recolhimento espiritual, em que os cristãos são desafiados a lembrar-se de que “do pó viemos e ao pó voltaremos”. Ao realçar a condição frágil do homem, Vieira desperta consciências para a futilidade das vaidades terrenas e para a premência de uma verdadeira conversão.
2. Os “irmãos” como destinatários: Com frequência, o padre dirige-se à congregação utilizando o termo “irmãos” (ou “caríssimos irmãos”), realçando a noção de comunidade unida pela mesma fé e responsabilidade cristã. No “Sermão de Quarta-Feira de Cinzas”, esses “irmãos” são todos os fiéis presentes e, por extensão, toda a humanidade. Vieira convida-os a uma mudança de vida e à reflexão, conscientes de partilharem uma mesma condição humana, débil e necessitada da graça de Deus.
3. Exortação à conversão: Através de exemplos bíblicos e metáforas, Vieira mostra como o apego às glórias mundanas é fútil e danoso para a alma. O pregador contrasta a transitoriedade do homem com a eternidade divina, sublinhando que a morte é a única certeza da existência humana e que, por conseguinte, urge preparar-se para o Juízo. A Quaresma — inaugurada pela Quarta-Feira de Cinzas — apresenta-se, assim, como uma oportunidade singular de transformação interior e de busca do perdão.
4. Estilo e recursos retóricos: Marcado pelo barroco, o sermão recorre frequentemente a imagens contrastantes (vida vs. morte, glória vs. pó, tempo vs. eternidade). Vieira faz uso do conceptismo, organizando argumentos de modo lógico e persuasivo, bem como do cultismo, empregando recursos de estilo e linguagem elaborada para intensificar o efeito estético e emocional.
Em suma, no “Sermão de Quarta-Feira de Cinzas”, o Padre António Vieira convoca os seus “irmãos” — ou seja, toda a comunidade cristã — a meditar na brevidade da vida, na ilusão dos bens materiais e na urgência de uma conversão genuína. Alicerçada na tradição católica e enquadrada no período litúrgico da Quaresma, esta mensagem continua a ser pertinente, pois desafia cada um a refletir no que verdadeiramente importa em meio às inquietações do mundo.
O sermão que estamos a ouvir foi lido por Luís Miguel Cintra, na Igreja de São Roque no dia 24 de Outubro de 2010. A gravação esteve a cargo de Joaquim Pinto,
Retirado e compilado do canal de Youtube “Do Tempo dos Sonhos” [https://www.youtube.com/@DoTempoDosSonhos]