EM GUARAPARI, NO ESPÍRITO SANTO, AS MAIORES RESERVAS DE TÓRIO DO MUNDO -
SUA HISTÓRIA É UMA LUTA POLÍTICA COM LANCES CÔMICOS E DRAMÁTICOS.
Reportagem de DARWIN BRANDÃO.
A MONAZITA E ILMENITA DO BRASIL S.A. (MIBRA) É UMA DAS DONAS DA MONAZITA
CAPIXABA. UM GRUPO PODEROSO.
GUARAPARI é uma cidadezinha praieira distante pouco mais de uma hora de
Vitória, a capital do Espírito Santo. Um município pobre e uma cidade
sem pretensões que vivem exclusivamente das rendas de sua estação de
veraneio. Muita gente não a conhece mas quase todos já ouviram falar no
valor radioativo de suas areias, formidáveis e infalíveis na cura dos
reumatismos e das moléstias da pele. Sob este aspecto — as praias para
veraneio e as areias para os doentes Guarapari tem atravessado sua
existência. Mas Guarapari é mais do que isso: é o maior reservatório de
minerais atômicos do Brasil. As areias de sua praia não são como as
areias das praias de todo o mundo: elas contêm monazitas. O que quer
dizer que contém tório, cério, lantânio. Quer dizer mais ainda: que
possui matérias indispensáveis para a produção da energia atômica.
SUA IMPORTÂNCIA
Acontece que todo mundo sabe, hoje; o que significa a energia atômica.
Sabendo-se a importância da energia atômica é fácil calcular a
importância das jazidas de Guarapari. É muito simples. Vejamos a
Inglaterra, na era da máquina a vapor, com suas reservas de carvão.
Vejamos os Estados Unidos — com o advento do motor a explosão — com suas
reservas e controle do petróleo em todo o mundo. Nós, no Brasil e,
especialmente em Guarapari, temos as maiores reservas de tório do mundo e
nosso único concorrente é a Índia. Um quilo de tório tem o valor
energético de 3 mil toneladas de carvão e 2.000 de petróleo, segundo o
Relatório da Comissão de Energia Atômica da O.N.U. Somos um país
privilegiado, com o mineral mais importante no mundo atual. Mas que não
temos sabido aproveitar, é o que se verá nesta reportagem.
HISTÓRIA
Não é demais fazer um retrospecto na exploração das areias monazíticas
de Guarapari. E o retrospecto começa em 1898 com a descoberta das
jazidas pelos irmãos Aníbal e Dioclécio Pereira Borges, nas praias da
"Areia Preta". Requereram o aforamento dos terrenos compreendidos entre
Areia Preta e Mãe Bá mas o governo, tomando conhecimento das
descobertas, abriu concorrência para a exploração. Começa aí a
comercialização das jazidas pelo Eng. Maurício Isralson (associado aos
irmãos Borges) e por um tal John Gordon.
Em 1900 foram exportadas as primeiras toneladas de areia para a
Alemanha. Daí em diante a exportação não teve mais fim, como se pode ver
pelo seguinte quadro organizado pelo Eng. Resk Frahya : E Resk Frahya
termina seu relatório, melancolicamente: "Em nossa visita, de
reconhecimento geral, feita às principais ocorrências de monazita do
Espírito Santo, constatamos, com desagradável surpresa, que nossas
reservas, se bem que importantes, são muito menores do que julgávamos.
Com as reservas devidas a uma avaliação "au sentiment" somos de opinião
que as possibilidades das jazidas conhecidas do Espírito Santo,
inclusive os rejeitos das antigas explorações, não vão além de 50.000
toneladas de monazita. Diremos mesmo que, após um estudo detalhado, não
nos surpreenderemos se o resultado final encontrado ficar aquém desta
estimativa". Realmente em outro relatório Puchain — Façanha — Carneiro,
as reservas são calculadas em apenas 30.000 toneladas.