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Esta semana trago um tema que me apaixona: a mentalidade de crescimento e como a podemos exercitar recorrendo à ferramenta do diário gráfico.
Espero que desfrutem.
Confissões de uma super-perfeccionista em recuperação é um podcast de Ana Isabel Ramos, designer, ilustradora, autora de livros e mentora de criatividade em www.airdesignstudio.com e no Instagram como @air_billy.
Se não queres perder nenhum episódio, poderás subscrever a newsletter para os receberes semanalmente na tua caixa de correio.
E se algo neste episódio vibrou dentro de ti, partilha-o com as pessoas da tua vida que poderão também encontrar um eco nestas confissões. Um passo de cada vez, recuperaremos do perfeccionismo e abraçaremos a fluidez para trazermos à superfície o melhor de nós.
Dou-te as boas-vindas a mais uma confissão de uma super-perfeccionista em recuperação, um podcast sobre perfeccionismo, criatividade e empoderamento.
Nestas confissões, vou partilhar contigo os altos e baixos do meu longo caminho de recuperação do super-perfeccionismo.
Se também tu tens vontade de deixar para trás a excessiva exigência contigo própria, soltar o perfeccionismo e abraçar a criatividade que tens dentro de ti, quer te consideres uma pessoa artística, quer não, então fica aqui nas “Confissões”.
Esta semana trago um tema que me apaixona: a mentalidade de crescimento e como a podemos exercitar recorrendo à ferramenta do diário gráfico.
Para quem não sabe bem o que é um diário gráfico, normalmente é um bloco ou um caderno em que fazemos registos diários com recurso ao desenho. O que registamos é completamente livre. Há quem goste de fazer rabiscos, ou desenhos abstractos, ou criar padrões sem interrupções pelas páginas fora. Há quem goste de misturar técnicas, adicionando elementos colados ou escritos para enriquecer a experiência. E há quem goste de fazer desenhos de observação, e dentro dos desenhos de observação há quem prefira paisagens urbanas, quem prefira desenhar a natureza, quem prefira desenhar objectos, quem prefira desenhar pessoas e animais… enfim, o leque de possibilidades é praticamente infinito e todos os registos são válidos.
Eu, pessoalmente, gosto muito de desenhar pessoas, sobretudo o tronco e as caras. Noto que tenho dificuldade no comprimento dos membros inferiores, e que tenho a tendência natural de os fazer mais curtos do que deveria. E sei também que tenho a tendência de compensar essa tendência, e então desenho as pernas das pessoas, em geral, mais alongadas do que devia. Ah! É uma diversão!
Mas como é que eu sei isto? Sei isto porque desenho todos os dias desde o início de 2021, ou seja, já lá vão mais de quatro anos de desenho diário, o que significa que – pelo simples facto de já ter desenhado muitas vezes – já pude experimentar registos diferentes, e chegar a estas conclusões.
Agora que já temos uma ideia do que é o diário gráfico – e se precisarem de um guia como começar a desenhar diariamente, poderão encontrar essa informação na página de recursos do meu site – vamos então falar sobre mentalidade de crescimento.
Ai o que eu adoro este tópico! A mentalidade de crescimento é um termo dado pela psicóloga e investigadora Carol Dweck a uma atitude perante a novidade e a aprendizagem que algumas pessoas têm, e que é: eu posso não ter nascido com este talento natural, mas posso experimentar fazer algo de novo para mim e, com prática, divertir-me e até descobrir que o posso fazer bem. Ou seja, com mentalidade de crescimento, a pessoa abre-se a aprender coisas novas, mesmo que não tenha uma apetência natural – ou, pelo menos, conhecida – para algo.
No extremo oposto da mentalidade de crescimento existe a mentalidade fixa. Quem tem mentalidade fixa, acha que nem sequer vale a pena experimentar fazer algo se não fizer parte do seu leque de talentos.
Dou-vos um exemplo meu: sempre achei que não tinha especial jeito para dançar. Aliás, as poucas tentativas que tinha feito na adolescência tinham-me mostrado que não era a pessoa mais rápida a apanhar coreografias novas, e que os meus movimentos pareciam um pouco perdidos no espaço e no tempo. Daí que tenha ficado com a ideia de que “não tenho jeito para dançar”.
