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Hoje quero falar-vos de uma coisa muito curiosa que me aconteceu nestas últimas semanas, coisa essa que poderia arquivar na pasta de “coincidências”, mas que acho interessante olhar, analisar, dissecar e só depois arrumar na pasta das “sincronicidades curiosas”.
Confissões de uma super-perfeccionista em recuperação é um podcast de Ana Isabel Ramos, designer, ilustradora, autora de livros e mentora de criatividade em www.airdesignstudio.com e no Instagram como @air_billy.
Se não queres perder nenhum episódio, poderás subscrever a newsletter para os receberes semanalmente na tua caixa de correio.
E se algo neste episódio vibrou dentro de ti, partilha-o com as pessoas da tua vida que poderão também encontrar um eco nestas confissões. Um passo de cada vez, recuperaremos do perfeccionismo e abraçaremos a fluidez para trazermos à superfície o melhor de nós.
Dou-te as boas-vindas a mais uma confissão de uma super-perfeccionista em recuperação, um podcast sobre perfeccionismo, criatividade e empoderamento.
Nestas confissões, vou partilhar contigo os altos e baixos do meu longo caminho de recuperação do super-perfeccionismo.
Se também tu tens vontade de deixar para trás a excessiva exigência contigo própria, soltar o perfeccionismo e abraçar a criatividade que tens dentro de ti, quer te consideres uma pessoa artística, quer não, então fica aqui nas “Confissões”.
Olá e sejam bem-vindas a um novo episódio de “Confissões de uma super-perfeccionista em recuperação”.
Hoje quero falar-vos de uma coisa muito curiosa que me aconteceu nestas últimas semanas, coisa essa que poderia arquivar na pasta de “coincidências”, mas que acho interessante olhar, analisar, dissecar e só depois arrumar na pasta das “sincronicidades curiosas”.
Ui, espera, mas o que é isso de sincronicidades? Ahhhhh, que belíssima pergunta! A primeira vez que ouvi falar em sincronicidades foi quando fiz “O Caminho do Artista” em 2016. Nesse livro, que é também uma espécie de curso e que é uma experiência incrível – experiência essa que repeti mais tarde, em 2023, e que ficou amplamente documentada na Anita no Trabalho, o podcast que a Eli e eu fazemos desde 2016 sobre empreendedorismo no feminino e em português – foi n’ “O Caminho do Artista” que ouvi este conceito pela primeira vez. Sincronicidade é aquele tipo de coincidência que começa a acontecer quando especificamos um objectivo ou um desejo que temos. Por exemplo, quando percebo um objectivo que desejo atingir, um “o quê”, mas que ainda não sei como atingir, ou seja, ainda não sei o seu “como”, as sincronicidades são essas coisas que começam a acontecer e que nos começam a abrir o caminho do “como” em direcção ao “o quê”. Sabem quando vemos aqueles filmes com efeitos especiais em que os protagonistas têm de dar um passo em frente, mas não têm chão à frente, e que quando confiam e dão o passo o chão começa a aparecer? As sincronicidades são isso. São as coisas que nos vão mostrando por onde é o caminho e nos vão dando os recursos que precisamos para dar o próximo passo.
No caso presente de hoje, a sincronicidade em questão não é tanto a pedra que aparece debaixo do meu pé para eu dar o passo, mas sim o sinal que me diz que o caminho é por aqui.
Vamos então a um pouco de contexto: este podcast, “Confissões de uma super-perfeccionista em recuperação”, surgiu ele próprio de uma ideia que começou por ser difusa e gradualmente foi tomando forma. Um pouco como essa imagem do filme e de dar o passo sem saber muito bem se o chão lá iria estar, a ideia começou a surgir e tomou a sua forma na Primavera de 2025, no seguimento do módulo de Comunicação do Level Up, o master de negócios para mulheres da formadora Nayla Norryh. Já falei aqui mais que uma vez desta formação e – tenho para mim – ainda vou falar muitas vezes, porque esta formação marca claramente um antes e um depois no meu negócio.
