À conversa com mulheres, que na verdade são apenas adolescentes, alunas da escola Humberto Braima Sambú. Sempre que o assunto da igualdade de gênero vinha às tona nas minhas conversas aqui na Guiné-Bissau a presença de homens a opinar era predominante. As mulheres não se pronunciavam. E tocávamos no assunto de uma forma superficial, falávamos de violência doméstica mas nunca o assunto foi aprofundado. Nunca falamos do papel da mulher em casa, na educação, na vida social. Ao acaso, estava na visita de estudo em Cacheu e comecei a falar com umas alunas sobre o tempo livre delas. A verdade é que para elas este realmente não existe porque é ocupado com tarefas atribuídas ao sexo feminino. Os irmãos têm mais tempo para estudar e brincar que elas. A conversa desenrolou-se e passou à revolta, à constatação que ser mulher, então na Guiné é difícil. Aí soube que teria que clicar no gravador e fazer todas as perguntas que já tinha desistido de fazer por conseguir prever a resposta. Comecei a conversa com duas alunas, uma com 20 anos como eu e outra com 16, como a minha irmã e entretanto, contagiadas pelo assunto, juntaram-se mais vozes. Ambas já trabalharam muito mais do que eu alguma vez terei que trabalhar. Falaram um pouco de tudo e de forma pouco organizada (mas não queria intervir, regras de etiqueta dos podcasts, perdoem-me) e muito francamente, gostava de poder pedir desculpa pelos momentos do podcast em que só ouvem vozes exaltadas em cima umas das outras, mas a verdade é que como mulher, senti a frustração que elas precisavam de transmitir e não as podia calar. Mais do que isso, a revolta de ser consciente que isto é apenas um episódio de 28 minutos. Talvez tenha alguma audiência. Talvez apenas seja ouvido por 10 pessoas. Normalmente não importa. Pela primeira vez desde que comecei a gravar este Podcast, desejei que estas vozes pudessem ser ouvidas e absorvidas pelo mundo inteiro.