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O ÁTRIO


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Por R. Christiano
Na construção dos Templos existe uma simbologia precisa, que remonta à tradição alquímica.
O verdadeiro conhecimento orienta-se para a síntese e, na arquitetura antiga, revela-se através dos planos e volumes que a caracterizam.
Na antiguidade, o conhecimento orienta suas pesquisas, seguindo a intuição e a experiência espiritual, que se expressam na demonstração do esoterismo da natureza.
A leitura arquitetônica de um Templo deve ser feita através das impressões que se experimenta ao penetrar no edifício, constituído por pisos precisos sobre os quais se erguem volumes bem definidos, que se perseguem em sucessões arquitetônicas e revelam um domínio que o nosso pensamento não consegue explicar, mas o fenômeno da Vida em sua evolução para o estado de Consciência.
No Templo podemos experimentar um alargamento da Consciência, experimentar a transmutação de uma ação vital, traduzida em uma posse contínua de assimilação ou, como dizem em termos modernos, tornar consciente um processo inconsciente.
Para nós maçons trata-se da realização de uma expressão sintética em todos os domínios da vida: espiritual, psíquico, energético. Para nós, arquitetura é uma palavra viva. A palavra cerebral diminui o espírito que a informou e a reduz a um conceito vazio.
O Templo representa o Homem cósmico e real, o seguidor da Arte, e todas as suas sequências arquitetônicas se desenvolveram nesse pensamento, ilustrando o processo preciso que ele deve seguir para levar a cabo sua "Obra".
Na linguagem alquímica, esses estágios foram representados com três cores: preto, branco e vermelho.
Essa transmutação, que se dá na interioridade, foi projetada por nossos pais nos volumes e espaços que se elevam ao Céu, para compor, em seu simbolismo conciso, a sacralidade do Templo.
Igreja e homem se fundem: toda a palingênese do indivíduo é fixada e cristalizada na pedra.
A Igreja, ou Basílica, começa com o Átrio, que conduz ao próprio Templo.
O primeiro desses nomes tem origem no grego oikos tes ecclesias, a domus ecclesiae , ou seja, a casa da comunidade, onde os Irmãos se reuniam no caminho da Arte.
A segunda deriva de oikos basileios, ou casa real, uma alusão ao princípio solar que os iluminava.
O Atrium é seguido pela área do Navate, ou seja, as colunatas internas, que representam a Fase al Bianco, ou lunar, seguida, por sua vez, pelo Sancta Sanctorum, ou seja, o presbitério, representante da Opera al Rosso.
Três sequências arquitetônicas que refletem o que acontece no Homem, que caminha para a plena realização de sua “Consciência”.
No Átrio ocorre a purificação, o início da Obra, o Trabalho de Hércules, resumido pelo nome da cor Preto.
O Nigredo é a descida ad inferos, à própria interioridade, a viagem rumo ao Hades, onde o Iniciante, como Eneias, deve ter na mão a Palma de Ouro.
Descer à própria interioridade equivale a retirar, uma a uma, todas aquelas constelações psíquicas que formam a nossa personalidade, que é a pessoa, máscara, com a qual estamos acostumados a falar e a nos movimentar no mundo exterior.
Para que a Obra dê frutos, ela deve ser feita com aquela pitada de Ouro, a Anima, que todos nós possuímos, cujo simbolismo é, justamente, a palma dourada de Enéias.
Caso contrário, há uma queda na loucura, a morte dos instintos inferiores que, trazidos à luz, impedem o Iniciado de encontrar a saída que o Iniciado deve resolver, por conta própria, por separações contínuas e sucessivas das impurezas que devem ser afaste-se totalmente.
Somente quando a Ópera estiver concluída, o Iniciado pode esperar que o corvo negro seja substituído pela pomba branca, que sai voando da Arca, para retornar com o ramo verde de oliveira.
“O Trabalho” exige muita firmeza: a coragem de observar os próprios limites sem fugir, permanecendo imóvel como Orion, firmemente plantado no chão com as pernas abertas.
Este é o significado etimológico da palavra "Atrium", que deriva do grego atreon, que por sua vez se origina do verbo atremo, "que fica parado, imóvel".
O preto também é a cor de Saturno; é simbolicamente representada por aquela glândula misteriosa que chamamos de epífise e que sabemos estar em contato direto com o sistema simpático e não com o sangue.
O Opera al nero prelúdio precisamente para o despertar desta glândula; solicitá-la significa descer ou ascender à Prima Materia.
Consciência que traz o Iniciado às margens do Grande Rio.
Na cultura paleocristã, ele se torna o Cristóvão, o Portador de Cristo, do Sol em si, que está prestes a atravessar a impetuosa correnteza para chegar à margem oposta.
Aqui aparece outro símbolo, a água, essência purificadora. Isso explica por que grandes piscinas ou pequenas banheiras foram colocadas nas entradas de lugares sagrados.
No estilo gótico, eles foram colocados dentro do Templo, mas sempre no início da Igreja, antes das grandes naves que indicavam a saída da inquieta "Lei do Devir". A mesma água com a qual será realizado o batismo.
Nas igrejas de estilo gótico, o simbolismo da aquisição bem-sucedida, pelo Iniciado, do conhecimento da matéria-prima, muitas vezes também era representado pelas rosáceas, o terceiro olho das fachadas, o olho pineal.
Estes signos representam a expressão sintética em todos os aspectos da vida, assumem que a purificação ocorreu ao longo da escala ascendente que distingue o traço do nosso sistema hormonal, sede da vida.
Os hindus o representaram com a ascensão da serpente Kundalini ao longo da espinha.
Os egípcios o colocavam na testa dos Iniciados como "o Ureus", símbolo da realização bem-sucedida do Trabalho Negro.
O Lapis Niger, a Pedra Negra, é colocado; a partir de agora marcará o início da vida sagrada do Iniciado, que se tornou, a partir deste momento, adepto, aceito!
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Malhete PodcastBy Luiz Sérgio F. Castro