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Resumo da conferência (até 3900 caracteres com espaços)
Vivemos submersos num ruído digital que desafia a atenção e a interioridade. Esta conferência, inserida no projeto educativo “A Escola que Queremos” das Irmãs Doroteias, propõe uma pedagogia da escuta como resposta a este desafio contemporâneo. Para isso, articula três pilares fundamentais: a sociedade em rede (Castells), a mediologia (Debray) e o conectivismo (Siemens).
1. A Sociedade em Rede: o contexto da escuta
No paradigma atual do informacionalismo, a informação substitui o carvão como motor da sociedade. Vivemos em redes digitais globais, onde tudo se conecta, mas nem sempre se comunica com profundidade. A atenção dá lugar ao clique; a escuta, ao scroll. Como lembra Castells, estas redes não são neutras — incluem, excluem e hierarquizam. A educação, neste contexto, deve capacitar os alunos para uma escuta crítica, ajudando-os a resistir à lógica da dispersão e a cultivar sentido.
2. A Mediologia de Régis Debray: transmitir no tempo
Debray distingue comunicar (espacial, efémera) de transmitir (temporal, cultural). A escola deve ser um lugar de transmissão: de conteúdos interiorizados, de símbolos encarnados, de heranças vividas. A mediologia destaca a importância dos meios — a escuta é mediada por ambientes, rituais, dispositivos.
Debray propõe dois conceitos-chave:
Matéria Organizada (MO): tecnologias, suportes, códigos.
Organização Materializada (OM): instituições, professores, comunidades.
A escola deve articular MO e OM para ser eficaz na transmissão. O digital não basta por si: sem projeto pedagógico e corpo docente coeso, não há herança possível. A escolha dos suportes também importa: o livro (grafosfera) estrutura o pensamento; o ecrã (videosfera) fragmenta-o.
A escola é, pois, território e guardiã de símbolos. Organiza sentidos, cria pertença e assegura continuidade cultural — algo que as redes digitais, por si sós, não garantem.
3. O Conectivismo de George Siemens: aprender em rede
Siemens propõe uma aprendizagem distribuída, participativa e situada em redes. O conhecimento já não reside apenas nos livros, mas na interação entre sujeitos, media e comunidades. Aprende-se a saber onde encontrar, como avaliar e com quem dialogar. A autoridade é relacional, não imposta.
Este paradigma sintoniza-se com a proposta das Irmãs Doroteias: formação centrada na pessoa, cidadania ativa e interioridade. Educar na rede, sem se dissolver nela, é hoje condição de transformação significativa.
4. Educar a escuta: do ruído à ressonância
Educar a escuta é formar sujeitos atentos, críticos, sensíveis e contemplativos. Não se trata apenas de atenção, mas de uma escuta integral: racional, sensível, espiritual e política. Em tempos de aceleração e fragmentação (Bauman, Lipovetsky), educar para a escuta é resistir à superficialidade e recentrar-se no essencial.
A escuta educativa assume três movimentos:
Educar a pergunta, antes da resposta.
Centrar-se na pessoa, mais que nos conteúdos.
Narrar a experiência como saber vivido e partilhado.
Neste sentido, a liturgia escolar (tempo, corpo, Mistério) é mediadora privilegiada da escuta:
Diacrónica: insere a vida numa história maior.
Sapiencial: devolve o ritmo e o sentido.
Tradicional: liga passado, presente e horizonte escatológico.
A escuta torna-se, assim, gesto fundante da educação, pois educar com o coração é escutar com profundidade.
Conclusão
A escola é chamada a ser instância de transmissão simbólica e cultural, não apenas de comunicação técnica. Deve usar a mediação digital para formar sujeitos enraizados, atentos, críticos, capazes de escutar e transformar. A Escola que Queremos é uma escola da escuta: espiritual, cultural, relacional. Porque só quem escuta com o coração poderá transformar o mundo com sentido.
