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Hoje quero falar de celebrações! Sim, celebrações, parece uma coisa tão simples mas pode ser bem… profunda, vá. Com muitas camadas. Muitas camadas, mesmo.
Espero que desfrutem.
Confissões de uma super-perfeccionista em recuperação é um podcast de Ana Isabel Ramos, designer, ilustradora, autora de livros e mentora de criatividade em www.airdesignstudio.com e no Instagram como @air_billy.
Se não queres perder nenhum episódio, poderás subscrever a newsletter para os receberes semanalmente na tua caixa de correio.
E se algo neste episódio vibrou dentro de ti, partilha-o com as pessoas da tua vida que poderão também encontrar um eco nestas confissões. Um passo de cada vez, recuperaremos do perfeccionismo e abraçaremos a fluidez para trazermos à superfície o melhor de nós.
Dou-te as boas-vindas a mais uma confissão de uma super-perfeccionista em recuperação, um podcast sobre perfeccionismo, criatividade e empoderamento.
Nestas confissões, vou partilhar contigo os altos e baixos do meu longo caminho de recuperação do super-perfeccionismo.
Se também tu tens vontade de deixar para trás a excessiva exigência contigo própria, soltar o perfeccionismo e abraçar a criatividade que tens dentro de ti, quer te consideres uma pessoa artística, quer não, então fica aqui nas “Confissões”.
Olá e bem-vindas a este episódio de “Confissões de uma super-perfeccionista em recuperação”. Hoje quero falar de celebrações! Sim, celebrações, parece uma coisa tão simples mas pode ser bem… profunda, vá. Com muitas camadas. Muitas camadas, mesmo.
O tema é tão importante que no meu programa de grupo, Conectar para Liderar, há todo um módulo dedicado a celebrar. No último módulo, fazemos uma série de rituais de celebração e de conclusão do ciclo de aprendizagem que fizemos juntas. Neste dia, temos sempre muitas coisas para celebrar, até porque – por muito estranho que possa parecer – a transformação que vivemos (as participantes, por um lado, mas eu própria também!) é enorme. Em cerca de oito semanas, desbloqueamos coisas que estavam bloqueadas, adquirimos estratégias para nos voltarmos a centrar, e criamos espaço (ou espaços) para aquilo que temos dentro de nós e que precisa de sair.
Não é pouca coisa, e celebrar tudo isto é mesmo, mesmo muito importante.
Vocês podem perguntar-se por que razão é assim tão importante celebrar as nossas conquistas, sejam elas de maior ou menor dimensão? É importante porque nós vivemos numa cultura que se foca na falha, foca-se no que falta, e temos tendência a desvalorizar o que avançámos, para nos focarmos exclusivamente no que ainda não conseguimos.
Ao fazermos isso, esquecemo-nos de olhar para trás, de vermos onde estávamos há uns meses e onde estamos agora. Desvalorizamos os avanços que fizemos, e ao fazê-lo, perdemos a noção de quanto avançámos realmente.
Se repararem, não celebrar as nossas conquistas, grandes ou pequenas, é um traço do super-perfeccionismo de que tantas de nós padecemos. Porque o perfeccionismo nos faz manter o foco no que falta, não aceita que o que avançámos já é de valor.
Imaginem a nossa vida e o nosso desenvolvimento pessoal como uma caminhada na montanha. Nós vamos avançando, passo a passo, mas mantemos o foco lá em cima, no cume, que é onde queremos chegar. Se não fizermos o exercício de, de vez em quando, olhar para trás para vermos o que já subimos, vamos estar sempre frustradas com o que nos falta. Até porque esta montanha é especial: quando chegamos a um ponto que achávamos que seria o cume, vemos logo que afinal há outro cume que se esconde atrás e só se mostra quando ali chegámos! Mas, contrariamente ao que poderíamos pensar, o aparecimento desse cume ainda mais alto não é frustrante: pelo contrário, mostra-nos que podemos estar sempre, sempre, a subir, a desenvolver-nos, a aprender enquanto formos vivas.
