“A Maçonaria, meus Irmãos, é estudo, estudo e estudo... Os Maçons têm o dever de estudar para estarem em condição de investigar a Verdade e aprofundar os Mistérios de nossa augusta Instituição... que luta sem parar contra a ignorância, sob qualquer forma que ela se apresente. (Luis Umbert Santos, citado por Nicola Aslan, pág. 744, 2012)
INTRODUÇÃO
Então: para aqueles apreciadores da cultura de um modo geral, buscadores do conhecimento e que são conscientes de que a aquisição deste adquirir cultura serve para expandir os horizontes do homem; para aqueles, que ao natural, cultivam o hábito da leitura, gostam de estudar, são inquietos e curiosos em relação ao mundo e ao universo; para aqueles que reúnem estas e outras condições, claro, e tiverem um dia a felicidade de serem Iniciados na Maçonaria, poderá comprovar que essa é uma fonte inesgotável que faz jorrar conhecimentos, que deverão ser sorvidos aos poucos e cumprindo-se várias etapas chamadas Graus. E talvez, somente para aqueles, “ser um eterno Aprendiz” não tem prazo de validade nenhum.
Albert Mackey (1807-1871), um dos maiores estudiosos da Maçonaria, em um trecho bastante difundido da sua obra, assim se pronunciou:
“Nenhum Maçom consegue chegar, em nossos dias, a uma situação mais ou menos notável dentro da Fraternidade se não for suficientemente instruído. Se os seus estudos ficarem limitados ao que ensinam as breves instruções da Loja, é-lhe impossível apreciar com exatidão as finalidades e a natureza da Maçonaria como ciência especulativa. As instruções não passam de esqueletos da ciência maçônica. Os músculos e os nervos e os vasos sanguíneos que devem animar o esqueleto sem vida e dar-lhe beleza, saúde e vigor, são contidos nos comentários destas instruções, que o estudo e a pesquisa dos escritores maçônicos dão ao estudante em Maçonaria.”
O que este trabalho que mal começou já torna evidente é que, se à época em que viveu Albert Mackey, a Maçonaria como ciência especulativa já exigia bastante estudo tal como ele e outros deixaram e vem deixando subentendido em seus textos, o nosso mundo moderno não ajuda em nada para sanar o problema. Tempos pretéritos X tempos modernos: o problema se intensificou? Nosso mundo moderno, em meio a um bombardeio de informações verdadeiras ou falsas, em meio a tantos afazeres, compromissos, obrigações e correrias que permeiam a rotina diária de cada um, vem contribuindo para a evasão de muitos Maçons das Lojas?
E como fazer para inculcar nos Irmãos recém iniciados a ideia e o compromisso de que eles devem obrigatoriamente complementarem as instruções ministradas em Loja com base em seus Rituais ou que estejam afetas ao conteúdo doutrinário da Maçonaria, que lhes são repassadas em Loja a cada sessão, com a realização de leituras, estudos e pesquisas?
Será que podemos acreditar sobre ser possível, uma vez por semana, numa sessão maçônica, num espaço de 15 minutos dedicado à Instrução (e que muitas vezes não perfazem esses 15 minutos) absorver uma parcela razoável de conhecimentos maçônicos a ponto de se transformar e poder transformar com o tempo aqueles que vivem em seu entorno ou a própria humanidade no sentido mais amplo? Quem não concorda com a ideia de que a qualidade das Instruções fica bastante comprometidas às vezes, em virtude de uma razão simples: o tempo exíguo que acaba sendo dedicado para a preparação de uma instrução causa um efeito dominó onde, instruções mal preparadas são mal ministradas e, portanto, mal absorvidas. Quantas são as instruções que não passam de leituras mecânicas e apressadas de texto que são retirados da internet?
Afora as instruções, temos a apresentação de peças de arquitetura e os trabalhos para aumento de salário. Se coincidirem na mesma noite, a Instrução (que é obrigatória nas sessões econômicas) e a apresentação de um trabalho, muitos Irmãos já ficam a consultar as horas. Aliás, nesta última categoria, ou seja, trabalhos em Loja, não é difícil de se constatar que muitos deles não passam de meras e pálidas cópias de trabalhos encontráveis no Ritual ou na internet. Quanto ao que poderia ser um hábito salutar: trabalhos sendo apresentados pelos Irmãos Mestres, com uma certa regularidade, afora os trabalhos para a passagem de Grau, isso em nome do enriquecimento intelectual de todos, além de, um caminho natural para a evolução de todos os Irmãos que compõem a Oficina, praticamente não ocorre, ou se ocorre, podemos dizer que são apresentações muito esporádicas. Até porque, não são ações que mereçam o devido respaldo e incentivo de todos aqueles de quem se espera esse tipo de iniciativas.
