O oitavo e último episódio da primeira temporada de Histórias Soterradas foi reservado aos personagens que não estão nos livros de história, mas que vez ou outra aparecem nas entrelinhas históricas. Se em outros espaços eles são figurantes ou condjuvantes, aqui são os personagens principais.

Nesse episódio, concentramos nos cemitérios que existiam antes, durante e depois da construção de Belo Horizonte, para tentar entender como foram feitas suas remoções e qual o destino tiveram os restos mortais das pessoas que foram sepultadas nesses locais.

Um recorte sobre como a cultura como um contraponto às sucessivas tentativas de apagamento do povo preto de Belo Horizonte.

Através da história da Guarda Congo 13 de Maio de Nossa Senhora do Rosário, contada por sua Rainha Isabel, entendemos a relação dos Reinados com a Igreja Católica e o impacto do Soterramento do Largo do Rosário nas tradições do povo preto de Belo Horizonte. Já sabemos que havia um plano, arquitetado por Dom Cabral, bispo da época, para eliminar tais ritos da igreja e a historiadora Wanessa Lott nos ajuda a contextualizar esses fatos. Apesar de leis nesse sentido ainda estarem em vigor, as Guardas e o Povo Preto resistem.

Vários documentos e pesquisas atestam a existência do Largo do Rosário no extinto Curral Del Rey. Mas, mais evidente do que a sua existência, é o projeto que levou ao seu apagamento da história com a construção de Belo Horizonte. Em sua luta para resgatar esse passado do povo preto na cidade, Padre Mauro convoca uma tríade de profissionais: o historiador, o arqueólogo e o arquiteto. Com eles, começa uma nova etapa do processo, que pode trazer à tona evidências materiais do Largo do Rosário.

Uma personalidade egocêntrica, com ideias higienistas, atitudes racistas e de uma megalomania que queria mudar até a posição do sol. Dom Cabral foi o primeiro bispo de Belo Horizonte e dedicou boa parte de sua vida a expulsar o povo preto das igrejas da capital.

125 anos após o soterramento intencional do Largo do Rosário, a placa de indicação e reconhecimento do local como patrimônio histórico imaterial da cidade de Belo Horizonte foi inaugurada. Essa é uma das etapas para que essa região seja ressignificada como um espaço de socialização e religiosidade das pessoas pretas dessa cidade.

Nesse episódio iremos nos deparar com uma história que ficou encoberta por mais de um século. Padre Mauro nos revela a existência de um rico passado do povo preto do Curral Del Rey que foi soterrado pelo projeto de construção da nova capital mineira. Uma gente que foi renegada a fantasma, sem direito à sua memória.
ERRATA: Foi dito que Padre Mauro é doutorando, mas ele na verdade é doutor.

Entrevistados nesse episódio:
Padre Mauro Luiz da Silva - Curador do Muquifu
Alberto Carvalho - Coordenador do Teatro Net
Yan Eduardo - Estudante

No dia 20 de novembro será lançado o Podcast Histórias Soterradas que fará um recorte histórico do Largo do Rosário, nome dado ao espaço em que situava a Igreja do Rosário (inaugurada em 1819) e seu cemitério (inaugurado em 1811), construídos pela Irmandade do Rosário dos Homens Pretos, no Curral Del Rey, e que foi soterrado pela construção da nova capital mineira, apagando por mais de cem a anos a memória das pessoas vivam nessa região.