Esta super-perfeccionista em recuperação aqui se confessa: as celebrações são uma aprendizagem recente para mim. Não há muito tempo, era incapaz de celebrar. Aliás, era incapaz de estar presente no momento em que me superava, e tratava de o fazer desaparecer assim que lá chegasse. Dou-vos um exemplo – que até pode ser que já tenham ouvido, porque foi tão marcante para mim que o repito muitas vezes.
Comecei a correr aos meus 40 anos, depois de ter passado a década dos 30 dedicada a tentar ter bebés e, finalmente, a tê-los. Quando fiz os 40, pensei para mim que queria dedicar esta nova década a desenvolver-me aos níveis pessoal e profissional – ao mesmo tempo, claro, que também era mãe das minhas filhas.
Uma das coisas que comecei a fazer aos 40 anos foi a correr. Em miúda, até tinha corrido um bocadinho na escola, um corta-mato aqui, outro acolá, e gostei, mas não amei. Em jovem, a paixão foi-se, e em adulta, nem pensar em correr.
Mas uma nova década pediu-me algo de novo, e então comprei uns ténis e um bom soutien de corrida e lá fui eu. Comecei a treinar aos poucos, assim às apalpadelas, e a inscrever-me em corridas de 10 km, que é aquela distância que desafia quem está a começar mas ainda não requer um compromisso enorme.
E uma das barreiras mentais dos 10 km é completá-los em menos de uma hora. Correr os 10 abaixo dos 60 minutos era uma coisa que eu queria fazer mas que me parecia escapar das mãos.
Até que, vários anos mais tarde, numa corrida com um trajecto particularmente plano (o que em Lisboa é obra!), com um tempo de feição (frio, porque correr com calor, para mim, é muito desconfortável), consegui chegar à meta com o relógio a marcar os 59 minutos e qualquer coisa. Durante a corrida, notei que com o meu ritmo consegui ultrapassar a marca passos dos 6 minutos por km (esta marca passos, em teoria, leva exactamente 60 minutos a fazer a distância). E isso deu-me aquele boost de energia de que estava a precisar para ainda fazer um sprint no último km. E lá fui eu, cheguei à meta abaixo dos 60 e fiquei muito contente!
Ora bem, fiquei muito contente por, exactamente, cinco segundos, porque imediatamente pensei: “eu a fazer a festa quando há pessoas que fazem isto em trinta e poucos minutos.”
Sabem o que senti? Senti que o balão da minha alegria tinha sido furado por um alfinete que eu própria pus lá. Eu sozinha fiz tudo: fiquei contente, e logo a seguir sabotei a minha alegria. Fisicamente, senti o meu balão a perder o ar e a murchar – e tudo por minha responsabilidade. (Ia dizer: “tudo por minha culpa”, mas esse é outro trabalho que ando a fazer, que é separar responsabilidade de culpa. Quem precisa de mais culpa quando já nos sobrecarregamos com tanta?)
Nesse dia, pensei muito seriamente no belo cocó (para não dizer outra coisa) que tinha feito ali comigo mesma e a mim mesma. Pensei porque é que era incapaz de ficar um bocadinho naquele plinto da celebração e que me joguei imediatamente para baixo. Pensei porque é que era incapaz de reconhecer que tinha feito uma coisa que era importante para mim, e porque é que essa coisa que era importante, rapidamente perdeu a importância, uma vez que a atingi.
A verdade é que quando nós atingimos alguma coisa, seja ela qual for, atingimos essa coisa. O problema é pensarmos: “bem, se eu consegui, então qualquer pessoa consegue.” Esse é o veneno. Não é que as outras pessoas não possam conseguir. Mas o que é venenoso é esta ideia de que “se até eu consigo, então é fácil”. A verdade é que ficou um pouco mais fácil para mim porque me fartei de treinar, e desvalorizar isso é desvalorizar todo o empenho e investimento de tempo, energia e emoções que foi feito para chegar ali e finalmente fazer a prova em menos de 60 minutos.
Para aprender, deixem-me que vos diga: assim como consegui quebrar a barreira dos 60 minutos, também desconsegui, porque basta o percurso mudar, estar mais calor, ter uma bolha no pé, ter dor de burro, apanhar uma virose, que aquilo que consegui num dia desconsegui na semana a seguir.
