O espírito... a luz, o amor
Iniciado em 1912, o pintor de origem judaica nascido há 135 anos na Bielorrússia deixou-nos obras-primas extraordinárias.
Marc Chagall, um dos maiores artistas do século XX, era maçom. Uma figura que juntamente com as suas raízes judaicas e os ensinamentos da Torá emerge com força em todas as suas obras, ricas em simbolismo e espiritualidade profunda e que parecem moldadas por uma força motriz, a que ele próprio chamou de Amor, que move o homem e o mundo. Nascida em 7 de julho há 135 anos em Vitebsk, Belarus, e falecida em 28 de março de 1985 em Saint-Paul-De-Vence, Moishe Segal, seu nome verdadeiro, foi iniciada em 1912 em São Petersburgo. E não é um caso que entre as suas obras-primas está também uma homenagem àquela que é seguramente a obra maçónica por excelência de Mozart, A Flauta Mágica. A sua é aliás a última cortina utilizada para a encenação do espetáculo na edição de 1967 no Metropolitan de Nova Iorque e apenas nestes dias a ser leiloada pela Bonhams, ao mesmo tempo que outra das suas obras-primas à venda na Phillips sempre em Nova Iorque. É o retrato de Le Père, executado em 1911, uma das quinze obras roubadas pelos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial, que o governo francês devolveu no início deste ano aos legítimos proprietários. A pintura fazia parte da coleção de David Cender, um fabricante de instrumentos musicais de Łódź, na Polônia. A obra, agora estimada em US$ 6 a US$ 8 milhões, foi expropriada da coleção em 1940, antes de Cender ser enviado para Auschwitz com sua família. Em 1966 a pintura foi recomprada pelo próprio Chagall, que tinha um carinho especial pela pintura, por retratar seu amado pai. Em 1988, o arquivo Chagall doou a pintura ao Musée national d'art moderni, Centre national d'art et de culture Georges-Pompidou em Paris.
Para criar o cenário mozartiano, comprado em 2007 pela Sotheby's para Gerard L. Cafesjian, magnata editorial e fundador do Cafesjian Center for the Arts na Armênia, Chagall trabalhou por três anos em contato próximo com o designer russo Volodia. O artista tinha 77 anos quando concluiu o projeto, que diz respeito à cena do final triunfal de Mozart, repleta de figuras arquetípicas, anjos trompetistas, animais fantásticos, violinos flutuantes, violoncelos e bailarinos, e caracterizada por aquele vórtice sublime que constitui o verdadeira assinatura do pintor.
Uma vida de exílio a que viveu, marcada no próprio dia em que viu a luz por um devastador pogrom cossaco, acontecimento que o levaria a repetir várias vezes "nasci morto" sob o domínio dos czares, o artista, primogênito de nove irmãos, e filho de um comerciante, teve uma infância da qual guardou doces lembranças e que muitas vezes emerge não sem nostalgia em suas obras.
Sua carreira artística começou em 1909, quando mudou-se para São Petersburgo, cidade que deixou no ano seguinte para Paris, onde ingressou na comunidade artística de Montparnasse.
"Nenhuma academia poderia ter me dado tudo o que descobri devorando as exposições de Paris, suas vitrines, seus museus [...] Como uma planta precisa de água, minha arte precisava desta cidade", dirá mais tarde. Aqui fez amigos com grandes gênios como Guillaume Apollinaire, Robert Delaunay, Fernand Léger e Eugeniusz Zak e entrou em contato com as vanguardas da época, especialmente o cubismo, em relação ao qual manteve, no entanto, certo ceticismo, atraído como era mais para o lado invisível da realidade do que a sua fisicalidade, um lado sem o qual, ele argumentou, "a verdade externa não é completa".
Pintura Sobrenatural
Nesse período pintou suas primeiras obras-primas, como À Rússia, os burros e os outros, O Santo Vetturino, Eu e a aldeia, em que o memorial está predominante.
Apollinaire definiu sua pintura como "sobrenatural", consagrando-o ao sucesso.
De regresso à sua terra natal, com a eclosão da Primeira Guerra Mundial e a revolução, da qual participou ativamente em 1917, aí permaneceu até 1923. Em Vitebsk, onde se reencontrou com a f