As Confissões surgiram então e percebi também de forma muito clara que era a aposta mais importante que eu tinha que fazer no final da Primavera e no início do Verão, antes de ir de férias. Para além de lançar o podcast, sabia que queria deixar preparados os episódios que iriam para o ar durante o mês de Agosto, o meu mês de pousio (e sobre descanso e pousio há tanto para dizer! Fiquem por perto, que em breve falamos sobre isso!). Nestas poucas semanas, teria de deixar gravados, editados e agendados cerca de 9 a 10 episódios.
E sabem o que é preciso fazer para deixar episódios gravados, editados e agendados? É preciso gravá-los. E sabem o que é preciso ter para poder gravar episódios? É preciso ter voz! Agora adivinhem o que me aconteceu: apanhei viroses, sinusites, narizes entupidos e gargantas irritadas até mais não. Foram umas quantas semanas a falar com o “dariz endupido”, a ter de beber golinhos de água extra para lubrificar a garganta que às três palavras ditas se irritava, um congestionamento tal que se calhar ainda é bem perceptível na minha voz.
Bem, eu sou uma pessoa que sofre bastante de alergias, mas normalmente o seu decurso habitual é outro. Poupo-vos à sequência das mucosidades e respectiva viscosidade, mas posso dizer-vos que este congestionamento foi diferente do habitual, mais longo, mais arrastado no tempo, com uma pressão constante nos seios perinasais e sem alívio à vista durante dias a fio. Não foi a evolução normal, mas não pensem que eu reparei logo: foi preciso uma amiga – e também companheira de formação – me mostrar o quão significativos eram estes sintomas para alguém que queria deixar gravados os episódios todos até ir de férias.
Curioso, não é?
Por um lado, curiosa a forma como a mensagem me teve de chegar: através de sintomas chatos (mas não especialmente agudos, convenhamos), que testam o meu perfeccionismo. Porque comecei a pensar para mim, “ai, não me apetece nada estar a gravar episódios com o nariz tapado, que chatice”. Para mim, era uma questão de me apresentar na melhor versão possível, e a versão que tem o dariz tapado dão é, definitivabente, a belhor.
Por outro lado, é curioso o sintoma em si: basicamente, tudo o que tem a ver com comunicar através da voz ficou afectado. Entre começar a falar e desatar a tossir por causa daquela impressão de pelinho na garganta, ou de repente cair um pingo do nariz, ou então aquela sensação desconcertante de respirar lindamente por uma narina, e ter um tampão a tapar completamente a outra, estes sintomas vieram mostrar-me que aquilo que me proponho fazer, que é gravar os episódios de podcast em que falo sobre perfeccionismo e como soltá-lo, de como esse trabalho é empoderador e nos dá voz, em geral, às mulheres, é um trabalho arriscado, ou pelo menos alguma parte de mim o sente assim.
A verdade é que estamos num contexto histórico em que parece que há uma série de retrocessos sociais; em que coisas que achávamos que eram direitos garantidos voltam a ser postos em causa; em que na casa da democracia se atropelam os direitos humanos e cívicos; um tempo em que, de alguma forma, se parece ter perdido a vergonha de voltar a dizer o impensável, sexista, xenófobo, racista, homofóbico; são tempos em que falar, alçar a voz e partilhar convosco o meu trabalho, não é só vencer as minhas resistências interiores e as crenças limitantes que eu possa ter. São tempos em que pode, de facto, ser perigoso falar sobre perfeccionismo e de como isso serve o patriarcado; sobre o silenciamento sistemático das mulheres e de como o perfeccionismo é também muito inculcado nas mulheres a nível colectivo.
E juro-vos que enquanto vos digo estas palavras me acomete um daqueles ataques de tosse que me deixa de lágrimas nos olhos e a garganta a parecer lixa. Não é à toa. Pelo contrário, é sinal de que o caminho é por aqui, por muito assustador que possa ser. (E é.)
É possível que se estejam a perguntar qual será a relação entre perfeccionismo e empoderamento? Ou perfeccionismo e silenciamento?
Talvez a relação não seja evidente, mas ela existe e é muito forte. É assim tipo cabo submarino que liga a internet do continente americano ao europeu – e que por acaso até vem dar a umas praias portuguesas. O cabo está lá, é forte, robusto e grosso, não se vê, mas é a infra-estrutura física de uma coisa que damos por adquirida, a internet.