Apesar dessa ideia feita sobre mim, quando fui viver para a Argentina, em 2007, achei que seria um bom momento de experimentar uma aula de dança. Encontrei uma escola perto de casa, fui lá a uma quinta-feira à tarde e marquei aula experimental para a segunda-feira seguinte. Agora vocês não vão acreditar, mas isto aconteceu: nessa quinta-feira à noite fiquei doente, precisei de ser internada e operada e na segunda-feira, naturalmente, não fui à tal aula experimental.
Depois da cirurgia (aliás, das cirurgias, no plural), tive uma longuíssima recuperação e a vontade de experimentar a dança perdeu-se no meio de todas as outras coisas que tive de tratar.
Avancemos mais uns anos e cheguemos ao ponto de há uns meses atrás, em que tenho filhas que sabem coreografias – e que as querem ensinar à mãe, yay! – e o facto de precisar de me mexer sempre a seguir às refeições.
Este é o contexto perfeito para me pôr a aprender coreografias com as minhas filhas, e a divertir-me imenso – mas imenso! – a dançar com elas.
Confesso-vos: não consigo ouvir os acordes iniciais de “Criminals”, da Megan Traynor, sem imediatamente me preparar para começar a dançar! Minha nossa, e que satisfação é poder dançar, divertir-me, dançar (mais ou menos) coordenadamente e ao mesmo tempo que as minhas filhas!
E de que forma é que isto é um exemplo de mentalidade de crescimento? Ora bem, a minha cabeça achava que eu não tinha jeito para dançar e, chamada a aprender uma coreografia para dançar com as minhas filhas, eu poderia ter dito que não, porque como não tenho jeito, não valia a pena experimentar. Isto seria característico da mentalidade fixa.
Mas apesar da minha (real ou imaginada) falta de jeito para dançar, eu disse que sim, e não só consegui aprender a coreografia como me divirto imenso a dançá-la, sozinha ou com as minhas filhas. Dá-me imenso prazer mexer o corpo no espaço, usar a coreografia como ponto de partida mas ir fazendo pequenas variações nos gestos pré-definidos. É uma alegria, e é uma alegria que eu me teria negado a mim própria se tivesse dito que não.
Bem, e agora vocês podem perguntar de que maneira é que um diário gráfico nos pode ajudar a trabalhar a nossa mentalidade de crescimento?
Em primeiro lugar, é importante sabermos que nós não temos só mentalidade fixa ou só mentalidade de crescimento. Ou seja, não estamos definitivamente só de um dos lados da barricada. É mais que normal adoptarmos uma mentalidade de crescimento em relação a algo, e conservarmos uma mentalidade fixa em relação a outra parte da nossa vida. Podemos abrir-nos à possibilidade de experimentarmos um hobby novo, e mesmo assim dizermos coisas como “é assim e pronto” noutras áreas da nossa vida.
O importante é conseguirmos perceber quando estamos a cair numa mentalidade fixa e saber como podemos adoptar uma mentalidade de crescimento.
O diário gráfico entra aqui como uma ferramenta maravilhosa para se treinar essa flexibilidade de pensamento, porque para se ter um diário gráfico não é necessário saber desenhar ou ter uma apetência natural para o desenho. A única coisa que é preciso para se começar um diário gráfico é querer começar um diário gráfico. Simples, certo?
Quando nos propomos a manter um diário gráfico, propomo-nos a enfrentar desafios que poderíamos não enfrentar. Por exemplo, nas sessões de Desenhamos Juntas, fazemos exercícios com constrangimentos variados como: “no próximo exercício, vamos usar a mão não dominante”, digo eu.
Ora é claro que um exercício com a mão não dominante vai requerer mais esforço e atenção. Ora experimentem levar um copo de água à boca com a mão não dominante. Não precisam de se concentrar mais para que ele não vos bata nos dentes?
O mesmo se passa no desenho: estes desafios requerem algum esforço, alguma abertura ao desconforto, mas também abrem a porta à novidade, à aprendizagem, a ultrapassar barreiras internas e a expandir aquilo que achamos que somos capazes de fazer.
