Olá!Dou-vos as boas-vindas a este episódio do podcast "Confissões de uma super-perfeccionista em recuperação".
Hoje partilho convosco um episódio muito especial para mim, com um formato diferente daquele que tem sido habitual aqui no podcast. Desta feita, não se trata de um episódio a uma só voz, mas sim uma conversa com a minha filha mais velha, a Alice. Neste episódio, vão ter toda uma perspectiva de bastidores, a partir do ponto de vista de uma pessoa de onze anos.
E abaixo encontrarão uma fotografia do meu estojo de aguarelas.
Neste episódio mencionamos:
Guia gratuito para começar (e continuar) a desenhar todos os dias.
Desenhamos Juntas, a sessão semanal em que desenhamos em diário gráfico, umas com as outras.
Conectar para Liderar, o meu programa de grupo para mulheres que desejam voltar a reconectar-se com a sua criatividade, quer tenham inclinação artística, quer não.
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“Caneta-pincel”, também conhecido por “pincel com reservatório”
O desenho que menciono, um dos primeiros que fiz, ainda em 2021.
Confissões de uma super-perfeccionista em recuperação é um podcast de Ana Isabel Ramos, designer, ilustradora, autora de livros e mentora de criatividade em www.airdesignstudio.com e no Instagram como @air_billy.
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E se algo neste episódio vibrou dentro de ti, partilha-o com as pessoas da tua vida que poderão também encontrar um eco nestas confissões. Um passo de cada vez, recuperaremos do perfeccionismo e abraçaremos a fluidez para trazermos à superfície o melhor de nós.
Créditos: “Cover Girl” de Beat Mekanik
Podcast
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Dou-te as boas-vindas a mais uma confissão de uma super-perfeccionista em recuperação, um podcast sobre perfeccionismo, criatividade e empoderamento.
Nestas confissões, vou partilhar contigo os altos e baixos do meu longo caminho de recuperação do super-perfeccionismo.
Se também tu tens vontade de deixar para trás a excessiva exigência contigo própria, soltar o perfeccionismo e abraçar a criatividade que tens dentro de ti, quer te consideres uma pessoa artística, quer não, então fica aqui nas “Confissões”.
Olá e sejam bem-vindas a este episódio de “Confissões de uma super-perfeccionista em recuperação”.
Hoje partilho convosco um episódio muito especial para mim, com um formato diferente daquele que tem sido habitual aqui no podcast. Desta feita, não se trata de um episódio a uma só voz, mas sim uma conversa com a minha filha mais velha, a Alice, com onze anos à data da gravação.
Antes de avançarmos, quero partilhar convosco como surgiu esta ideia. Recuemos no tempo até às férias de Verão deste ano, acabados de jantar no alojamento onde iríamos ficar aqueles dias. Umas horas antes, numa das nossas paragens, tinha comprado quatro pastilhas de aguarela diferentes: cada membro da família escolheu uma cor. Essas aguarelas tinham – têm – um ligeiro tom metalizado, e de cada vez que as uso me lembro desse momento.
Já no alojamento, e depois do jantar, peguei no meu diário gráfico e ia começar a fazer o meu desenho quando a Alice me perguntou se me podia fazer “uma entrevista como se fosse um podcast”. E aí começou a fazer-me perguntas muito giras sobre o meu hábito de desenho diário, sobre os materiais que uso, as histórias que associo a cada uma das páginas. A conversa foi tão, mas tão gira, que pensei que poderia ser interessante partilhá-la convosco, aqui nas “Confissões”.
Claro, no momento não gravei a nossa conversa, mas combinámos que quando regressássemos a casa que o faríamos, e isso finalmente aconteceu esta semana. A conversa que se segue é um pouco mais longa do que é habitual aqui no podcast, mas penso que oferece uma visão de bastidores que vale a pena ser partilhada.
Confesso-vos aqui que este pode ser um dos meus episódios favoritos de podcast, pelo menos até ao momento. E até já combinei com a Alice que ela regressaria ao podcast num futuro próximo.
Assim sendo, e sem mais delongas, aqui fica a conversa que tivemos, a Alice e eu.