E assim é também esta relação entre perfeccionismo e empoderamento – uma relação positiva em que ao soltarmos o perfeccionismo nos vamos empoderando – ou entre perfeccionismo e silenciamento – de que forma a exigência de perfeição nos foi silenciando ao longo da história (da nossa, pessoal, e da nossa, comum).
Comecemos pela relação negativa, para depois irmos para a positiva, que é bem mais alegre, optimista e promissora.
A relação negativa é entre perfeccionismo e silenciamento. Ora vejam: a quem tem sido exigido um comportamento irrepreensível a todos os níveis? Às mulheres. Como são descritas as mulheres que têm comportamentos “rebeldes”? Como histéricas, bruxas ou prostitutas. E os homens? Os homens têm muito mais margem de manobra para se excederem e há inclusivamente o ditado de “boys will be boys”, como justificação para qualquer comportamento que jamais seria tolerado a uma mulher. Este viés no que é aceitável para mulheres e homens é tão pronunciado, mas facilmente imperceptível, que quando uma mulher é vítima de violação, é ela o sujeito da notícia. Não é o ou os agressores, mas sim a vítima. “Uma mulher foi violada”, aparece nas notícias, e não “um homem violou uma mulher”. Este foco na mulher esquece o agressor e põe discretamente o ónus na mulher. “Algo deverá ela ter feito”, ou “pôs-se a jeito”, pensamos muitas vezes. Já o agressor? “Boys will be boys”, para justificar esse ímpeto masculino de ignorar os desejos da mulher e tomar à força o que ela não lhe quis dar.
O comportamento irrepreensível tornou-se a norma cultural para as mulheres – e daí ao perfeccionismo é só um passo. De termos um ditador externo a exigir esse comportamento irrepreensível e a punir o passo em falso, interiorizamos uma voz que nos exige um comportamento sem falhas para garantir a nossa sobrevivência.
A ligação, lá está, é bem forte, ainda que submarina, tal como o cabo da internet.
Mas também há a ligação positiva entre soltar o perfeccionismo e o empoderamento, o encontrar ou reencontrar a nossa voz, o de modelar para as gerações futuras (de meninas e também de meninos) como é viver numa sociedade em que homens e mulheres têm direitos e responsabilidades semelhantes e são vistos como pares. Porque quando começamos a soltar o perfeccionismo, começamos a animar-nos a viver mais de acordo connosco próprias, com quem somos, o que queremos e o que viemos contribuir ao mundo. Soltando o perfeccionismo, um trabalho gradual que podemos fazer de muitas maneiras, como por exemplo através do diário gráfico, nas sessões de desenho juntas, ou então com o apoio de programas como o Conectar para Liderar, aí vamos potenciando o nosso trabalho interno. Vamos retirando mais uma camada, mais um véu, e vamos vendo, cada vez com mais nitidez, qual o nosso propósito e qual a nossa contribuição para o mundo.
E é para esta associação positiva que eu vos quero convidar, mulheres, homens, pessoas não binárias. Queremos ir soltando o perfeccionismo para podermos viver mais seguras connosco próprias, mais em contacto com o nosso âmago, mais próximas do nosso propósito.
As resistências vão aparecer, claro. Mas os sinais de que este é o caminho brilharão mais forte, e ganharão as cores necessárias para que nós os consigamos ver. A mim deu-me a tosse e o nariz entupido… mas isto há-de passar.
Confissões de uma super-perfeccionista em recuperação é um podcast de Ana Isabel Ramos, designer, ilustradora, autora de livros e mentora de criatividade em airdesignstudio.com e no Instagram como @air_billy.
Se não queres perder nenhum episódio, poderás subscrevê-los na tua plataforma preferida de podcasts, ou então assinarr a newsletter em airdesignstudio.com para os receberes semanalmente na tua caixa de correio.
E se algo neste episódio vibrou dentro de ti, partilha-o com as pessoas da tua vida que poderão também encontrar um eco nestas confissões. Um passo de cada vez, recuperaremos do perfeccionismo e abraçaremos a fluidez para trazermos à superfície o melhor de nós.
