“Sem uma destinação, eu nunca estou perdido” (Ikkyū Sōjun, monge budista). Nosso caminho nessa conversa começou com a pergunta de Nayuri sobre a influência de Grécia e Roma Antiga na nossa civilização, com a expectativa de que eu, o convidado – que perambulo por caminhos mais ou menos acadêmicos da Filosofia há quase vinte anos – conduzisse os ouvintes a um passeio pelo ordenado jardim britânico da Filosofia e História Antiga, ornado com as imponentes estátuas de mármore branco de importantes filósofos e pensadores como Sócrates, Heródoto, Tucídides, Platão, Aristóteles, Cícero, Sêneca, Plutarco ou Marco Aurélio. De início, demos um passo para trás e pegamos um caminho menos trilhado pelo que normalmente se espera de uma conversa sobre História Antiga. Refletindo sobre o local do início de nossa conversa, o sul de Minas Gerais, nossa posição como antípodas em relação a Europa, distante mais de dez mil quilômetros de Roma e Grécia no espaço e mais de milênios da antiguidade greco-romana no tempo, perguntamo-nos o porquê de essa ser dita “nossa tradição” e o porquê de ela determinar de modo tão forte o caminho que devemos percorrer na História e na Filosofia. No frenesi inspirado pela musa evocada nas vinhetas em grego antigo, procuramos respostas no meio de uma mata em uma direção oposta ao passeio de devoção e reverência as esculturas de mármore branco da História Antiga do senso comum. Nosso caminho passou por encontros com Bryan W. van Norden, Pedro Paulo Funari, Susane Hécate, padre Antônio Vieira, Viveiros de Castro, Eduardo Góes Neves, Norberto Luiz Guarinello, Friedrich Nietzsche, o fascista Frank Miller, Kant e o racismo, Wilhelm Reich, Ailton Krenak e Davi Kopenawa. Se chegamos a algum lugar no fim dos 95 minutos de nossa caminhada, fica a critério dos ouvintes que tiverem a paciência de nos acompanhar decidir sobre isso. Para quem gostar da trilha que fizemos e quiser explorar mais profundamente outras direções, deixamos aqui um link com o um roteiro mais detalhado das referências mencionadas explicita ou tacitamente durante essa caminhada. Todos os interessados são convidados a comentar o arquivo. Fiquem à vontade para qualquer crítica, comentário, sugestão ou observação. Espero que apreciem esse caminho errante.
Ἄειδε μοῦσα μοι φίλη, μολπῆς δ' ἐμῆς κατάρχου, αὔρη δὲ σῶν ἀπ'ἀλσέων ἐμὰς φρένας δονείτω / Aeide mousa moi phile, molpes d' emes katarkhou, aure de son ap' alseon emas phrenas doneito. / Cante, para mim, querida musa, inicie minha canção! Que a brisa de suas florestas sagradas faça meu espírito retumbar.
“O historiador não presta nenhum bom serviço quando elabora uma continuidade especiosa entre o mundo atual e o mundo que o antecedeu. Ao contrário, precisamos de uma história que nos eduque para a descontinuidade de um modo como nunca se fez antes; pois a descontinuidade, a ruptura e o caos são nosso destino. Se como disse Nietzsche, ‘temos a arte para não precisar morrer pela verdade’, temos também a verdade para escapar à sedução de um mundo que não passa de uma criação dos nossos anseios” (Hayden White)