Olá, eu sou a Alice. E eu queria fazer umas perguntas à minha mãe. E eu queria contar um bocadinho da história, porque é que estamos a fazer este podcast, este episódio do podcast. Porque acho importante. Quando nós estávamos nas férias, a minha mãe comprou umas aguarelas novas para as suas tintas. Sim, para poder pintar. Porque a minha mãe pinta muito regularmente. E quando nós chegámos ao hotel, estávamos a jantar, e eu comecei a fazer umas perguntas, a dizer assim, vamos fingir que estamos num podcast. E eu comecei a fazer perguntas. E estava toda a família a ouvir, nós 4. Eu perguntei várias coisas sobre as aguarelas, sobre as experiências com as aguarelas. E depois, no final, o meu pai disse assim, Olhe isso! Eu acho que vocês deviam fazer um podcast baseado nisto. Eu e a minha mãe achámos uma bela ideia, só que não fizemos logo nas férias porque não tínhamos os microfones. Então cá estamos nós, aqui em Lisboa, a gravar o podcast que já aconteceu mas não foi gravado. Queres dizer alguma coisa mãe?
Não, acho que fizeste uma excelente introdução. Foi uma conversa muito, muito, muito gira a que tivemos nesse dia e não tenho a menor dúvida de que hoje também vai ser uma conversa muito gira e fico contente por tu estares aqui comigo a ter esta conversa. Obrigada.
De nada. Então, vamos começar.
Mãe, o que é que te fez gostar tanto de pintar com aguarelas? Porque eu lembro-me que antes costumavas pintar com lápis, mas agora quase só pintas com as aguarelas.
Olha, o que eu gosto muito, muito, muito de pintar em aguarela é que a aguarela Normalmente pintamos com um pincel ou, no caso, quando estamos em viagem também uso uma caneta-pincel, que é assim um pincel que depois tem um reservatório de água. É um bocadinho diferente do pincel, mas a mesma tem a particularidade, em comparação com os lápis de cor, que é de permitir menos controle sobre o resultado. Ou seja, as linhas não são tão finas, se tu carregas mais as linhas ficam mais grossas, se tu carregas menos as linhas ficam mais finas. Então, gosto muito de brincar com essa falta de controle sobre o resultado. E depois, há uma coisa que eu adoro nas aguarelas, que é permitir em muitos acidentes, ou seja, se tem mais água fica de uma maneira, se tem menos água fica de outra maneira, se toca noutra cor mistura-se de uma determinada maneira e então dá origem a muita coisa que não controlamos ou que controlamos só um bocadinho mas não tudo e dá origem a muitas surpresas e eu gosto muito dessas surpresas.
Eu acho muito interessante que tu queiras Fazer erros. Fazer erros é uma coisa normal, toda a gente sabe isso, mas as pessoas querem ter sempre tudo perfeito, para mostrar uma boa imagem. E eu acho muito curioso da tua parte, tu quereres pintar com aguarelas, porque para poderes fazer os erros e aprenderes com os erros, e para poderes experimentar diferentes corações e diferentes cores, Uma coisa que também podes fazer é misturar as cores, que fica bastante giro. E é muito bonito de fazeres isso, porque é uma coisa que poucas pessoas gostariam de fazer. Agora, quando é que te deu a vontade de começar a desenhar com as aguarelas?
Em primeiro lugar, muito obrigada pelas tuas palavras, são muito fofas. Eu quando comecei a desenhar todos os dias, foi no início de janeiro de 2021, eu comecei a pintar ou a desenhar, acho que com caneta ou com lápis, não sei, era o que tinha à mão. e às tantas comecei a sentir vontade de ir experimentando outros materiais. Então, a dada altura, encontrei uma caixa de uns lápis de cera solúveis em água, que eram da tia e que têm seguramente mais de 30 anos. E então comecei a adorar. Eles eram solúveis em água, portanto, eu pintava, dava assim uns riscos com os lápis e depois ia lá dissolver algumas partes.
Depois comecei… isto é giro. depois comecei a experimentar a grafite aguarelável, não sei se lembras dessa parte, e depois comecei a usar ecolines também, mas as canetas, as brush pens da ecoline, até que houve um dia que eu acho que foi quase inevitável que passei assim para as aguarelas. E o que eu gosto mesmo muito nas aguarelas é que
permitem muitas surpresas. Permitem muitas surpresas, porque, no fundo, se nós soltarmos aquela vontade de querer controlar tudo, abrimos espaço para que as surpresas aconteçam. Já te contei isto, mas eu sempre fui uma pessoa bastante perfeccionista.
