O que está acontecendo na Amazônia - o desmatamento, a grilagem, o garimpo e a crise humanitária dos povos originários - é resultado de um Brasil que vive desde sempre de costas para a região. E o Pará é uma metonímia; um recorte para se entender o melhor e o pior da Amazônia. Foi com esse olhar que o documentarista e produtor de cinema João Moreira Salles escreveu o livro "Arrabalde: em busca da Amazônia", após uma temporada de seis meses na região, em 2019. Em entrevista a Marco Antonio Soalheiro, no Mundo Político, João Salles diz que a Amazônia foi ocupada sem que os seus exploradores reconhecessem o valor da floresta, seja por europeus no século XVI ou por migrantes no século XX. E que a ausência do Estado teve grande participação na desvalorização do potencial da floresta e da inteligência ecológica dos povos originários. O documentarista alerta que um dos maiores desafios que o Estado tem pela frente é enfrentar as facções criminosas que se instalaram na região. Mas que, sobretudo, o Brasil precisa ressignificar a Amazônia, ter orgulho da maior floresta tropical do planeta como os gregos têm do Partenon ou os franceses da Catedral de Notre Dame.