Nesse dia da corrida, prometi a mim mesma que me trataria melhor do que me tratei naquele dia. Seria mais generosa e valorizaria mais os meus esforços, o meu treino, o meu empenho. E fui investigar dentro de mim porque é que me custava tanto celebrar.
Hoje falo-vos de celebrações porque quero aqui fazer uma celebração: este podcast, “Confissões de uma super-perfeccionista em recuperação”, está prestes a fazer dois meses. Bem, já contei aqui num episódio passado como já tinha o podcast todo prontinho e não havia maneira de partilhar com o mundo que ele estava acessível. Mas o primeiro episódio saiu oficialmente há oito semanas, e dentro de alguns dias completa dois meses de calendário.
E quero celebrar porque, em primeiro lugar, adoro este espaço. Adoro esta atmosfera de conversa, adoro o formato áudio, e adoro que a comunicação que fazia antes na newsletter, em formato escrito, se tenha transferido para aqui.
Quero celebrar que antes de dar forma a este podcast, já tinha sentido a sua ideia, muito difusa, no meu horizonte. E ele poderia ter ficado para sempre nesse plano, no plano das ideias giras que não se concretizam. Mas não: melhor ou pior, este podcast concretizou-se, materializou-se nos episódios que estão para trás e continuará a materializar-se nos episódios futuros, assim haja saúde para o continuar.
Quero celebrar também o espaço que este podcast veio abrir dentro da minha cabeça e também de conversa convosco, o público que está desse lado. Uma conversa sobre perfeccionismo, em que páro para reflectir sobre coisas que antes não me chamariam a atenção, e que agora chamam. Para vos dar um exemplo, assim nasceu o episódio 4 sobre o que o carro raspado me mostrou.
E quero, sobretudo, celebrar-vos a vocês, à vossa presença, às vossas partilhas. Sinto que ao publicar cada episódio abro um espaço de conversa, e que a conversa se faz convosco. Quero celebrar-vos também por participarem nessa conversa e me mostrarem que este é um espaço que fazia falta abrir.
E agora que celebrámos os primeiros dois meses de “Confissões”, o que teremos por diante? Bem, eu tenho muitos planos, a verdade é essa, mas acho que o que mais desejo é que este podcast ganhe uma vida que eu, neste momento, nem consigo imaginar. Espero que este podcast me leve mais longe e a ver coisas que agora não vejo. Espero que estejam pela frente muitos episódios que me fazem pensar, rir e, não digo que não, talvez até verter uma lagrimita. Espero um dia ter convidadas para conversas ao vivo, em que falaremos de perfeccionismo e criatividade. E espero que um dia esteja a celebrar o milhão de escutas do podcast – mas hoje celebro as primeiras 90. Espero um dia estar a celebrar o décimo aniversário deste podcast, que agora me parece o tal cume que nunca mais chega, mas hoje, hoje celebro os primeiros dois meses, estes dois meses em que parece que nada aconteceu, e no entanto já falámos sobre perfeccionismo, mentalidade de crescimento, pousio e a importância do descanso, diário gráfico, resiliência, e, claro, falámos sobre celebrações.
Hoje, celebro os primeiros dois meses e nove episódios de podcast. E para a semana, cá estaremos outra vez com o décimo episódio, de mangas arregaçadas para continuar a fazer esse trabalho, a abrir este espaço de conversa e a subir esta metafórica montanha.
Confissões de uma super-perfeccionista em recuperação é um podcast de Ana Isabel Ramos, designer, ilustradora, autora de livros e mentora de criatividade em airdesignstudio.com e no Instagram como @air_billy.
Se não queres perder nenhum episódio, poderás subscrevê-los na tua plataforma preferida de podcasts, ou então assinarr a newsletter em airdesignstudio.com para os receberes semanalmente na tua caixa de correio.
E se algo neste episódio vibrou dentro de ti, partilha-o com as pessoas da tua vida que poderão também encontrar um eco nestas confissões. Um passo de cada vez, recuperaremos do perfeccionismo e abraçaremos a fluidez para trazermos à superfície o melhor de nós.