Hoje quero falar-vos de uma coisa muito curiosa que me aconteceu nestas últimas semanas, coisa essa que poderia arquivar na pasta de “coincidências”, mas que acho interessante olhar, analisar, dissecar e só depois arrumar na pasta das “sincronicidades curiosas”.
Confissões de uma super-perfeccionista em recuperação é um podcast de Ana Isabel Ramos, designer, ilustradora, autora de livros e mentora de criatividade em www.airdesignstudio.com e no Instagram como @air_billy.
Se não queres perder nenhum episódio, poderás subscrever a newsletter para os receberes semanalmente na tua caixa de correio.
E se algo neste episódio vibrou dentro de ti, partilha-o com as pessoas da tua vida que poderão também encontrar um eco nestas confissões. Um passo de cada vez, recuperaremos do perfeccionismo e abraçaremos a fluidez para trazermos à superfície o melhor de nós.
Dou-te as boas-vindas a mais uma confissão de uma super-perfeccionista em recuperação, um podcast sobre perfeccionismo, criatividade e empoderamento.
Nestas confissões, vou partilhar contigo os altos e baixos do meu longo caminho de recuperação do super-perfeccionismo.
Se também tu tens vontade de deixar para trás a excessiva exigência contigo própria, soltar o perfeccionismo e abraçar a criatividade que tens dentro de ti, quer te consideres uma pessoa artística, quer não, então fica aqui nas “Confissões”.
Olá e sejam bem-vindas a um novo episódio de “Confissões de uma super-perfeccionista em recuperação”.
Hoje quero falar-vos de uma coisa muito curiosa que me aconteceu nestas últimas semanas, coisa essa que poderia arquivar na pasta de “coincidências”, mas que acho interessante olhar, analisar, dissecar e só depois arrumar na pasta das “sincronicidades curiosas”.
Ui, espera, mas o que é isso de sincronicidades? Ahhhhh, que belíssima pergunta! A primeira vez que ouvi falar em sincronicidades foi quando fiz “O Caminho do Artista” em 2016. Nesse livro, que é também uma espécie de curso e que é uma experiência incrível – experiência essa que repeti mais tarde, em 2023, e que ficou amplamente documentada na Anita no Trabalho, o podcast que a Eli e eu fazemos desde 2016 sobre empreendedorismo no feminino e em português – foi n’ “O Caminho do Artista” que ouvi este conceito pela primeira vez. Sincronicidade é aquele tipo de coincidência que começa a acontecer quando especificamos um objectivo ou um desejo que temos. Por exemplo, quando percebo um objectivo que desejo atingir, um “o quê”, mas que ainda não sei como atingir, ou seja, ainda não sei o seu “como”, as sincronicidades são essas coisas que começam a acontecer e que nos começam a abrir o caminho do “como” em direcção ao “o quê”. Sabem quando vemos aqueles filmes com efeitos especiais em que os protagonistas têm de dar um passo em frente, mas não têm chão à frente, e que quando confiam e dão o passo o chão começa a aparecer? As sincronicidades são isso. São as coisas que nos vão mostrando por onde é o caminho e nos vão dando os recursos que precisamos para dar o próximo passo.
No caso presente de hoje, a sincronicidade em questão não é tanto a pedra que aparece debaixo do meu pé para eu dar o passo, mas sim o sinal que me diz que o caminho é por aqui.
Vamos então a um pouco de contexto: este podcast, “Confissões de uma super-perfeccionista em recuperação”, surgiu ele próprio de uma ideia que começou por ser difusa e gradualmente foi tomando forma. Um pouco como essa imagem do filme e de dar o passo sem saber muito bem se o chão lá iria estar, a ideia começou a surgir e tomou a sua forma na Primavera de 2025, no seguimento do módulo de Comunicação do Level Up, o master de negócios para mulheres da formadora Nayla Norryh. Já falei aqui mais que uma vez desta formação e – tenho para mim – ainda vou falar muitas vezes, porque esta formação marca claramente um antes e um depois no meu negócio.