Não é assim que o teu podcast chama?
Pode ter alguma coisa a ver com isso.
Pode, não pode. Pois, também acho.
E, no fundo, a aguarela é um ótimo meio para exercitar esse soltar do perfeccionismo, porque lá está, é difícil ter um resultado, é difícil ter um controle absoluto sobre o resultado. E também acho que isso é uma ilusão, quando nós achamos que temos um controle absoluto sobre qual é que seja o resultado. Mas na Aguarela é um exercício muito evidente de soltar esse controle. Eu gosto particularmente. E depois porque é espetacular. Adoro sentir o pincel a tocar na água e na aguarela e depois a deslizar pelo papel. Acho que é um… Todas as sensações táticas, auditivas, visuais, são agradáveis e até olfativas, porque a aguarela não tem particular cheiro. E então, é por isso tudo. Junta-se todo esse… todo esse prazer?
Eu só quero dizer uma coisa, agora já percebo porque as pessoas muitas vezes me chamam de muito perfeccionista, porque eu também sou tipo a minha mãe, que gosta de sentir sempre as coisas perfeitas. Tipo, que não pode ter um restinho fora que senão é logo o fim do mundo. Não sou assim tão dramática, mas é estilo isso. Agora eu queria me basear um bocadinho mais nas tuas aguarelas.
Porquê é que tu escolheste esta marca que dá para trocar os pastéis e pôres assim? Eles vieram já com pastéis ou viemos a pastéis e tu compraste-os? Como é que foi tudo?
Olha, eu gosto sempre de comprar avulso, eu não gosto de comprar um conjunto. Porque os conjuntos vêm sempre com as mesmas cores. Vêm sempre com o vermelho, o laranja, o amarelo, o verde, o azul. Pronto, têm ali as cores primárias e algumas secundárias, mas normalmente vêm sempre as mesmas.
Sim, aquelas do arco-íris e assim.
Sim, então o que eu gosto de fazer, e faço sempre isso e recomendo sempre a toda a gente, comprar a bolso, ou seja, cada pastilha de aguarela separada ou cada lápis de cor separado, e comprar sempre da melhor qualidade possível. Portanto, imagina, se eu fosse comprar um set, se eu fosse comprar um set, uma caixinha com as aguarelas da melhor qualidade possível, ela ia-me ficar muito cara.
Então, o que é que eu faço? Eu comprei um estoginho vazio, que é próprio para aguarelas, E depois, aos poucos, fui comprando pastilhas de aguarelas. No início, comprei, imagina, duas ou três e fazia todos os desenhos só com essas duas ou três cores. E depois, aos poucos, fui aumentando a coleção. Nomeadamente, nas férias, fomos comprar aquelas quatro pastilhas de aguarela. Cada um escolheu uma cor. Foi muito giro.
E agora, cada vez que eu pinto com essas aguarelas, lembro-me, quer dizer, eu lembro-me sempre de vocês, Mas, na verdade, cada uma daquelas cores lembra-me. Lembra-me de vocês, lembra-me de onde estávamos, lembra-me do que estávamos a viver naquela altura. Então, por isso é que eu gosto de comprar em separado. Por exemplo, há algumas que foi a Titi que te ofereceu. Por exemplo, a Titi ofereceu-me cores que eu se calhar nunca compraria. Então é giro também usar essas cores e também me lembro da Tati quando usa essas cores. E pronto, eu gosto de fazer assim. Nos lápis de cor, faço a mesma coisa. Eu acho sempre, mesmo que estejamos a começar, eu acho sempre que vale a pena comprar a melhor qualidade possível. E eu sei que a melhor qualidade possível é cara. Então vamos comprar. Em vez de comprar uma caixa de seis ou de doze lápis, compramos três, mas da melhor qualidade, e podes comprar as cores que quiseres, não precisa de ser aquelas standard. É isso.
E cá entre nós, lembras-te de todos os significados de cada uma aguarela que aqui tens?
