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NAPOLEÃO BONAPARTE E SUA FORTE INFLUÊNCIA NOS DESTINOS DA MAÇONARIA DE SEU TEMPO


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Por Hélio Pereira Leite
Quem foi Napoleão Bonaparte? acredito que todos sabem quem ele foi, o que ele fez, onde ele chegou e qual foi o fim dele numa ilha, mas com certeza poucos sabem a forte influência que ele exerceu na maçonaria francesa, em sua consolidação e em sua expansão, inclusive para o Brasil.
Segundo César Vidal em seu livro Los Masones, traduzido por Maria Alzira Brum Lemos, para Os Maçons – a sociedade secreta mais influente da história, publicado pela editora Relume Dumará, em 2005, poucos souberam extrair melhor as lições pertinentes da Revolução Francesa que um general de origem corsa chamado Napoleão Bonaparte.
"Existem especulações sobre uma possível iniciação de Napoleão na maçonaria, que teria ocorrido em 1798, na ilha de Malta e no seio de uma loja maçônica formada majoritariamente por militares. As provas não são de todo conclusivas, mas não há dúvida de que Bonaparte utilizou conscientemente a maçonaria como um instrumento político.". Senão vejamos!
Quatro dos irmãos de Napoleão – bem como seu pai – foram maçons. José, que seria rei da Espanha; de Luís, rei da Holanda; de Luciano, príncipe de Cannino; e de Jerônimo, rei de Westfália. E ainda, General Joaquin Murat, seu cunhado e seu enteado Eugenio de Beauharnais também foram maçons. Também vinte e dois entre os marechais mais importantes de Napoleão eram maçons.
Quando Napoleão tomou o poder, a maçonaria francesa encontrava-se dividida entre o Grande Oriente e o Rito Escocês. Como ele tinha o firme propósito de controlar as lojas maçônicas, conseguiu que José Bonaparte fosse eleito Grão-mestre do Grande Oriente, enquanto Luís assumiu o mesmo cargo no Rito Escocês, as quais se fundiram em 1804 tendo José como Grão-Mestre. E não satisfeito, Napoleão obrigou a aceitação de mulheres nas lojas maçônicas para conceder a Josefina o cargo de Grã-Mestra.
O sonho de Napoleão era dominar a Europa, utilizando a maçonaria. Esta lhe permitia contar com um exército que lutava "contra o papa", manter com vigor, as forças armadas sob seu controle e a política em suas mãos, além de proporcionar-lhe um instrumento de captação e propaganda favorável ao domínio francês da Europa.
Napoleão expandiu o ideário da Revolução Francesa, tendo como instrumento de apoio todas as lojas maçônicas, tendo como única exceção uma loja no Cantão de Genebra, que tinha sido invadida em 1798 por tropas francesas.
As forças invasoras de Napoleão foram criando em seu caminho lojas maçônicas, para as quais recrutavam as elites nacionais, que, desta forma lhes ficavam submetidas. Foi assim, pelas mãos dos invasores franceses que a maçonaria chegou à Espanha.
Até 1787 não existiam lojas maçônicas em Espanha devido a proibição papal, imposta pela Inquisição desde 1738. Havia notícia de maçons ali estabelecidos, em geral estrangeiros, como o pintor veneziano Felipe Fabris, processado pela Inquisição.
Os primeiros maçons espanhóis foram iniciados na França e faziam parte da frota espanhola que, aliada da francesa, atracou em Brest em 8 de setembro de 1799. Pertenciam a lojas maçônicas francesas, mas, em agosto de 1801, fundaram uma loja espanhola que recebeu o nome de A Reunião Espanhola, com vinte e seis membros, entre eles padres capelães. Loja que deixou de existir em 23 de abril de 1802 com a volta á Espanha.
A primeira Loja maçônica fundada na Península pelos invasores franceses foi a de San Sebastian, em 18 de julho de 1809. A esta se seguiram outras em Vitória, Zaragosa, Barcelona, Gerona, Figueras, Talavera de la Reina, Santõna, Santander, Salamanca, Sevilha e Madri, onde se instalou a Grande Loja Maçônica Nacional de Espanha.