As Confissões surgiram então e percebi também de forma muito clara que era a aposta mais importante que eu tinha que fazer no final da Primavera e no início do Verão, antes de ir de férias. Para além de lançar o podcast, sabia que queria deixar preparados os episódios que iriam para o ar durante o mês de Agosto, o meu mês de pousio (e sobre descanso e pousio há tanto para dizer! Fiquem por perto, que em breve falamos sobre isso!). Nestas poucas semanas, teria de deixar gravados, editados e agendados cerca de 9 a 10 episódios.
E sabem o que é preciso fazer para deixar episódios gravados, editados e agendados? É preciso gravá-los. E sabem o que é preciso ter para poder gravar episódios? É preciso ter voz! Agora adivinhem o que me aconteceu: apanhei viroses, sinusites, narizes entupidos e gargantas irritadas até mais não. Foram umas quantas semanas a falar com o “dariz endupido”, a ter de beber golinhos de água extra para lubrificar a garganta que às três palavras ditas se irritava, um congestionamento tal que se calhar ainda é bem perceptível na minha voz.
Bem, eu sou uma pessoa que sofre bastante de alergias, mas normalmente o seu decurso habitual é outro. Poupo-vos à sequência das mucosidades e respectiva viscosidade, mas posso dizer-vos que este congestionamento foi diferente do habitual, mais longo, mais arrastado no tempo, com uma pressão constante nos seios perinasais e sem alívio à vista durante dias a fio. Não foi a evolução normal, mas não pensem que eu reparei logo: foi preciso uma amiga – e também companheira de formação – me mostrar o quão significativos eram estes sintomas para alguém que queria deixar gravados os episódios todos até ir de férias.
Curioso, não é?
Por um lado, curiosa a forma como a mensagem me teve de chegar: através de sintomas chatos (mas não especialmente agudos, convenhamos), que testam o meu perfeccionismo. Porque comecei a pensar para mim, “ai, não me apetece nada estar a gravar episódios com o nariz tapado, que chatice”. Para mim, era uma questão de me apresentar na melhor versão possível, e a versão que tem o dariz tapado dão é, definitivabente, a belhor.
Por outro lado, é curioso o sintoma em si: basicamente, tudo o que tem a ver com comunicar através da voz ficou afectado. Entre começar a falar e desatar a tossir por causa daquela impressão de pelinho na garganta, ou de repente cair um pingo do nariz, ou então aquela sensação desconcertante de respirar lindamente por uma narina, e ter um tampão a tapar completamente a outra, estes sintomas vieram mostrar-me que aquilo que me proponho fazer, que é gravar os episódios de podcast em que falo sobre perfeccionismo e como soltá-lo, de como esse trabalho é empoderador e nos dá voz, em geral, às mulheres, é um trabalho arriscado, ou pelo menos alguma parte de mim o sente assim.
A verdade é que estamos num contexto histórico em que parece que há uma série de retrocessos sociais; em que coisas que achávamos que eram direitos garantidos voltam a ser postos em causa; em que na casa da democracia se atropelam os direitos humanos e cívicos; um tempo em que, de alguma forma, se parece ter perdido a vergonha de voltar a dizer o impensável, sexista, xenófobo, racista, homofóbico; são tempos em que falar, alçar a voz e partilhar convosco o meu trabalho, não é só vencer as minhas resistências interiores e as crenças limitantes que eu possa ter. São tempos em que pode, de facto, ser perigoso falar sobre perfeccionismo e de como isso serve o patriarcado; sobre o silenciamento sistemático das mulheres e de como o perfeccionismo é também muito inculcado nas mulheres a nível colectivo.
E juro-vos que enquanto vos digo estas palavras me acomete um daqueles ataques de tosse que me deixa de lágrimas nos olhos e a garganta a parecer lixa. Não é à toa. Pelo contrário, é sinal de que o caminho é por aqui, por muito assustador que possa ser. (E é.)
É possível que se estejam a perguntar qual será a relação entre perfeccionismo e empoderamento? Ou perfeccionismo e silenciamento?
Talvez a relação não seja evidente, mas ela existe e é muito forte. É assim tipo cabo submarino que liga a internet do continente americano ao europeu – e que por acaso até vem dar a umas praias portuguesas. O cabo está lá, é forte, robusto e grosso, não se vê, mas é a infra-estrutura física de uma coisa que damos por adquirida, a internet.