Hoje quero falar de celebrações! Sim, celebrações, parece uma coisa tão simples mas pode ser bem… profunda, vá. Com muitas camadas. Muitas camadas, mesmo.
Espero que desfrutem.
Confissões de uma super-perfeccionista em recuperação é um podcast de Ana Isabel Ramos, designer, ilustradora, autora de livros e mentora de criatividade em www.airdesignstudio.com e no Instagram como @air_billy.
Se não queres perder nenhum episódio, poderás subscrever a newsletter para os receberes semanalmente na tua caixa de correio.
E se algo neste episódio vibrou dentro de ti, partilha-o com as pessoas da tua vida que poderão também encontrar um eco nestas confissões. Um passo de cada vez, recuperaremos do perfeccionismo e abraçaremos a fluidez para trazermos à superfície o melhor de nós.
Dou-te as boas-vindas a mais uma confissão de uma super-perfeccionista em recuperação, um podcast sobre perfeccionismo, criatividade e empoderamento.
Nestas confissões, vou partilhar contigo os altos e baixos do meu longo caminho de recuperação do super-perfeccionismo.
Se também tu tens vontade de deixar para trás a excessiva exigência contigo própria, soltar o perfeccionismo e abraçar a criatividade que tens dentro de ti, quer te consideres uma pessoa artística, quer não, então fica aqui nas “Confissões”.
Olá e bem-vindas a este episódio de “Confissões de uma super-perfeccionista em recuperação”. Hoje quero falar de celebrações! Sim, celebrações, parece uma coisa tão simples mas pode ser bem… profunda, vá. Com muitas camadas. Muitas camadas, mesmo.
O tema é tão importante que no meu programa de grupo, Conectar para Liderar, há todo um módulo dedicado a celebrar. No último módulo, fazemos uma série de rituais de celebração e de conclusão do ciclo de aprendizagem que fizemos juntas. Neste dia, temos sempre muitas coisas para celebrar, até porque – por muito estranho que possa parecer – a transformação que vivemos (as participantes, por um lado, mas eu própria também!) é enorme. Em cerca de oito semanas, desbloqueamos coisas que estavam bloqueadas, adquirimos estratégias para nos voltarmos a centrar, e criamos espaço (ou espaços) para aquilo que temos dentro de nós e que precisa de sair.
Não é pouca coisa, e celebrar tudo isto é mesmo, mesmo muito importante.
Vocês podem perguntar-se por que razão é assim tão importante celebrar as nossas conquistas, sejam elas de maior ou menor dimensão? É importante porque nós vivemos numa cultura que se foca na falha, foca-se no que falta, e temos tendência a desvalorizar o que avançámos, para nos focarmos exclusivamente no que ainda não conseguimos.
Ao fazermos isso, esquecemo-nos de olhar para trás, de vermos onde estávamos há uns meses e onde estamos agora. Desvalorizamos os avanços que fizemos, e ao fazê-lo, perdemos a noção de quanto avançámos realmente.
Se repararem, não celebrar as nossas conquistas, grandes ou pequenas, é um traço do super-perfeccionismo de que tantas de nós padecemos. Porque o perfeccionismo nos faz manter o foco no que falta, não aceita que o que avançámos já é de valor.
Imaginem a nossa vida e o nosso desenvolvimento pessoal como uma caminhada na montanha. Nós vamos avançando, passo a passo, mas mantemos o foco lá em cima, no cume, que é onde queremos chegar. Se não fizermos o exercício de, de vez em quando, olhar para trás para vermos o que já subimos, vamos estar sempre frustradas com o que nos falta. Até porque esta montanha é especial: quando chegamos a um ponto que achávamos que seria o cume, vemos logo que afinal há outro cume que se esconde atrás e só se mostra quando ali chegámos! Mas, contrariamente ao que poderíamos pensar, o aparecimento desse cume ainda mais alto não é frustrante: pelo contrário, mostra-nos que podemos estar sempre, sempre, a subir, a desenvolver-nos, a aprender enquanto formos vivas.