Quando nos comprometemos a fazer um desenho por dia, comprometemo-nos connosco próprias a dedicar-nos esse tempo e esse esforço e esse espaço, e a expandir aquilo que achamos que somos capazes de fazer. Ao praticarmos fazer coisas que não sabemos fazer, ou que não nos são naturais, vamos ensinando flexibilidade ao nosso cérebro, que, aos poucos, vai ganhando familiaridade com aquilo que antes lhe era desconhecido. E é assim, neste expandir gradual daquilo que sabemos fazer, que vamos praticando a mentalidade de crescimento, e que vamos, de facto, crescendo e expandindo a nossa identidade. De uma pessoa que não desenha, ou nunca desenhou, passamos a ser pessoas que desfrutam aquele tempo de desenho, desfrutam de experimentar os materiais, desfrutam da sensação de experimentar algo, sabendo que às vezes o resultado é mais do seu agrado, e outras vezes, não.
No Desenhamos Juntas, proponho alguns desafios que vamos fazer em conjunto. Enquanto desenhamos, apesar da distância, vamos comentando o que vamos sentindo, as palavras que o nosso crítico interno nos vai dizendo, as mãos que tremem mais ou que tremem menos. Gosto especialmente de propor pincel e aguarela para os nossos exercícios, pois são meios facilmente acessíveis mas que, pela sua natureza, permitem um menor grau de controlo sobre o resultado final, sobretudo se compararmos um pincel com um lápis afiado ou uma caneta calibrada, por exemplo. A verdade é que um pincel nos permite ir mais longe nos exercícios, praticar ainda mais o desapego do resultado e investir mais no momento do “durante”, no momento do processo. Um pincel dá-nos resultados diferentes conforme a pressão que exercemos sobre ele, se tem mais ou menos pigmento, se está mais ou menos molhado; se o usamos na direcção das cerdas, ou perpendicular às cerdas. E a verdade é que com a prática, com a repetição, vamos adquirindo cada vez mais facilidade a manejá-lo – e de pessoas que nunca tinham pintado com aguarela, passamos a ser pessoas que adoram pintar a aguarela, sentir a aguarela no pincel e o pincel a tocar no papel. A nossa identidade vai-se expandindo, vamos trabalhando a nossa mentalidade de crescimento, e vamos enchendo cadernos com desenhos, rabiscos, pinturas, coisas que jamais teríamos feito se não nos tivéssemos, um belo dia, decidido a começar um diário gráfico.
Antes de terminar, quero só aqui partilhar mais uma enorme vantagem – e não de menor importância, ahem! – de ter um diário gráfico: é que agora já têm uma fantástica desculpa para entrar na papelaria de artes mais próxima e ir experimentar materiais diferentes! Não sei de vocês, mas sei que eu adoro entrar nas lojas de artes. Antes raramente comprava alguma coisa. A verdade é que não tinha justificação para comprar algo sabendo que não iria usar. Agora, que desenho todos os dias e me divirto a experimentar materiais novos, gosto de aprender sobre materiais que não conheço: com dois dedos de conversa aqui e ali com a especialista que me atende, acabo por trazer (com conta, peso e medida) material novo para experimentar. Aqui há uns anos, ainda não me tinha animado muito a desenhar com cores, fui à loja de Belas-Artes e comentei isto com a senhora que me atendeu. Por um lado, desejava expandir-me do lápis e da caneta, mas ainda não estava em ponto caramelo para experimentar cores. E ela, amorosa, mostrou-me então um lápis de grafite aguarelável que me abriu todo um novo mundo de desenho, misturando o controlo do lápis com os acidentes felizes da aguarela. Foi uma alegria!
Hoje, olho para trás e vejo de que maneira a minha identidade se foi expandindo, tudo por causa de um projecto de desenho diário que comecei só porque sim e só para mim, para me dedicar cinco minutos por dia a fazer algo sem qualquer objectivo que não fosse fazer-me sentir feliz. Incríveis são estas voltas que a vida dá, verdade?
Confissões de uma super-perfeccionista em recuperação é um podcast de Ana Isabel Ramos, designer, ilustradora, autora de livros e mentora de criatividade em airdesignstudio.com e no Instagram como @air_billy.
Se não queres perder nenhum episódio, poderás subscrevê-los na tua plataforma preferida de podcasts, ou então assinarr a newsletter em airdesignstudio.com para os receberes semanalmente na tua caixa de correio.
E se algo neste episódio vibrou dentro de ti, partilha-o com as pessoas da tua vida que poderão também encontrar um eco nestas confissões. Um passo de cada vez, recuperaremos do perfeccionismo e abraçaremos a fluidez para trazermos à superfície o melhor de nós.