Resumo da conferência (até 3900 caracteres com espaços)
Vivemos submersos num ruído digital que desafia a atenção e a interioridade. Esta conferência, inserida no projeto educativo “A Escola que Queremos” das Irmãs Doroteias, propõe uma pedagogia da escuta como resposta a este desafio contemporâneo. Para isso, articula três pilares fundamentais: a sociedade em rede (Castells), a mediologia (Debray) e o conectivismo (Siemens).
1. A Sociedade em Rede: o contexto da escuta
No paradigma atual do informacionalismo, a informação substitui o carvão como motor da sociedade. Vivemos em redes digitais globais, onde tudo se conecta, mas nem sempre se comunica com profundidade. A atenção dá lugar ao clique; a escuta, ao scroll. Como lembra Castells, estas redes não são neutras — incluem, excluem e hierarquizam. A educação, neste contexto, deve capacitar os alunos para uma escuta crítica, ajudando-os a resistir à lógica da dispersão e a cultivar sentido.
2. A Mediologia de Régis Debray: transmitir no tempo
Debray distingue comunicar (espacial, efémera) de transmitir (temporal, cultural). A escola deve ser um lugar de transmissão: de conteúdos interiorizados, de símbolos encarnados, de heranças vividas. A mediologia destaca a importância dos meios — a escuta é mediada por ambientes, rituais, dispositivos.
Debray propõe dois conceitos-chave:
Matéria Organizada (MO): tecnologias, suportes, códigos.
Organização Materializada (OM): instituições, professores, comunidades.
A escola deve articular MO e OM para ser eficaz na transmissão. O digital não basta por si: sem projeto pedagógico e corpo docente coeso, não há herança possível. A escolha dos suportes também importa: o livro (grafosfera) estrutura o pensamento; o ecrã (videosfera) fragmenta-o.
A escola é, pois, território e guardiã de símbolos. Organiza sentidos, cria pertença e assegura continuidade cultural — algo que as redes digitais, por si sós, não garantem.
3. O Conectivismo de George Siemens: aprender em rede
Siemens propõe uma aprendizagem distribuída, participativa e situada em redes. O conhecimento já não reside apenas nos livros, mas na interação entre sujeitos, media e comunidades. Aprende-se a saber onde encontrar, como avaliar e com quem dialogar. A autoridade é relacional, não imposta.
Este paradigma sintoniza-se com a proposta das Irmãs Doroteias: formação centrada na pessoa, cidadania ativa e interioridade. Educar na rede, sem se dissolver nela, é hoje condição de transformação significativa.
4. Educar a escuta: do ruído à ressonância
Educar a escuta é formar sujeitos atentos, críticos, sensíveis e contemplativos. Não se trata apenas de atenção, mas de uma escuta integral: racional, sensível, espiritual e política. Em tempos de aceleração e fragmentação (Bauman, Lipovetsky), educar para a escuta é resistir à superficialidade e recentrar-se no essencial.
A escuta educativa assume três movimentos:
Educar a pergunta, antes da resposta.
Centrar-se na pessoa, mais que nos conteúdos.
Narrar a experiência como saber vivido e partilhado.
Neste sentido, a liturgia escolar (tempo, corpo, Mistério) é mediadora privilegiada da escuta:
Diacrónica: insere a vida numa história maior.
Sapiencial: devolve o ritmo e o sentido.
Tradicional: liga passado, presente e horizonte escatológico.
A escuta torna-se, assim, gesto fundante da educação, pois educar com o coração é escutar com profundidade.
Conclusão
A escola é chamada a ser instância de transmissão simbólica e cultural, não apenas de comunicação técnica. Deve usar a mediação digital para formar sujeitos enraizados, atentos, críticos, capazes de escutar e transformar. A Escola que Queremos é uma escola da escuta: espiritual, cultural, relacional. Porque só quem escuta com o coração poderá transformar o mundo com sentido.