Esta super-perfeccionista em recuperação aqui se confessa: as celebrações são uma aprendizagem recente para mim. Não há muito tempo, era incapaz de celebrar. Aliás, era incapaz de estar presente no momento em que me superava, e tratava de o fazer desaparecer assim que lá chegasse. Dou-vos um exemplo – que até pode ser que já tenham ouvido, porque foi tão marcante para mim que o repito muitas vezes.
Comecei a correr aos meus 40 anos, depois de ter passado a década dos 30 dedicada a tentar ter bebés e, finalmente, a tê-los. Quando fiz os 40, pensei para mim que queria dedicar esta nova década a desenvolver-me aos níveis pessoal e profissional – ao mesmo tempo, claro, que também era mãe das minhas filhas.
Uma das coisas que comecei a fazer aos 40 anos foi a correr. Em miúda, até tinha corrido um bocadinho na escola, um corta-mato aqui, outro acolá, e gostei, mas não amei. Em jovem, a paixão foi-se, e em adulta, nem pensar em correr.
Mas uma nova década pediu-me algo de novo, e então comprei uns ténis e um bom soutien de corrida e lá fui eu. Comecei a treinar aos poucos, assim às apalpadelas, e a inscrever-me em corridas de 10 km, que é aquela distância que desafia quem está a começar mas ainda não requer um compromisso enorme.
E uma das barreiras mentais dos 10 km é completá-los em menos de uma hora. Correr os 10 abaixo dos 60 minutos era uma coisa que eu queria fazer mas que me parecia escapar das mãos.
Até que, vários anos mais tarde, numa corrida com um trajecto particularmente plano (o que em Lisboa é obra!), com um tempo de feição (frio, porque correr com calor, para mim, é muito desconfortável), consegui chegar à meta com o relógio a marcar os 59 minutos e qualquer coisa. Durante a corrida, notei que com o meu ritmo consegui ultrapassar a marca passos dos 6 minutos por km (esta marca passos, em teoria, leva exactamente 60 minutos a fazer a distância). E isso deu-me aquele boost de energia de que estava a precisar para ainda fazer um sprint no último km. E lá fui eu, cheguei à meta abaixo dos 60 e fiquei muito contente!
Ora bem, fiquei muito contente por, exactamente, cinco segundos, porque imediatamente pensei: “eu a fazer a festa quando há pessoas que fazem isto em trinta e poucos minutos.”
Sabem o que senti? Senti que o balão da minha alegria tinha sido furado por um alfinete que eu própria pus lá. Eu sozinha fiz tudo: fiquei contente, e logo a seguir sabotei a minha alegria. Fisicamente, senti o meu balão a perder o ar e a murchar – e tudo por minha responsabilidade. (Ia dizer: “tudo por minha culpa”, mas esse é outro trabalho que ando a fazer, que é separar responsabilidade de culpa. Quem precisa de mais culpa quando já nos sobrecarregamos com tanta?)
Nesse dia, pensei muito seriamente no belo cocó (para não dizer outra coisa) que tinha feito ali comigo mesma e a mim mesma. Pensei porque é que era incapaz de ficar um bocadinho naquele plinto da celebração e que me joguei imediatamente para baixo. Pensei porque é que era incapaz de reconhecer que tinha feito uma coisa que era importante para mim, e porque é que essa coisa que era importante, rapidamente perdeu a importância, uma vez que a atingi.
A verdade é que quando nós atingimos alguma coisa, seja ela qual for, atingimos essa coisa. O problema é pensarmos: “bem, se eu consegui, então qualquer pessoa consegue.” Esse é o veneno. Não é que as outras pessoas não possam conseguir. Mas o que é venenoso é esta ideia de que “se até eu consigo, então é fácil”. A verdade é que ficou um pouco mais fácil para mim porque me fartei de treinar, e desvalorizar isso é desvalorizar todo o empenho e investimento de tempo, energia e emoções que foi feito para chegar ali e finalmente fazer a prova em menos de 60 minutos.
Para aprender, deixem-me que vos diga: assim como consegui quebrar a barreira dos 60 minutos, também desconsegui, porque basta o percurso mudar, estar mais calor, ter uma bolha no pé, ter dor de burro, apanhar uma virose, que aquilo que consegui num dia desconsegui na semana a seguir.
