Memória Capixaba de Fábio Pirajá

Itaúnas, Cidade condenada à morte (Revista A Cigarra - 1953)


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Destino trágico da localidade de Itaúnas, no Estado do Espírito Santo:
desaparecer do mapa, soterrada por gigantescos dunas — No decorrer da História registraram-se vários casos de sepultamento de edifícios ou cidades pelas montanhas de areia, em diversas portes do mundo — Situação atual em ltaúnas: um Sahara em miniatura.
Texto ele ARLINDO SILVA;
Fotos de RICHARD SASSO;
No extremo norte do Estado do Espírito Santo, a cêrca de nove quilômetros da fronteira da Bahia, existe uma cidadezinha cujo destino é o mais dramático possível: morrer aos poucos soterrada por colossais montanhas de areia, numa agonia lenta e irremediável.
Chama-se Itaúnas, e é a última localidade capixaba antes da divisa baiana. Acima de Itaúnas não há estrada de rodagem, e quem se aventurar por aqueles sertões, terá de se valer do lombo de burro para chegar à fronteira baiana.


Do ar, já conhecíamos Itaúnas, porque há três ou quatro meses atrás, viajando para o Norte num Curtiss do "Lóide Aéreo", o comandante da aeronave, nosso velho amigo Niemeyer, a certa altura aproximou-se de nossa poltrona, dizendo: — "Venha um instante até a cabina. Vou lhe mostrar um

bom assunto para reportagem". Na cabina de comando do "Curtiss",
Niemeyer apontou para um certo ponto da costa e acrescentou:
— "Está vendo aquêle imenso lençol branco de areia, lá embaixo, com urna vilazinha ao lado? São as dunas.
Essa
localidade, dentro de algum tempo estará inteirinha soterrada pela
areia. Porque você não vai lá visitá-la e fotografá-la antes que ela
morra ?" A sugestão, um tanto patética, do comandante Niemeyer ficou
marcada na nossa caderneta. Nós iríamos ver a cidade condenada morte na
primeira passagem nossa pelo Espírito Santo.
Todavia, há poucas
semanas, na câmara estadual de Vitória, um deputado da oposição ocupou a
tribuna para fazer um discurso alarmante sôbre a ameaça que paira sôbre
a pobre vila de Itaunas, e clamou contra a apatia do Govêrno, que não
tomava nenhuma providência para impedir o sepultamento da cidade, pelo
dilúvio de areia.
Pode parecer muito estranho e até mesmo
ridículo que um parlamentar oposicionista acuse o Govêrno do Estado de
não ter tenta-do, até agora, controlar um fenômeno da natureza.
Talvez
os leitores, com uni sorriso irônico nos lábios, estejam pensando que
procurar impedir o avanço das montanhas de areia sôbre a vila é o mesmo
que querer fazer o Sol parar, ou a chuva deixar de cair. Entretanto, o
deputado oposicionista está com a razão.
A ciência humana dispõe,
hoje de unia técnica eficiente e perfeitamente consolidada, para
controlar o fenômeno, ao mesmo tempo curioso e perigoso, das dunas. Por
isso, também lançamos, ao lado do deputado acusador, nossa advertência
ao govêrno capixaba: se não forem utilizados, em tempo, os recursos da
moderna Geologia para brecar a marcha inexorável das dunas, dentro de
alguns anos, a cidadezinha de Itaúnas nãos existirá mais no mapa.

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Memória Capixaba de Fábio PirajáBy Memória Capixaba