Olha, todos, todos, todos, todos, todos não, mas Entretanto, já há, por exemplo, experiências que eu associo a cada uma das cores. Então, por exemplo, em relação àquelas quatro que comprámos nas férias, já sabes, não é?
Depois imagina, há aqui uma aguarela que parece castanha quando está seca, o pigmento parece castanho. E depois, surpresa das surpresas, quando pintamos é assim uma marlão dourado. Então, por exemplo, essa pastilha eu chamo a aguarela surpresa.
Sim, é a surpresa. Depois, por exemplo, temos aqui um prateado.
Que é muito giro, que é um favorito cá em casa e que já está mesmo quase a acabar. Então, antes de acabar, aliás, muito tempo antes de acabar, eu fui logo comprar outro e já está aí ao lado. Mas ninguém pode tocar nele. Enquanto não acabámos o anterior. Mas já está aí, é para não nos faltar.
Tu dizes que é o favorito de tocar nesta casa, mas eu por acaso não acho. Por acaso o meu favorito é assim, parece também assim acastanhado, mas depois quando pintas, é assim um rosa roxo bordou, aquele do espaço assim que tu vês nas fotos todas. A cor Black Snake, sim, é um dos meus favoritos. Eu não sou muito fã de cores mais rosas e roxo, mas eu gosto muito dessa cor.
Essa foi uma das cores que compramos em viagem. Foi a que eu escolhi.
Agora eu queria me concentrar um bocadinho mais não tanto na caixa, mas sim mais nas cores, nas aguarelas. Eu queria perguntar-te qual é que é a tua cor favorita destas?
Difícil, difícil, difícil. Olha,
antes de termos comprado aquelas quatro cores nas férias, eu tinha comprado um roxo, que é… Ai, até me faltam as palavras. É um roxo que tem uma profundidade tal que se tu pintares com mais pigmento fica assim com a cor opaca e muito profunda e se tiver um bocadinho mais de água vai fazer uma transição assim para o transparente que é absolutamente maravilhosa. Adoro, adoro, adoro. Depois eu gosto muito dos metalizados e as quatro cores que nós comprámos nas férias todas têm um toquezinho metalizado e por isso eu adoro. E depois acho muita graça aquelas cores que parece que vão ser uma coisa e depois são outra.
As surpresas, acho muita graça a isso. E sim, acho que é isso, gosto dos metalizados.
E eu aqui estou a olhar para as tuas aguarelas e tu tipo… tu não tens assim o arco-íris, tu tens assim umas cores e depois tens outras. Vou-te ver aqui, castanhos assim vermelhados. Pois bem, uns azuis assim com verdes e depois tens amarelos, mas tipo… Eu sei que isto agora não parece assim muito bem formulado, que é também um bocado difícil de explicar, mas eu sinto que tu vai sempre tipo mais para fora da caixa. Quando tu escolhes. Porque tu, quando tu desenhas, tu não vais olhar qual é que é a cor das coisas. E tu quando compraste estas aguarelas, eu não sei, na minha cabeça é tipo que tu só compraste-as por achares que ficavam bem, não as compraste porque querias cumprir alguma coisa?
Sim, eu quando desenho eu não tento necessariamente reproduzir a cor do objeto que estou a desenhar ou da pessoa, não necessariamente e a minha maneira de desenhar é muito mais pela linha do que pela mancha, é muito mais pelo desenho do que quase pela pintura e então Agora, por exemplo, estou a olhar ali para o caderno e a ver uns desenhos que eu fiz de vocês, de ti e da Mana, ontem. E, por exemplo, a ti eu desenhei-te com o tal roxo. O tal roxo que estava a dizer. E à Mana desenhei com cor-de-rosa. E depois, vocês estão as duas no mesmo aberto de página, a ti depois usei um bocadinho do cor-de-rosa que tinha usado na Mana para fazer uns detalhes na tua roupa. E usei o roxo que tinha usado contigo para fazer uns detalhes na roupa da mana. Agora já me esqueci qual é a pergunta. Ah, já sei, da escolha das cores ser um bocadinho bizarra, talvez.
Sim, tipo, tu escolhes assim a vibe.