Esta semana trago um tema que me apaixona: a mentalidade de crescimento e como a podemos exercitar recorrendo à ferramenta do diário gráfico.
Espero que desfrutem.
Confissões de uma super-perfeccionista em recuperação é um podcast de Ana Isabel Ramos, designer, ilustradora, autora de livros e mentora de criatividade em www.airdesignstudio.com e no Instagram como @air_billy.
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E se algo neste episódio vibrou dentro de ti, partilha-o com as pessoas da tua vida que poderão também encontrar um eco nestas confissões. Um passo de cada vez, recuperaremos do perfeccionismo e abraçaremos a fluidez para trazermos à superfície o melhor de nós.
Dou-te as boas-vindas a mais uma confissão de uma super-perfeccionista em recuperação, um podcast sobre perfeccionismo, criatividade e empoderamento.
Nestas confissões, vou partilhar contigo os altos e baixos do meu longo caminho de recuperação do super-perfeccionismo.
Se também tu tens vontade de deixar para trás a excessiva exigência contigo própria, soltar o perfeccionismo e abraçar a criatividade que tens dentro de ti, quer te consideres uma pessoa artística, quer não, então fica aqui nas “Confissões”.
Esta semana trago um tema que me apaixona: a mentalidade de crescimento e como a podemos exercitar recorrendo à ferramenta do diário gráfico.
Para quem não sabe bem o que é um diário gráfico, normalmente é um bloco ou um caderno em que fazemos registos diários com recurso ao desenho. O que registamos é completamente livre. Há quem goste de fazer rabiscos, ou desenhos abstractos, ou criar padrões sem interrupções pelas páginas fora. Há quem goste de misturar técnicas, adicionando elementos colados ou escritos para enriquecer a experiência. E há quem goste de fazer desenhos de observação, e dentro dos desenhos de observação há quem prefira paisagens urbanas, quem prefira desenhar a natureza, quem prefira desenhar objectos, quem prefira desenhar pessoas e animais… enfim, o leque de possibilidades é praticamente infinito e todos os registos são válidos.
Eu, pessoalmente, gosto muito de desenhar pessoas, sobretudo o tronco e as caras. Noto que tenho dificuldade no comprimento dos membros inferiores, e que tenho a tendência natural de os fazer mais curtos do que deveria. E sei também que tenho a tendência de compensar essa tendência, e então desenho as pernas das pessoas, em geral, mais alongadas do que devia. Ah! É uma diversão!
Mas como é que eu sei isto? Sei isto porque desenho todos os dias desde o início de 2021, ou seja, já lá vão mais de quatro anos de desenho diário, o que significa que – pelo simples facto de já ter desenhado muitas vezes – já pude experimentar registos diferentes, e chegar a estas conclusões.
Agora que já temos uma ideia do que é o diário gráfico – e se precisarem de um guia como começar a desenhar diariamente, poderão encontrar essa informação na página de recursos do meu site – vamos então falar sobre mentalidade de crescimento.
Ai o que eu adoro este tópico! A mentalidade de crescimento é um termo dado pela psicóloga e investigadora Carol Dweck a uma atitude perante a novidade e a aprendizagem que algumas pessoas têm, e que é: eu posso não ter nascido com este talento natural, mas posso experimentar fazer algo de novo para mim e, com prática, divertir-me e até descobrir que o posso fazer bem. Ou seja, com mentalidade de crescimento, a pessoa abre-se a aprender coisas novas, mesmo que não tenha uma apetência natural – ou, pelo menos, conhecida – para algo.
No extremo oposto da mentalidade de crescimento existe a mentalidade fixa. Quem tem mentalidade fixa, acha que nem sequer vale a pena experimentar fazer algo se não fizer parte do seu leque de talentos.
Dou-vos um exemplo meu: sempre achei que não tinha especial jeito para dançar. Aliás, as poucas tentativas que tinha feito na adolescência tinham-me mostrado que não era a pessoa mais rápida a apanhar coreografias novas, e que os meus movimentos pareciam um pouco perdidos no espaço e no tempo. Daí que tenha ficado com a ideia de que “não tenho jeito para dançar”.
