Poesia Quase Todo Dia

dois corpos


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este é "dois corpos", um poema sobre a ambiguidade de estar vivo:

tenho dois corpos:

um falso, um verdadeiro;

tenho dois corpos e

nenhum deles inteiro

metade de mim é pura mentira:

o passado, a infância, a mãe;

metade de mim, tudo verdade:

o futuro, a velhice, o irmão;

e há ainda uma terceira metade

nessa conta tão equivocada

onde a soma sabe-se menos que nada

e o dividendo é a fração de um pai

tenho dois corpos:

um físico que não quantifico

outro sujeito à gravidade da lei

tenho dois corpos:

um desenhado na areia

outro entalhado no barro

tenho dois corpos:

um que se sabe nomear muito bem

outro que ainda me pergunta

qual é mesmo o nome que tem

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Poesia Quase Todo DiaBy Eduardo Furbino