É a vibe é o que me apetece. Eu às vezes estou a pensar, imagina, vou começar o meu desenho e penso assim, vou desenhá-las como elas estão agora. E de alguma forma olho um bocado para vocês e tento perceber qual é a cor que me está a apetecer para este momento, esta posição, este tudo. E é assim que eu escolho. Não estou muito preocupada em criar representações mais aproximadas da realidade.
Sim, e como é que tu… já viste os teus académicos anteriores e já pensaste, tipo, nas cores que tu escolheste? Já viste, assim, alguma, tipo, emoção que tu tiveste naquele momento, uma emoção forte, tipo, uma felicidade super, quando estás mesmo contente, porque quando, por exemplo, publicaste o teu livro. Também desenhavas na altura, já foste ver esses cadernos e já pensaste assim, bolas mesmo, eu consigo ver nestes desenhos que eu estava mesmo feliz nesta altura, ou eu consigo mesmo ver neste desenho que eu estava mais triste, ou assim, já tiveste alguma coisa assim que aconteceu.
Olha, é giro que estejas a perguntar isso. Os cadernos, entretanto, já se vão acumulando. Eu vou arrumando-os num outro sítio. Mas eu vou tirando fotografias aos desenhos. Nomeadamente porque durante muito tempo partilhava essas fotografias na newsletter, que antes era semanal e que agora é mensal. E ainda o faço na newsletter mensal e também partilho. fotografias dos desenhos, alguns no Instagram. Por isso é que eu tirava fotografias. E aqui, ontem ou anteontem, estava a ver umas fotografias antigas, logo dos primeiros desenhos, e encontrei um desenho que eu tinha feito de vocês. Não sei se te lembras, em janeiro de 2021, quando eu comecei a fazer o diário gráfico, nós ficámos todos confinados em casa por causa daquela coisa maravilhosa que foi o Covid.
E eu fiz um desenho em que estavas tu e a Mana e tu tinhas assim a mão por cima dos ombros da Mana e estavam as duas a olhar para o ecrã do computador, não sei se estariam a ver talvez algum Checatubi, algum logo, não sei. Estarei a ver um programa apropriado para vocês e eu apanhei-vos ali paradinhas e fiz um desenho.
Uma coisa que quase nunca acontece, nós estarmos paradinhas.
E fiz um desenho. E eu olho para aquele desenho e lembro-me de estar a fazer o desenho, lembro-me que estávamos confinados em casa, foi um período Desafiante.
Eu, ao contrário de bastantes pessoas, eu não sou daquela pessoa que gosta de estar em casa. Portanto, para mim, também foi um grande challenge. Vocês devem estar a achar que eu devia ter adorado. Não, não adorei.
Não, eu gosto de estar em casa, mas estar em casa e não poder sair de casa foi, enfim, desafiante.
Desafiante. Pronto, e então volto a andar à tua pergunta. Eu olho para aquele desenho e lembro-me a circunstância, lembro-me do que estávamos a sentir, que estávamos todos fechados em casa, que havia essa questão sempre a parar por cima de nós, a ameaça da Covid, as aulas em casa, que foi todo um tema. E é curioso, porque ao mesmo tempo eu olho para aquele desenho
Lembro-me destas partes menos boas, mas lembro-me sobretudo das partes boas. Que era o termos aqui também por perto, o poder desenhar-vos, aquele momento em que vocês estavam as duas cúmplices uma com a outra e tu cobre assim em cima dos ombros da mana. E então, de alguma forma quase que me transporta até lá, sem a parte chata de estarmos todos fechados em casa.
Ai, eu só quero dizer uma coisa, que eu estou a adorar este podcast contigo, está a ser-me as mãos e eu já queria fazer este podcast há bastante tempo.
E eu estou a adorar ter esta participação especialíssima aqui no podcast. Acho que depois vais ter que voltar outra vez.
E não importa absolutamente nada. Eu queria dizer também que, e tal, eu e a minha mãe, Joana, nós somos muito miss Carpenters, eu mais, acho. E chamam-me muitas vezes bicho capindeiro, mas tu estás-nos a desenhar e normalmente nós também nos estamos sempre a mexer. E agora isto é mais também uma coisa de perfeccionismo. O que é que tu fazes quando acontece que nós estamos-nos a mexer e depois já não estamos na posição e já não consegues te desenhar na realidade? Ao vivo?