E assim é também esta relação entre perfeccionismo e empoderamento – uma relação positiva em que ao soltarmos o perfeccionismo nos vamos empoderando – ou entre perfeccionismo e silenciamento – de que forma a exigência de perfeição nos foi silenciando ao longo da história (da nossa, pessoal, e da nossa, comum).
Comecemos pela relação negativa, para depois irmos para a positiva, que é bem mais alegre, optimista e promissora.
A relação negativa é entre perfeccionismo e silenciamento. Ora vejam: a quem tem sido exigido um comportamento irrepreensível a todos os níveis? Às mulheres. Como são descritas as mulheres que têm comportamentos “rebeldes”? Como histéricas, bruxas ou prostitutas. E os homens? Os homens têm muito mais margem de manobra para se excederem e há inclusivamente o ditado de “boys will be boys”, como justificação para qualquer comportamento que jamais seria tolerado a uma mulher. Este viés no que é aceitável para mulheres e homens é tão pronunciado, mas facilmente imperceptível, que quando uma mulher é vítima de violação, é ela o sujeito da notícia. Não é o ou os agressores, mas sim a vítima. “Uma mulher foi violada”, aparece nas notícias, e não “um homem violou uma mulher”. Este foco na mulher esquece o agressor e põe discretamente o ónus na mulher. “Algo deverá ela ter feito”, ou “pôs-se a jeito”, pensamos muitas vezes. Já o agressor? “Boys will be boys”, para justificar esse ímpeto masculino de ignorar os desejos da mulher e tomar à força o que ela não lhe quis dar.
O comportamento irrepreensível tornou-se a norma cultural para as mulheres – e daí ao perfeccionismo é só um passo. De termos um ditador externo a exigir esse comportamento irrepreensível e a punir o passo em falso, interiorizamos uma voz que nos exige um comportamento sem falhas para garantir a nossa sobrevivência.
A ligação, lá está, é bem forte, ainda que submarina, tal como o cabo da internet.
Mas também há a ligação positiva entre soltar o perfeccionismo e o empoderamento, o encontrar ou reencontrar a nossa voz, o de modelar para as gerações futuras (de meninas e também de meninos) como é viver numa sociedade em que homens e mulheres têm direitos e responsabilidades semelhantes e são vistos como pares. Porque quando começamos a soltar o perfeccionismo, começamos a animar-nos a viver mais de acordo connosco próprias, com quem somos, o que queremos e o que viemos contribuir ao mundo. Soltando o perfeccionismo, um trabalho gradual que podemos fazer de muitas maneiras, como por exemplo através do diário gráfico, nas sessões de desenho juntas, ou então com o apoio de programas como o Conectar para Liderar, aí vamos potenciando o nosso trabalho interno. Vamos retirando mais uma camada, mais um véu, e vamos vendo, cada vez com mais nitidez, qual o nosso propósito e qual a nossa contribuição para o mundo.
E é para esta associação positiva que eu vos quero convidar, mulheres, homens, pessoas não binárias. Queremos ir soltando o perfeccionismo para podermos viver mais seguras connosco próprias, mais em contacto com o nosso âmago, mais próximas do nosso propósito.
As resistências vão aparecer, claro. Mas os sinais de que este é o caminho brilharão mais forte, e ganharão as cores necessárias para que nós os consigamos ver. A mim deu-me a tosse e o nariz entupido… mas isto há-de passar.
Confissões de uma super-perfeccionista em recuperação é um podcast de Ana Isabel Ramos, designer, ilustradora, autora de livros e mentora de criatividade em airdesignstudio.com e no Instagram como @air_billy.
Se não queres perder nenhum episódio, poderás subscrevê-los na tua plataforma preferida de podcasts, ou então assinarr a newsletter em airdesignstudio.com para os receberes semanalmente na tua caixa de correio.
E se algo neste episódio vibrou dentro de ti, partilha-o com as pessoas da tua vida que poderão também encontrar um eco nestas confissões. Um passo de cada vez, recuperaremos do perfeccionismo e abraçaremos a fluidez para trazermos à superfície o melhor de nós.