Em 1813 Napoleão foi derrotado e foi exilado na ilha de Elba. Em 1º de março de 1815, Napoleão desembarcou na França depois de fugir da ilha de Elba.
Todos sabem que Napoleão foi vencido em Waterloo e seu sonho imperial ruiu definitivamente. Menos conhecido é que, por um desses paradoxos, a vitória sobre Napoleão foi conseguida por um britânico, Arthur Wellington, que tinha sido iniciado na maçonaria em 7 de dezembro de 1790 numa loja maçônica situada em Trim, condado de Meath.
A Maçonaria no Brasil
As primeiras sociedade secretas do Brasil também foram impulsionadas pelos franceses. Uma destas sociedades foi a dos Cavaleiros da Luz, criada na Bahia pelo maçom francês Dupetit-Thouars em 1791. Sua finalidade explicita era estender os postulados da Revolução Francesa no Brasil. Dupetit retornou ao seu país de origem e em 1797 foi sucedido por outro maçom francês Larcher, que tinha como missão provocar uma rebelião contra a Coroa Portuguesa.
As denominadas academias, das quais as mais relevantes estavam estabelecidas em Pernambuco tiveram papel similar, destacando-se a Academia Suassuna fundada por Francisco de Paula Cavalcanti de Albuquerque, um padre católico – Frei Caneca, e pelo chefe da Justiça da Província de Pernambuco, Antônio Carlos Ribeiro de Andrada, irmão de José Bonifácio de Andrada e Silva. Surgiu também a Academia do Paraiso, cujo nome é uma homenagem à Nossa Senhora do Paraiso, tendo com fundador o padre João Ribeiro Pessoa.
Contudo, a mais importante de todas elas foi a sociedade secreta o Areópago de Intambé, fundada pelo botânico Manoel de Arruda Câmara, que tinha por objetivo livrar o Brasil do domínio português e estabelecer uma república sob a direção de Napoleão. Porém, descobertos seus objetivos foi desarticulada, frustrando com isto os planos napoleônicos de controlar o Brasil.
No Livro Maçônico do Centenário, editado em 1922 pelo Grande Oriente do Brasil, na página 112 e seguintes, encontra-se o seguinte comentário:
"Ninguém acreditaria, por exemplo, que o gênio de Napoleão a tivesse tolerado e, mais do que isso, dado todo o apoio a sua ação, si não estivesse certo de que essa grande colaboradora do seu governo fosse um obstáculo a sua expansão. Ela foi, pois, durante o período napoleônico, uma ação moderadora das tendências absorventes do império, mas, ao mesmo tempo, um dínamo de evolução que corrigia sem excesso.
Napoleão que teve a seus pés os reis de seu tempo, que dilatou as fronteiras do seu império com um simples gesto de sua vontade e a quem as casas reinantes da Europa lhe pediam os parentes para realizarem alianças matrimoniais, não teria votado tal prestígio a maçonaria francesa de seu tempo, sem aqueles motivos de senso prático e de aproveitamento das forças úteis que foram o grande segredo de seu sucesso".
Napoleão deixou-nos um grande legado. Foi um dos criadores do Estado moderno. Não somente porque garantiu a permanência na França e a divulgação por toda a Europa da época de algumas conquistas da Revolução como, por exemplo a abolição do regime feudal e a proclamação da igualdade de todos perante a lei, mas também e sobretudo por algumas iniciativas legislativas. Entre essas, a promulgação do Código Civil (1804), de Procedimento Civil (1806), do Comércio (1807), do Procedimento Penal (1807), e Penal (1811). Impostos em todos os territórios anexados ou vassalos da França, criou um sistema valioso de garantia da propriedade, das liberdades individuais, da igualdade jurídica e tornou -se portanto, muito além das fronteiras francesas, um possante instrumento da unificação nacional.
Eis aí quem foi Napoleão, que terminou sua vida sem poder, isolado e abandonado numa pequena Ilha, que nos leva acreditar que o poder dos homens é efêmero, passageiro, com tempo de garantia, sem o devido reconhecimento daqueles que foram beneficiados, pelas ações daqueles que em um momento qualquer da vida foram líderes, tiveram fama e poder e terminaram seus dias pagando um alto preço e no ostracismo político e social.
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Malhete PodcastBy Luiz Sérgio F. Castro