"...Setembro é um mês curioso... De um lado, aqui no Hemisfério Sul, a expectativa da primavera, o renascer em explosões de cor e vida, natureza em profusão, prenúncio do verão... De outro, campanha de prevenção ao suicídio, questão humana, de saúde mental e pública! E assim deveria ser enfrentada...
Desde 2015, por iniciativa do Centro de Valorização da Vida, do Conselho Federal de Medicina e da Associação Brasileira de Psiquiatria, a campanha
brasileira "Setembro Amarelo" abre espaço para debates sobre o suicídio, alertando a população sobre a importância da discussão, ainda um tabu...
O mês de Setembro foi o escolhido porque, desde 2003, o dia 10 de Setembro é celebrado como Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio. A cor Amarelo
remete ao caso do jovem americano, Mike Emme... Depois de restaurar e pintar dessa cor seu sonhado Mustang 68, nele, em 1994, aos 17 anos, tira a própria
vida... No funeral seus amigos e familiares, que não o perceberam em sofrimento psíquico, distribuíram cartões com fitas amarelas e mensagens de apoio para pessoas que estivessem enfrentando desespero similar.
Para atuarmos na prevenção do suicídio, há que desmistificá-lo! Ele ronda família, trabalho, grupo de amigos, escola... Segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde) no mundo o suicídio é a terceira causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos e a sétima causa de morte de crianças entre 10 e 14 anos. Na última década os casos de suicídio no Brasil aumentaram 43% no total, entre os adolescentes o aumento foi de 81%... A cada dia 38 pessoas tiram a própria vida no Brasil, sendo que para cada caso de suicídio há até 20 tentativas frustradas...
Entendo e apoio a iniciativa "Setembro Amarelo", o que não me impede de questionar os meios e modos de trazer à luz o tema... Como fazê-lo sem diminuir nem acentuar sentimentos que costumam se fazer presentes nos quadros, como os de incapacidade e inadaptação, de falta de perspectiva, de falta de sentido e significado, de baixa estima, de tristeza excessiva e sofrimento profundo?!
Acolhendo sem julgamentos, ouvindo e buscando compreender. Rosto à rosto, humano à humano, de peito e mente abertos! Indo até o mundo do outro com
a humildade de estender a mão e solicitar ajuda e permissão para melhor enxergar e ao lado caminhar...
Acolher não é ditar lições de moral, dogmatizar preceitos, sentenciar trajetórias, impor rótulos e apenas medicalizar... Acolher é dar espaço para o
outro ser quem é e como é, para se fazer presente na gente, na família, na sociedade e na vida.
Nas partilhas dos que já pensaram ou atentaram contra a própria vida costuma ser recorrente o fato de quererem eliminar a dor. E dor não vista, Minha Gente, é dor que expande, dilata, dilacera e mata!
Resgatei uma pequena ponderação de 2022, “O Cinza dos Dias”, escrito pensando no desafio que pode ser o viver, aumentado pela perversa tirania da felicidade que no menor descuido invade nossas casas, mentes e corpos..."
O CINZA DOS DIAS - https://anaritadecalazansperine.medium.com/o-cinza-dos-dias-d37b1a4a8cb9
(Ana Rita de Calazans Perine)