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JUSTO E PERFEITO


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Ir.’. Valerio de Oliveira Mazzuoli
A expressão “Justo e Perfeito” que empregamos na liturgia maçônica é bíblica e vem utilizada pelo Livro Sagrado em importantes passagens. A primeira está no Livro de Gênesis, Capítulo 6, Versículo 9, quando refere: “Noé era um homem justo e perfeito no meio dos homens de sua geração”. A segunda consta do Livro de Jó, Capítulo 14, Versículo 4, ao dizer: “Eu sou motivo de riso para os meus amigos; eu, que invoco a Deus, e ele me responde; o justo e perfeito serve de zombaria”. A mesma significação também é encontrada – com variação de tradução, mas de idêntico sentido – no Deuteronômio, Capítulo 32, Versículo 4, quando afirma: “Deus é a verdade, e não há nele injustiça; justo e reto é”.
Na Maçonaria Operativa a expressão “Justo e Perfeito” parece encontrar fundamento no ofício empreendido nas Guildas da Idade Média, quando se aferia a perfeição da obra pela horizontalidade (com o Nível) e pela perpendicularidade (com o Prumo) dos objetos trabalhados. Tais objetos passavam por rígida fiscalização de Vigilantes que, ao final do dia, atestavam ao chefe imediato da obra (o Mestre) se tudo estava ou não “Justo e Perfeito”. É por tal razão que as joias dos cargos de 1º e 2º Vigilantes são, respectivamente, o Nível e o Prumo. De fato, a rigidez dos trabalhos empreendidos por aqueles pedreiros livres fez vir à luz a construção de catedrais e templos suntuosos por toda a Europa, repletos de detalhes e ornamentos que jamais deixaram de atrair a admiração de todos.
Ao Mestre da obra era transmitida a informação, pelos Vigilantes, de se as peças analisadas (por exemplo, as pedras trabalhadas) perfaziam os padrões de exatidão exigidos, tanto na horizontalidade (no nível) quanto na perpendicularidade (no prumo). Estando cada peça ou objeto de acordo, o labor nos canteiros de obras deveria prosseguir, porque o respectivo trabalho estava “Justo e Perfeito”. Ademais, para se evitar o ingresso de impostores e fraudadores criaram-se sinais e palavras de reconhecimento naquelas corporações profissionais, mantendo-se a coesão entre os obreiros.
Com a transição da Maçonaria de Ofício para a Maçonaria Especulativa as lições tomadas nas associações de construtores passaram a compor a mística que hoje se conhece e se estuda nas Lojas simbólicas, deixando as construções de serem reais para se tornar ilustrativas e dotadas de uma significação filosófica que está à base da maçonaria a partir de então. Daquele momento em diante, o que se visou “construir” ou “edificar” é, essencialmente, o templo interior de cada qual, com todos os percalços e dificuldades atinentes à sua perfeita concretização.
As dificuldades operacionais para a construção de um templo também se fazem presentes no que tange ao nosso templo íntimo, a exemplo da lapidação de nossa Pedra Bruta, da constância da vida no prumo das virtudes e do fortalecimento de nossas colunas íntimas. Se houve dificuldades e desafios para a edificação daquelas obras monumentais, também para a construção de nossa casa interna (nosso Eu interior) tais percalços se apresentam, sendo o desafio de vencê-los aquele posto à consideração de todos os maçons ao redor do mundo.
No R.’.E.’.A.’.A.’., estando tudo Justo e Perfeito em ambas as colunas, o Venerável Mestre invoca o auxílio do Grande Arquiteto do Universo para abrir a Loja, momento a partir do qual tudo deve ser tratado sob os influxos da moral e da razão, não sendo a nenhum Irmão permitido falar ou passar de uma para outra coluna sem obter permissão, nem ocupar-se de assuntos proibidos pelas leis maçônicas. Ao final dos trabalhos, o Orador, assim entendendo por bem, afirma que tudo transcorreu segundo os princípios e leis maçônicos e dá a sessão por “Justa e Perfeita”.
“Justo e Perfeito”, portanto, é expressão altamente significativa no mundo maçônico, especialmente pelo seu fundamento bíblico, a indicar que os trabalhos em Loja devem ser conduzidos e transcorrer segundo os princípios da justiça e da perfeição; e que o noss
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Malhete PodcastBy Luiz Sérgio F. Castro