Apesar dessa ideia feita sobre mim, quando fui viver para a Argentina, em 2007, achei que seria um bom momento de experimentar uma aula de dança. Encontrei uma escola perto de casa, fui lá a uma quinta-feira à tarde e marquei aula experimental para a segunda-feira seguinte. Agora vocês não vão acreditar, mas isto aconteceu: nessa quinta-feira à noite fiquei doente, precisei de ser internada e operada e na segunda-feira, naturalmente, não fui à tal aula experimental.
Depois da cirurgia (aliás, das cirurgias, no plural), tive uma longuíssima recuperação e a vontade de experimentar a dança perdeu-se no meio de todas as outras coisas que tive de tratar.
Avancemos mais uns anos e cheguemos ao ponto de há uns meses atrás, em que tenho filhas que sabem coreografias – e que as querem ensinar à mãe, yay! – e o facto de precisar de me mexer sempre a seguir às refeições.
Este é o contexto perfeito para me pôr a aprender coreografias com as minhas filhas, e a divertir-me imenso – mas imenso! – a dançar com elas.
Confesso-vos: não consigo ouvir os acordes iniciais de “Criminals”, da Megan Traynor, sem imediatamente me preparar para começar a dançar! Minha nossa, e que satisfação é poder dançar, divertir-me, dançar (mais ou menos) coordenadamente e ao mesmo tempo que as minhas filhas!
E de que forma é que isto é um exemplo de mentalidade de crescimento? Ora bem, a minha cabeça achava que eu não tinha jeito para dançar e, chamada a aprender uma coreografia para dançar com as minhas filhas, eu poderia ter dito que não, porque como não tenho jeito, não valia a pena experimentar. Isto seria característico da mentalidade fixa.
Mas apesar da minha (real ou imaginada) falta de jeito para dançar, eu disse que sim, e não só consegui aprender a coreografia como me divirto imenso a dançá-la, sozinha ou com as minhas filhas. Dá-me imenso prazer mexer o corpo no espaço, usar a coreografia como ponto de partida mas ir fazendo pequenas variações nos gestos pré-definidos. É uma alegria, e é uma alegria que eu me teria negado a mim própria se tivesse dito que não.
Bem, e agora vocês podem perguntar de que maneira é que um diário gráfico nos pode ajudar a trabalhar a nossa mentalidade de crescimento?
Em primeiro lugar, é importante sabermos que nós não temos só mentalidade fixa ou só mentalidade de crescimento. Ou seja, não estamos definitivamente só de um dos lados da barricada. É mais que normal adoptarmos uma mentalidade de crescimento em relação a algo, e conservarmos uma mentalidade fixa em relação a outra parte da nossa vida. Podemos abrir-nos à possibilidade de experimentarmos um hobby novo, e mesmo assim dizermos coisas como “é assim e pronto” noutras áreas da nossa vida.
O importante é conseguirmos perceber quando estamos a cair numa mentalidade fixa e saber como podemos adoptar uma mentalidade de crescimento.
O diário gráfico entra aqui como uma ferramenta maravilhosa para se treinar essa flexibilidade de pensamento, porque para se ter um diário gráfico não é necessário saber desenhar ou ter uma apetência natural para o desenho. A única coisa que é preciso para se começar um diário gráfico é querer começar um diário gráfico. Simples, certo?
Quando nos propomos a manter um diário gráfico, propomo-nos a enfrentar desafios que poderíamos não enfrentar. Por exemplo, nas sessões de Desenhamos Juntas, fazemos exercícios com constrangimentos variados como: “no próximo exercício, vamos usar a mão não dominante”, digo eu.
Ora é claro que um exercício com a mão não dominante vai requerer mais esforço e atenção. Ora experimentem levar um copo de água à boca com a mão não dominante. Não precisam de se concentrar mais para que ele não vos bata nos dentes?
O mesmo se passa no desenho: estes desafios requerem algum esforço, alguma abertura ao desconforto, mas também abrem a porta à novidade, à aprendizagem, a ultrapassar barreiras internas e a expandir aquilo que achamos que somos capazes de fazer.