Nesse dia da corrida, prometi a mim mesma que me trataria melhor do que me tratei naquele dia. Seria mais generosa e valorizaria mais os meus esforços, o meu treino, o meu empenho. E fui investigar dentro de mim porque é que me custava tanto celebrar.
Hoje falo-vos de celebrações porque quero aqui fazer uma celebração: este podcast, “Confissões de uma super-perfeccionista em recuperação”, está prestes a fazer dois meses. Bem, já contei aqui num episódio passado como já tinha o podcast todo prontinho e não havia maneira de partilhar com o mundo que ele estava acessível. Mas o primeiro episódio saiu oficialmente há oito semanas, e dentro de alguns dias completa dois meses de calendário.
E quero celebrar porque, em primeiro lugar, adoro este espaço. Adoro esta atmosfera de conversa, adoro o formato áudio, e adoro que a comunicação que fazia antes na newsletter, em formato escrito, se tenha transferido para aqui.
Quero celebrar que antes de dar forma a este podcast, já tinha sentido a sua ideia, muito difusa, no meu horizonte. E ele poderia ter ficado para sempre nesse plano, no plano das ideias giras que não se concretizam. Mas não: melhor ou pior, este podcast concretizou-se, materializou-se nos episódios que estão para trás e continuará a materializar-se nos episódios futuros, assim haja saúde para o continuar.
Quero celebrar também o espaço que este podcast veio abrir dentro da minha cabeça e também de conversa convosco, o público que está desse lado. Uma conversa sobre perfeccionismo, em que páro para reflectir sobre coisas que antes não me chamariam a atenção, e que agora chamam. Para vos dar um exemplo, assim nasceu o episódio 4 sobre o que o carro raspado me mostrou.
E quero, sobretudo, celebrar-vos a vocês, à vossa presença, às vossas partilhas. Sinto que ao publicar cada episódio abro um espaço de conversa, e que a conversa se faz convosco. Quero celebrar-vos também por participarem nessa conversa e me mostrarem que este é um espaço que fazia falta abrir.
E agora que celebrámos os primeiros dois meses de “Confissões”, o que teremos por diante? Bem, eu tenho muitos planos, a verdade é essa, mas acho que o que mais desejo é que este podcast ganhe uma vida que eu, neste momento, nem consigo imaginar. Espero que este podcast me leve mais longe e a ver coisas que agora não vejo. Espero que estejam pela frente muitos episódios que me fazem pensar, rir e, não digo que não, talvez até verter uma lagrimita. Espero um dia ter convidadas para conversas ao vivo, em que falaremos de perfeccionismo e criatividade. E espero que um dia esteja a celebrar o milhão de escutas do podcast – mas hoje celebro as primeiras 90. Espero um dia estar a celebrar o décimo aniversário deste podcast, que agora me parece o tal cume que nunca mais chega, mas hoje, hoje celebro os primeiros dois meses, estes dois meses em que parece que nada aconteceu, e no entanto já falámos sobre perfeccionismo, mentalidade de crescimento, pousio e a importância do descanso, diário gráfico, resiliência, e, claro, falámos sobre celebrações.
Hoje, celebro os primeiros dois meses e nove episódios de podcast. E para a semana, cá estaremos outra vez com o décimo episódio, de mangas arregaçadas para continuar a fazer esse trabalho, a abrir este espaço de conversa e a subir esta metafórica montanha.
Confissões de uma super-perfeccionista em recuperação é um podcast de Ana Isabel Ramos, designer, ilustradora, autora de livros e mentora de criatividade em airdesignstudio.com e no Instagram como @air_billy.
Se não queres perder nenhum episódio, poderás subscrevê-los na tua plataforma preferida de podcasts, ou então assinarr a newsletter em airdesignstudio.com para os receberes semanalmente na tua caixa de correio.
E se algo neste episódio vibrou dentro de ti, partilha-o com as pessoas da tua vida que poderão também encontrar um eco nestas confissões. Um passo de cada vez, recuperaremos do perfeccionismo e abraçaremos a fluidez para trazermos à superfície o melhor de nós.