Se a Maçonaria pode ser considerada uma escola, os ensinamentos ministrados em nossos Templos (e muito pouco aprofundados), deverão receber sim uma complementação (o dever de casa), o estudo de cada um em particular, o que denota que Maçonaria depende de cada um demonstrar interesse e vontade própria em aprender cada vez mais. Aqui vale a antiga fórmula: querer é poder.
A pergunta que serve para a nossa reflexão é a seguinte: Será que é possível evoluir numa instituição de natureza iniciática sem que haja estudos que não sejam conduzidos com a profundidade que certos assuntos vão requerer?
O APRENDIZ
O 1º Grau da Maçonaria Simbólica tem a denominação de Aprendiz-Maçom. Do ponto de vista do simbolismo isso corresponde à infância maçônica, onde “Seus olhos fracos ainda, não podem contemplar diretamente o fulgor do Sol, e por isso é que, na Loja, está sentado ao Norte, no topo da Coluna B...”. (Girardi, pág. 36, 2008)
Como o Aprendiz ainda é dono de uma personalidade rude, o seu primeiro trabalho é o de desbastar a Pedra Bruta (simbolizada pelo seu ego), o que significa simbolicamente aplainar as arestas com o objetivo de transformá-la em pedra cúbica. Esse é um período que, se bem aproveitado, será de muito aprendizado e descobertas. Seguindo a lógica das escolas iniciáticas, na Maçonaria, o Aprendiz irá aprender para ser um Companheiro futuramente e este último irá aprender para ser um Mestre.
Além das instruções normais, os Aprendizes deverão receber as cinco instruções obrigatórias que estão contidas no Ritual.
Do livro de autoria do Irmão Carlos Brasílio Conte “A Doutrina Maçônica”, extraio o trecho abaixo:
“O Aprendiz-Maçom, para alcançar o Grau de Companheiro, deverá apresentar alguns trabalhos escritos, dissertando sobre temas maçônicos referentes ao seu grau e poderá, inclusive, ser convidado a ler estes trabalhos ‘em Loja’, ou seja, durante a sessão maçônica. Esse procedimento visa avaliar o seu aproveitamento e progresso no simbolismo liturgia e filosofia maçônica e é com base nele que a Loja decide se o Aprendiz está apto (ou não) a receber ‘aumento de salário’ (promoção de grau).”
COMENTÁRIOS:
Evidentemente há pequenas variações sobre o que o autor escreveu acima, não tanto no que concerne às Lojas, mas, no que se refere ao Rito praticado e à Potência a que pertence.
De qualquer forma, endossaria o plural utilizado no que se refere à apresentação e dissertação de trabalhos escritos relativos ao Grau: que sejam apresentados vários trabalhos, isso vai possibilitar uma avaliação melhor sobre o mesmo estar apto para o seu aumento de salário.
O COMPANHEIRO
O Companheiro deverá progredir quando demonstra interesse em interpretar os símbolos fundamentais concernentes ao seu Grau. Já ouvimos bastante aquela definição cômoda de ser dita sobre o Grau de Companheiro ser somente um Grau intermediário, o que revela o desconhecimento por parte de quem diz com respeito à riqueza de temas que pode englobar, a exemplo do estudo das Ciências Naturais, da Cosmologia, da Filosofia, enfim das investigações concernente à origem de todas as causas de todas as coisas.
O Companheiro-Maçom deverá receber três instruções com a participação do Ven.•. M.•., Orador e 1º e 2º Vigilantes, as quais estão contidas no Ritual, independente de alguma outra ministrada em Loja e que não faça parte do Ritual.
Nas palavras de Theobaldo Varoli Filho:
“Além de ser o mais histórico, o mais científico e o mais realista dos graus maçônicos, o ciclo do Companheiro-Maçom é verdadeiramente o único da mais antiga tradição.”
COMENTÁRIOS:
Para chegar ao Grau de Mestre-Maçom, o Companheiro deverá subir os degraus da Escada-Caracol, a que aparece em seu painel alegórico. Simbolicamente significa o quanto é tortuoso e difícil o caminho que o levará até seu Mestrado.
Será que existem sessões suficientes do Grau de Companheiro-Maçom e consequentemente uma quantidade mínima de instruções, para que o Grau deixe de ser visto como somente um Grau intermediário e não recebendo o trabalho intelectual que lhe e devido?