Quando nos comprometemos a fazer um desenho por dia, comprometemo-nos connosco próprias a dedicar-nos esse tempo e esse esforço e esse espaço, e a expandir aquilo que achamos que somos capazes de fazer. Ao praticarmos fazer coisas que não sabemos fazer, ou que não nos são naturais, vamos ensinando flexibilidade ao nosso cérebro, que, aos poucos, vai ganhando familiaridade com aquilo que antes lhe era desconhecido. E é assim, neste expandir gradual daquilo que sabemos fazer, que vamos praticando a mentalidade de crescimento, e que vamos, de facto, crescendo e expandindo a nossa identidade. De uma pessoa que não desenha, ou nunca desenhou, passamos a ser pessoas que desfrutam aquele tempo de desenho, desfrutam de experimentar os materiais, desfrutam da sensação de experimentar algo, sabendo que às vezes o resultado é mais do seu agrado, e outras vezes, não.
No Desenhamos Juntas, proponho alguns desafios que vamos fazer em conjunto. Enquanto desenhamos, apesar da distância, vamos comentando o que vamos sentindo, as palavras que o nosso crítico interno nos vai dizendo, as mãos que tremem mais ou que tremem menos. Gosto especialmente de propor pincel e aguarela para os nossos exercícios, pois são meios facilmente acessíveis mas que, pela sua natureza, permitem um menor grau de controlo sobre o resultado final, sobretudo se compararmos um pincel com um lápis afiado ou uma caneta calibrada, por exemplo. A verdade é que um pincel nos permite ir mais longe nos exercícios, praticar ainda mais o desapego do resultado e investir mais no momento do “durante”, no momento do processo. Um pincel dá-nos resultados diferentes conforme a pressão que exercemos sobre ele, se tem mais ou menos pigmento, se está mais ou menos molhado; se o usamos na direcção das cerdas, ou perpendicular às cerdas. E a verdade é que com a prática, com a repetição, vamos adquirindo cada vez mais facilidade a manejá-lo – e de pessoas que nunca tinham pintado com aguarela, passamos a ser pessoas que adoram pintar a aguarela, sentir a aguarela no pincel e o pincel a tocar no papel. A nossa identidade vai-se expandindo, vamos trabalhando a nossa mentalidade de crescimento, e vamos enchendo cadernos com desenhos, rabiscos, pinturas, coisas que jamais teríamos feito se não nos tivéssemos, um belo dia, decidido a começar um diário gráfico.
Antes de terminar, quero só aqui partilhar mais uma enorme vantagem – e não de menor importância, ahem! – de ter um diário gráfico: é que agora já têm uma fantástica desculpa para entrar na papelaria de artes mais próxima e ir experimentar materiais diferentes! Não sei de vocês, mas sei que eu adoro entrar nas lojas de artes. Antes raramente comprava alguma coisa. A verdade é que não tinha justificação para comprar algo sabendo que não iria usar. Agora, que desenho todos os dias e me divirto a experimentar materiais novos, gosto de aprender sobre materiais que não conheço: com dois dedos de conversa aqui e ali com a especialista que me atende, acabo por trazer (com conta, peso e medida) material novo para experimentar. Aqui há uns anos, ainda não me tinha animado muito a desenhar com cores, fui à loja de Belas-Artes e comentei isto com a senhora que me atendeu. Por um lado, desejava expandir-me do lápis e da caneta, mas ainda não estava em ponto caramelo para experimentar cores. E ela, amorosa, mostrou-me então um lápis de grafite aguarelável que me abriu todo um novo mundo de desenho, misturando o controlo do lápis com os acidentes felizes da aguarela. Foi uma alegria!
Hoje, olho para trás e vejo de que maneira a minha identidade se foi expandindo, tudo por causa de um projecto de desenho diário que comecei só porque sim e só para mim, para me dedicar cinco minutos por dia a fazer algo sem qualquer objectivo que não fosse fazer-me sentir feliz. Incríveis são estas voltas que a vida dá, verdade?
Confissões de uma super-perfeccionista em recuperação é um podcast de Ana Isabel Ramos, designer, ilustradora, autora de livros e mentora de criatividade em airdesignstudio.com e no Instagram como @air_billy.
Se não queres perder nenhum episódio, poderás subscrevê-los na tua plataforma preferida de podcasts, ou então assinarr a newsletter em airdesignstudio.com para os receberes semanalmente na tua caixa de correio.
E se algo neste episódio vibrou dentro de ti, partilha-o com as pessoas da tua vida que poderão também encontrar um eco nestas confissões. Um passo de cada vez, recuperaremos do perfeccionismo e abraçaremos a fluidez para trazermos à superfície o melhor de nós.