Olha, às vezes é frustrante para mim e é um bom exercício porque é importante eu também praticar, por um lado é importante eu praticar desenhos rápidos e apanhar-vos, vocês a mexerem e tentar apanhar. Por outro lado, é importante para trabalhar a frustração, o lidar com a frustração, a frustração do desenho não sair como eu gostaria e lidar com o fracasso. Imagina, às vezes eu brinco quando estou a desenhar os avós e quero fazer mais ou menos, quero apanhar-lhes a cara mais ou menos e que se perceba que são eles. Às vezes é difícil porque eles estão-se a mexer, então eu brinco com eles e digo-lhes que eles são modelos muito insubordinados e que, francamente, eu brinco com eles assim como se tivesse-me desenhada com eles. Convosco, eu como já vos desenho, não é todos os dias, mas quase todos os dias, há mais tempo, é mais fácil agora já apanhar as vossas expressões. Então, mesmo quando vocês se mexem, já é mais fácil apanhar as vossas expressões. Imagina que o braço está num sentido e depois tu mexes o braço e depois na outra posição. Eu comecei a desenhá-lo numa posição, então eu vou tentar acabar na posição em que estava ou então simplesmente vou desenhar o braço na nova posição. Às vezes acontece de teres três braços ou quatro braços e é porque eles estiveram a mexer e também é uma maneira de representar o movimento.
Ok, ok. Eu agora queria te fazer. Os meus… Eu lembro-me de um desenho muitas vezes. Uma vez, nas nossas férias também, eu pedi-te para me desenhares eu a fazer diferentes poses durante 20 segundos. E depois pulas todas em cima umas das outras. E fizeste com diferentes cores. Eu gosto muito de dançar, então eu fiz-te as poses de dança e eu lembro-me E esse é o meu desenho favorito que já fizeste porque eu adoro. Parece que o desenho está assim animado. O que é que tu achas destes tipos de desenho?
Olha, eu acho que há exercícios diferentes e os exercícios diferentes acabam por ter objetivos diferentes e resultados também diferentes. Nesse caso, o que estávamos a fazer eram exercícios rápidos, em que tu me fizeste poses rápidas E eu tinha 20 segundos para desenhar. Em 20 segundos não dá, por exemplo, para estar a apanhar as flexões todas do rosto. O que eu queria mesmo era apanhar a posição geral do corpo, o volume do corpo. Na altura estávamos com uma t-shirt mais larga, por exemplo, estávamos com as calças mais largas. Eu queria apanhar esse volume e essas posições que tu estavas a fazer. E em poses rápidas. A agorela tem esta questão, não é? Que leva algum tempo a secar. Portanto, eu não queria estar a virar a página porque depois ia colar o molhado. Portanto, as folhas molhadas iam colar. Então, eu decidi fazer as poses todas no mesmo aberto de página. E então usei cores diferentes para poses diferentes e estão todas sobrepostas, está tudo em cima umas coisas das outras. Essa sobreposição ajuda também a transmitir esta ideia de movimento, como eu estava a dizer à bocado do teu braço, quando o braço está assim, depois faz assado e não sei o quê e às vezes apareces com quatro braços no desenho, mas na verdade é o braço a mexer-se. É uma maneira também de representar o movimento. E pronto, esse também foi um dos meus desenhos favoritos, que eu gostei muito deste exercício. Eu gosto muito de poses rápidas, ainda por cima quando tenho modelos particularmente giretes.
Eu adoro este podcast, mas eu receio que já esteja a acabar.
Sim, olha, e o que é que achas se eu te fizer já o convite para vires outra vez falar comigo?
Adoro essa ideia, gosto mesmo muito dessa ideia.
Que bom, eu também adoro essa ideia e vou adorar conversar contigo outra vez, aliás como adorei conversar contigo agora.
Obrigada mãe, foi tão fixe.
Obrigada Alice, foi tão fixe.
Adeus e até à próxima, até para a semana.
Confissões de uma super-perfeccionista em recuperação é um podcast de Ana Isabel Ramos, designer, ilustradora, autora de livros e mentora de criatividade em airdesignstudio.com e no Instagram como @air_billy.
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