O MESTRE
Do “Vade-Mécum Maçônico” de autoria do Irmão João Ivo Girardi, do verbete “Mestre-Maçom” extraio o que segue abaixo:
“1. Todo Mestre consciente de sua responsabilidade sabe que sua função principal é desempenhar na Ordem todas as funções administrativas das Lojas, a dirigir os Aprendizes nas pesquisas intelectuais e auxiliar os colegas Mestres no traçado simbólico das pranchas simbólicas. 2. ‘Nós nos descobrimos Mestres quando nos descobrimos eternos Aprendizes’.”
O Mestre-Maçom possui em seu Ritual quatro instruções para sua leitura e meditação.
COMENTÁRIOS:
Na tentativa de corroborarmos tudo o que foi dito logo acima, é de se acrescentar ainda que, à expressão utilizada por alguns em referência àquele que acabou de ser exaltado, quando é dito que ele atingiu a sua plenitude maçônica, seria bom que se fizesse ela ser acompanhada da explicação de que o Mestre passa a ter, isso sim, o completo uso dos seus direitos maçônicos e de que, a eles correspondem deveres considerados impostergáveis. Isso para que a pessoa menos esclarecida não fique acreditando que a partir daí o Mestre saiba tudo sobre Maçonaria porque é Mestre, ou que ele já não tem mais nada a aprender dali para a frente. Aliás, será por isso que alguns aí estacionam? E quanto mais antigos, parece mais acomodados em sua mesmice. Então a pergunta que cabe agora é: Mestres de quê? Além de que: Mestres ensinam.
Vou acrescentar aqui, a título de ilustração, essa que é a opinião de um grande Maçom Edouard Quartier La Tente (pronúncia: eduarr cartiê la tânti) a respeito dos Graus Simbólicos:
“A maioria dos adeptos da Arte Real contenta-se em ‘receber’ os Graus Simbólicos; mas, eles não os ‘possuem’ jamais efetivamente. Eles têm nas mãos um tesouro, mas ignoram o seu valor e não tiram nenhum partido disso.” (Vade-Mécum Maçônico, 2018, pág. 246)
CONCLUSÃO:
Cabe aos dirigentes de uma Loja, cabe aos seus Mestres, numa perfeita combinação, a missão de proporcionar os ensinamentos maçônicos fundamentais, referentes ao Simbolismo, à Filosofia, ao cultivo das virtudes, dos valores morais e da Ética. A Maçonaria dá as ferramentas para que sejam usadas.
Existem temas que devem ser aprofundados já que servem para pautar nossos atos individuais e conscientizar-nos da nossa condição. O desbaste da pedra bruta, para citar um só, é um processo que envolve diretamente o Aprendiz, mas, indiretamente, vai envolver nós todos, independente do Grau em que se esteja colado, ou não nos autodenominamos “eternos aprendizes”?
Podemos afirmar que essa prática acompanhada da reflexão, devem ser incorporadas à nossa rotina diária, eis que, não é fácil desvencilharmo-nos dos nossos defeitos, num mundo onde as pessoas se preocupam em enxergar os defeitos dos outros. O Grau de perfeição que podemos atingir como seres humanos nunca nos será de todo conhecido e nunca saberemos sobre estarmos prontos o suficiente, daí, esta persistência do Maçom em melhorar, em se aprimorar, em evoluir sempre.
O R.•.E.•.A.•.A.•., sabemos, é de uma riqueza incomum quando comparado a outros ritos. Como entender, como decifrar, como absorver a sua filosofia, a sua história, a sua ritualística, as suas influências, o seu simbolismo, se não desejarmos ir além, se não estudarmos com o propósito de entendermos realmente o que viemos fazer na Maçonaria?
Como é bom trilhar esta estrada de eterno buscador, a estrada que nos conduzirá ao conhecimento, à Luz.
I
Irmão José Ronaldo Viega Alves
oja Saldanha Marinho, “A Fraterna”Oriente de S., do Livramento – RS.
FONTES DE CONSULTA:
ASLAN, Nicola. “Grande Dicionário Enciclopédico de Maçonaria e Simbologia” – Editora Maçônica “A Trolha” Ltda. - 3ª Edição - 2012
COMTE, Carlos Brasílio. “A Doutrina Maçônica” – Madras Editora Ltda. - 2005
GIRARDI, João Ivo. “Do Meio-Dia à Meia-Noite Vade-Mécum Maçônico” - Nova Letra Gráfica e Editora – 2ª Edição – 2008
VAROLI FILHO, Theobaldo. “Curso de Maçonaria Simbólica - Companheiro (II Tomo)” – Editora “A Gazeta Maçônica” – 1ª Edição - 1976